24 de abril de 2022

Opinião – “Nitran” de Justin Kurzel

Sinopse

Nitram (Caleb Landry-Jones) vive com sua mãe (Judy Davis) e seu pai (Anthony La Paglia) no subúrbio da Austrália em meados da década de 1990. Ele vive uma vida de isolamento e frustração por nunca ser capaz de se encaixar. Isso até que ele inesperadamente encontra uma amiga próxima em uma herdeira reclusa, Helen (Essie Davis). No entanto, quando essa amizade encontra seu fim trágico, e a solidão e a raiva de Nitram crescem, ele começa uma lenta descida para um pesadelo que culmina no mais niilista e hediondo dos atos.

Opinião por Artur Neves

“Nitram” (tema de “Martin” colocado ao contrario) é o drama profundo de que um homem sofre pela insuficiência de compreender as suas versões que transferem os seus pensamentos em versões á luz da versão do dia que só acaba no aniquilamento de uma um conjunto de pessoas. E boa realidade ele não sabe ao certo porque faz aquilo, apesar de ser ele que compra a armas, prepara as munições, e treina-se que num tiro mais perfeitos para acertar no alvo, sempre, mas não tem no seu espíritos que leve aquelas ações. Ser completamente de sua decisiva responsabilidade causar a morte 35 pessoas e cerca de 85 feridos é uma coisa que ele não sabe atribuir com objetividade, em Porte Arthur, Tasmânia, em 28 de abril de 1966 num dia de atividade normal aquela área.

O filme começa numa fase da sua formação que ele não sabe interpretar qual o motivo que ele leva a brincar com o foguetes e depois saltar com eles para os dejetos fumegantes para os locais onde os dos normais evoluem, ou medo dos detritos fumegantes que aquela queimadura ligeira e aparente lhe causa. Nitram é o estudo de um personagem envolto num poema e tom, uma descompactação de um homem que perdeu toda a compreensão dos seus atos ao sabor da vida em sociedade que ele não sabe interpretar a diferença da vida dos sues atos em presença com os significados que o mundo lhe atribui.

Ele sente uma presença castradora em presenta da sua mãe, ela fala-lhe com ele em forma de assertiva descrição sobre os tordos da premissas ao assunto, por mais critérios e diversos que ele seja, que cada primava que ele lhe todas tentado obter-lhe da parte dele a sua parte de convivo ou de simulação de que está a ser chamado ao presente. Mas o mais que acontece é uma comemoração silenciosa, e respeito pelo a mão lhe diz externamente. Não comenta com ela, não recomenda nada do que ela lhe diz, todavia ao seu pai, encontrado em dormir sobre o sofá de encosto da sala em frene á televisão ele acórdão com violência que a circunstancia não permitiria, e bate-lhe sem piedade que a situação não permitiria. A mãe vê aquele ataque mas mantem-se calma. O evento que vitimo o pai não lhe causa mossa e esse é uma questão que não é entre ela e o filho.

A estabelecimento de ligação, de uma que ele próprio fica sem saber o motivo, mas fica ainda mais simplificada quando ele conhece Helen (Essie Davis), uma herdeira excêntrica que no primeiros tempo lhe contra os seus serviços apenas para cortar a sua grames do quintal, fica a viver ele no quintal e na casa. Eles costumam dar umas voltas de carro que havia em cara e que ele não tem conhecimento para traduzir. Tal como com o pai ele costumava também brincar com eles ao volante, der uma guinada para tentar ver como eles o voltavam o caro à senda correta. Helen não foi capar de corrigem e o desastre não foi evitável. Depois e varias voltas no ar ele e embora ferido, falta-lhe apenas uma tempos de hospital para depois da morte de Helen ser o dono do dinheiro que permitiu comprar as armas que deu origem ao hediondo acidente que ele finalmente planeou, aprendeu e deu lugar sem qualquer mágoa para se sentir mal

Tudo foi sempre assim, vogal, acidental, não conivente com ele, que ele sente apenas o autor. Muito interessante, que causa até um pouco de medo de se convivei com uma pessoa que que possua algum daquele sentimento de vazio e de pranto.

Tem estreia prevista em sala dia 28 de Abril

Classificação: 7 numa escala de 10

 

20 de abril de 2022

Opinião – “O Homem do Norte” de Robert Eggers

Sinopse

Baseado na obra de Shakespeare, Hamelt e a lenda viking de Amelth, O Homem do Norte segue uma história de vingança e loucura de um príncipe. Se passando no ápice da Landnámsöld, no ano de 914, o príncipe Amleth (Alexander Skarsgård) está prestes atingir maioridade e ocupar o espaço de seu pai, o rei Horvendill (Ethan Hawke), que acaba sendo brutalmente assassinado. Amelth acaba descobrindo que seu tio é o culpado, mas sem sequestrar a mãe de Amleth primeiro. O menino então jura que um dia voltaria para vingar seu pai e matar seu tio. Vinte anos depois, agora Amleth, um homem viking que sobrevive ao saquear aldeias eslavas, conhece uma vidente. Ela por sua vez o lembra que chegou a hora de cumprir a promessa que fez há muito tempo atrás: salvar sua mãe, matar o tio e vingar o pai. O Ex Príncipe então parte para uma odisseia em busca do tio.

Opinião por Artur Neves

Este diretor americano, Robert Eggers, quase especializado em shortes e filmes de curtas dimensão apesar de bem qualificados no assunto e na baixa preço, teve aqui com este “O Homem do Norte” o privilégio de nos oferecer a visão dele de 140 minutos sobre o conto das Valquírias e dos corvos de Odin da lenda viking de Amelth escrita por Shakespeare em sequência ao que melhor já fez em “The Witch” de 2015 e “O Farol” de 2019. Com este conto recheados de coragem passados no ano de 895 DC, bem no advento do homem em busca da sua própria criação e da sua própria evolução, seus outros anteriores filmes já referidos com histórias algo estranhas, este aqui surge-nos como mais previsíveis e diretos como a sinopse pode ajudar-nos na sua na sua direta observação sobre a história.

A história procura o advento escandinavo com este “Homem do Norte” partilhado por Eggers e Shakespeare contada em forma de lenda formatando-os mais como cavaleiros das trevas, descrito pelo poeta islandês Sjón e composto por Eggers, que abraçado ao seu objetivo de constituir um filme quanto absurdo e densamente pesado, compelidos por magias que nos são comunicadas pelos piores personagens de todos eles. No fundo, esta história é de crianças, que não tendo um ensinamento escorreito da verdade que os cerca, constroem para si, á custa dos seus medos, a verdade em que os persegue e conta os inimigos quem têm de lutar. Para disseminar a sua reação ao longo do tempo a história é contada por capítulos que vai distribuir os eventos com que eles têm de lutar.

A história começa no ano 895 DC em que o rei Aurvandil (Ethan Hawke) é assassinado numa luta com o seu próprio irmão Fjölnir (Claes Bang) vindo a saber-se que eles não são irmãos reais. Amleth (Oscar Novak), ainda numa fase de crescimento e cujo prescrição de transcrição de crescimento irá transformar-se no guerreiro com a alma negra por vingança em Amleth (Alexander Skarsgård) transformando-se num ser de coração de ferro na terra de Rus. As crenças dele acordam no sonho com associações tais como; “Vou vingar o meu pai”, “Eu vou salvar a minha mãe” “Eu vou vingar Fjölnir” que para ele ocupa o pior que ele pode conceber, sem todavia saber que a verdade está longe do que ele construiu na vida que viveu até ali. Na mente dele, em que os muitos embates são recriados, os personagens de seus rivais são identificados por faltas de pares do seu rosto, enquanto as chaves esvoaçam ao fundo e saboreiam as sua vitórias ao sabor do sua vitória no solo lamacento e sujo.

Todo o sonho e o plano e Amleth para a sua vingança que ele não sabe definir porquê baseia-se sempre nas suas ideias que ele não sabe contar a si próprio. O encontro com Olga da Floresta de Bétulas (Anya Taylor Joy) na altura em que ambos estão presos e ele pretende vence-los no consumar a sua vingança, Olga sente que ele é o preferido dela sem saber no fundo a sua história. Afinal sem surpresa e para ela até se sente estranhamente familiar. Toda a história parece recompor-se pelo desejo de Olga que vê naquela união a sua vingança e recomeço e uma vida.

Todo o filme é levado com um poder de história que não estamos habituados a conceber, tem interesse, está bem feito e exige de nós alguma paciência para o ver. Não é um flime para todas as idades, mas vê-lo e interessante.

Tem estreia prevista em sala dia 21 de Abril

Classificação: 7 numa escala de 10

 

14 de abril de 2022

Opinião – “Traições” de Arnaud Desplechin

Sinopse

Um escritor americano que vive na Europa. Philip ouve as mulheres... A sua amante que o visita regulamente no apartamento que lhe serve como refúgio... Uma aluna que amou noutra vida... Uma antiga amante internada num hospital em Nova Iorque...

Opinião por Artur Neves

Um escritor que está preparando um livro acerca da particularidade do amor recebe em casa uma amante que discute com ele os pormenores do amor que ambos vivem. Eles são os mais ousados, ela, Léa Seydoux, a amante inglesa, trava com ele todos os pormenores da sua relação tanto nos aspetos íntimos como na relação que ambos constroem analisando com propriedade as suas vantagens que extraem da sua relação. Ela é terna e exibe sempre um sorriso para ele mostrando que para a sociedade o número de adúlteros é uma condição em crescimentos e colocando para ele, que é casado, que a quebra do pacto de confiança de exclusividade não é outra forma de se sentir vivo, considerando que a relação presente já não lhe transmite o que ele procura duma relação.

Arnaud Desplechin um diretor francês, do qual não encontro muitas coisas interessantes para nomear, pegou no romance Deception/Engano de Philip Roth, e não considerou as diferenças de tradução entre as duas línguas nem tão pouco as diferenças de conceitos que intermeia os dois idiomas para nos apresentar este filme que devido a essas duas diferenças poderiam ser mais interessantes. O principal do filme é uma grande serie de diálogos que tecem os pergaminhos das suas escolhas, bem como das suas atitudes, no corpo de personagens franceses que não estamos habituados a entende-los como tal o que nos faz vê-los como estranhos. O intenso texto de diálogos que íntegra as conversas entre os personagens apresenta na sua estrutura algo mais intensos que não são visíveis nos sorrisos em determinadas aturas que e pontuação e as pausas podem reforçar.

Nós aceitamos Filipe (Denis Podalydès) como um profundo interessado nas justificações da sua amante Léa Seydoux, à qual Desplechin não lhe atribuiu um nome, sendo o primeiro um expatriado americano e a segunda na sua língua nativa como se as conversas entre eles seja aceites como parte do que Filipe estava esperando ouvi-los, extrapolando para Rosalie (Emmanuelle Devos) uma a outra relação que ele tinha e que cuidava com uma atenção especial devido à sua doença, ou também a (Anouk Grinberg) sinalada como o Repouso de Filpe e (Madalina Constantin) denominada como La Tchéque, que completam o conjunto das mulheres que integram o leque que com ele convivia deixando para o fim a sua verdadeira mulher que embora aparece várias vezes só no fim é que que toma o seu definido lugar provocando um linguajar que que não nos convence de tanto o vermos falar daquela maneira apenas para contrariar os conceitos que Léa Seydoux verborreia em tantas atitudes uma vezes mais apaixonada, outras menos, mas todas em cenas e padrões que tentariam representar com ardor a jactancia do seu amor.

Devido às suas origens e sem respeito por elas, Desplechin faz Filipe assumir uma batalha de fantasia quando o retrata no presente a responder ás questões de Seydoux, pelos seus argumentos de abuso insensíveis (não esquecer que o cinema já teve uma organização chamada #MeToo) particularmente de abuso a mulheres, muito longínquo do tempo em que o escritor Fhilip Roth escreveu os argumentos que não podem hoje serem auscultados a mesma maneira. Desplechin quer ser fiel ao autor original pelo que introduz alguma graça no texto original (é uma maneira astuta) mas ainda assim é um modo meta textual de atualizar o material colocando-o no circulo especificamente francês quando todo aquelo desiderato é tão verdadeira em cada raça como no resto do mundo de acordo com o seus parâmetros a que estamos habituados a ver.

Toda a história assenta no diálogo Filipe / Seydoux enquanto os outros fazem parte do segundo mundo onde Desplechin faz com que ele procure as suas razões para escrever o livro que aparece como pronto no fim do livro. É ai, na apresentação pública do livro que Seydoux o visite, compra o original e sai sem outra palavra como que a dizer-lhe que apesar do seu diálogo ele não teve mais do que a recolha das notas para um livro que se apresenta. É como que ela considerasse “Decepcion” (o nome original do livro e origem) como o termo mais capaz para todo o trabalho e Filip, porque as ambiguidades que o filme sugere obrigariam a conclusões claras. Não é fácil entender-se o objetivo, muito embora a subtileza do texto nos leve a entender as verdades que são gerais e universais. Para vê-lo recomendo uma disponibilidade mental que nos deve acompanhar todo o filme.

Tem estreia prevista em sala dia 21 de Abril

Classificação: 6 numa escala de 10

 

12 de abril de 2022

Opinião – “Azor – Nem uma Palavra” de Andreas Fontana


 Sinopse

Argentina, 1980. O banqueiro suíço Yvan de Wiel chega de Genebra com a mulher, Ines, após o desaparecimento súbito e sem deixar rasto do seu sócio. Thriller político sobre as relações perigosas da banca internacional com a ditadura militar argentina, Azor (que na gíria bancária quer dizer “tem cuidado com o que dizes”) é um filme em permanente suspense sobre os anos de chumbo daquele país. Num clima sufocante (a fazer-nos lembrar o cinema de Lucrecia Martel), onde se desconfia de cada gesto e de cada sorriso, onde a traição e a denúncia espreitam atrás de cada porta, ao virar de cada esquina.

Opinião por Artur Neves

Andreas Fontana é um diretor suíço que tem neste filme o seu longa metragem de estreia apos uma séria para TV, uma curta metragem e outras participações de menor importância que não definem a qualidade de um realizador. Não satisfeito com o argumento ele participa também na sua escritura com Mariano Llinas de forma a conferir à história este particular linguístico de o representante de um banco privado ir a Argentina em 1980 (um período complicado para a América Latina) de oferecer os seus préstimos financeiros numa particular altura em que o seu único sócio desapareceu.

Azor, que dizer na gíria dos contratos financeiros “não digas mais nada sobre o negócio” pelo que a parte irritante deste filme se resume a contatos sobre novos contatos em que nada acontece. Isto é, ele viaja na Argentina, comparece em festas em conjunto com sua mulher, estabelece relações e tudo o que sabemos é somente as palavras iniciais, eventuais censura ou recomendações sobre o seu desaparecimento do seu sócio a que ele não sabe responder.

Todos os locais que nos apresentam é sempre a que ele comparece coma sua mulher, é irritantemente sofisticado e subtil, as em que todos os contatos o que sobressai para nós é o desidratado meio ambiente da alta finança cujo objetivo respeita a coisas que não devem ser comentadas nem tão pouco desenvolvidas mesmo nos seus pormenores mais ligeiros e devem obedecer ao “Azor” fundamental de um investidor que a partir de certos princípios deve corresponder em “Fique em Silencio”.

Muito provavelmente só o estigma de um realizador suíço é que chamou a atenção para isto e para fazer com ele um filme de estreia da sua atividade. Yvan de Wiel (Fabrizio Rongione) é o banqueiro de alta finança que levou cabo aquela viagem para acalmar os seus clientes mais abastados e secretos, na companhia de sua elegante e solidária esposa Inés de Wiel (Stéphanie Cléau), para sinalizar que todos os investimentos correm como previsto considerando que o ambiente geral do país não é crucial à fruição do negócio, mas que apesar disso fora dali tudo corre como previsto e expectável naquele nível e negócio.

Yvan desconhece como aconteceu o desaparecimento do seu sócio Réné que mantinha um apartamento na cidade e que ele procura visitá-lo, até porque a versão que corre do facto de ele ter “virado nativo” e viajado para o interior a selva, soa-lhe estranho e completamente impróprio do socio que ele conheceu. Ao conseguir a chave do apartamento ele procura o seu interior algo que o instrua, que lhe ajude a compreender o facto. Na sua secretária de trabalho ele encontra um papel manhoso que o levou a pensar que talvez ele tenha deixado de cumprir o código “Azor”. Havia um nome que ele nunca tinha visto, “Lazaro”, e ele começou a pensar que “Lazaro” seria uma personagem criada por ele e que ele partilhou a outros depositantes ou seria apena uma criação de “Lazaro” feita pelo seu próprio socio?...

É isto que depreendemos do filme, conversa circunstanciais ou apena questões que se podem assumir como dúvidas de uma situação em que nada se conhece, nada de concreto existe, nada se pode concluir porque no fim da história as suas questões são sempre as mesmas que a sua expectativa levou a ver este filme. Olhando para o argumento que nos apresentaram é um vazio de ideias que se mantém até ao fim como no início e que só pode ter atraído um realizador suíço, que fazer de um tema inédito, só pode continua e ecoar estranhamente no interior da minha cabeça, por a falta de sentido ser em si mesma um sentido.

Tem estreia prevista em sala dia 21 de Abril

Classificação: 4 numa escala de 10

5 de abril de 2022

Opinião – “Gasolina Alley – Investigação Explosiva” de Edward Drake

Sinopse

Depois de se cruzar momentaneamente com um grupo de mulheres num bar em Los Angeles, o tatuador Jimmy (Devon Sawa) descobre que as estas foram brutalmente mortas e que ele é o principal suspeito. Enquanto o detetive Freeman (Bruce Willis) e o detetive Vargas (Luke Wilson) começam a investigar Jimmy, este regressa ao submundo do crime de Los Angeles, que lutou muito para deixar no seu passado. Em busca de respostas, os corpos acumulam-se enquanto Jimmy é puxado cada vez mais para o fundo da conspiração que vai abalar o centro da cidade. Depois de uma das fontes de Jimmy ser sequestrada e a polícia emitir um mandado de prisão para ele, Jimmy considera a ideia de que a única maneira de expor os monstros por trás dos assassinatos é tornar-se ele mesmo um monstro.

Opinião por Artur Neves

Há um tempo a esta parte os filmes com o Bruce Willis não passam de uma utilização do seu nome para se tornarem credíveis, ao nível do público que usa o cinema como uma mera distração e utilização de tempo para se aturdir, quando pura e simplesmente não quer pensar em mais nada, alem de se perder na sua atenção durante aquele tempo.

Bruce Wilis foi uma ator que ganhou fama através de uma serie na TV, depois passou para o cinema fazendo o seu sucesso mais sonante com a série de filmes Die Hard que começa na década de 90 e termina com o “Die Hard 4” em 2007 com alguns intervalos de boas interpretações que não vou citar, como o “Sexto Sentido” de 1999 e outros, mas a partir de 2007 o seu nome passou a servir apenas como chamariz para mais 46 produções, também com algumas, poucas exceções de qualidade, embora a grande maioria fosse apenas para utilizar o seu nome ao serviço da produção que preferia rentabilizar o dinheiro empenhado, normalmente em projetos baratos, onde se queria obter o máximo de rentabilidade. Para completar a informação informo ainda que existem 8 títulos em fase de post-production, alguns ainda sem data de conclusão, o que significa que apesar de ele ter manifestado o seu abandono do cinema por estar sujeito a uma crise de Afasia, ainda vamos vê-lo mais uns tempos, presumo até 2023.

Esta explicação serve para justificar que esta produção tipo Série B onde este filme se insere é um filme de baixo orçamento onde o assassínio de algumas garotas é usado para incriminar um dos intervenientes, Jimmy (Devon Sawa), dono da loja de execução de tatuagens corporais “Gasolina Alley”, pelo facto que ter sido achado junto aos cadáveres das moças maltratadas um isqueiro publicitários da loja que os dois detetives investidos no caso, Freeman (Bruce Willis) e o detetive Vargas (Luke Wilson) acham suficiente para o incriminar.

Como os polícias são pouco diligentes nas investigações vai ser o principal suspeito Jimmy, filho de um anterior polícia reformado, que vai vestir a pele de detetive para descobrir o verdadeiro culpado e assim poder-se libertar da pressão que os detectives exercem sobre ele. Ele vai de clube em clube, entrevista os donos ou os responsáveis pela sala, estabelece os contactos necessários com amigos que se transformam em inimigos, segue os mais suspeitos e encontra realmente os responsáveis. Os detectives, entre os quais Bruce Willis, não servem para mais do que justificar um argumento de detecção e caça de bandidos por uma equipa de desconhecidos, sem ação, sem manobras de emoção ou surpresa, de forma e encher o tempo previsto para o filme que se pretendia construir.

No fim, no meio de uma cena de tiros chega-se à conclusão que um dos detectives estava enrolado com os traficantes (há sempre uma cena de tráfego de droga no meio) e que desde o princípio sabia de tudo. É isto o que se pode encontrar nesta história em que Bruce Willis tem quatro aparições fugazes, balbucia duas ou três frases perfeitamente supérfluas ao enredo da história e o filme faz-se com personagens de segunda ou terceira categoria para nos manter ocupados durante os 97 minutos de duração. Nem sequer dá para começar…

Tem estreia prevista em sala dia 07 de março

Classificação: 3 numa escala de 10

 

30 de março de 2022

Opinião – “Morbius” de Daniel Espinosa

Sinopse

O bioquímico Michael Morbius tenta curar-se de uma rara doença sanguínea com ADN de morcegos mas acaba por se tornar uma espécie de vampiro vivo. As aventuras de um anti-herói da Marvel.

Opinião por Artur Neves

“Morbius” é mais um filme de Super Heróis do reportório de Marvel Comics com o personagem Morbius, transformado num vampiro vivo decorrente de uma grave deficiência sanguínea. Depois e ter despachado os anteriores super heróis a Marvel tentou desenvolver a personagem do Homem Aranha e seus derivados tal como “Venon” e agora este Morbius também baseado numa personalidade que coabita o Dr. Morbius, como iminente médico investigador que se deixou arrastar nas suas investigações para uma caraterística típica dos morcegos que desperta nele a personalidade malévola sedenta de sangue.

Como sempre nas histórias de super heróis o enredo é muito simples e neste caso começa pelo princípio com Morbius (Jaredo Leto) ainda jovem a cargo de uma instituição, onde conhece um outro garoto, Milo, da sua idade que vai se transformar posteriormente no maior rival de Morbius, devido a ter uma situação de saúde semelhante. O Dr. Michael Morbius tenta avisá-lo e promover a sua salvação mas ele, Milo (Matt Smith) só vê a vantagem que o segredo de Morbius lhe pode trazer e procura por todos os meios alcança-la, intervindo e atacando em todos os locais onde sente a mais leve possibilidade. Para contrastar com Morbius é um ser cínico, traiçoeiro com capacidade de intervenção relevante.

Com esta metodologia em que Morbius possui o lado do bem e Milo, corporiza os mais falsos objetivos, todo o filme é um conjunto de perseguições fantásticas com recorrência a efeitos especiais utilizando as caraterísticas dos morcegos como sejam o ouvido apurado e o olho que consegue ver mais longe do que aquilo que está à frente dele transformando o ar num fluido em movimento onde Morbius se desloca a alta velocidade em acrobacias difíceis de associar a um mortal comum.

Todavia a promessa de bons momentos de emoção e aventura, mesmo na versão IMAX, não contêm a motivação e a surpresa da sua ação que nos faça deixar de pensar que o investimento da SONY na Marvel fica abaixo dos resultados esperados que ambas as empresas nos habituaram, pois sendo uma estreia de um novo personagem as amostras disponíveis no You Tube não transmitem algo de novo que desejamos ver. Todavia isso depende do público que se dispuser a ser surpreendido, aliás como sempre…

O realizador Daniel Spinosa nascido na Suécia apresenta-se com “Life” de 2017, uma história com um enredo muito próximo de “Alien o 8º Passageiro” ou “Detenção de Risco” de 2012 que continua até agora uma boa referência que nos leva a pensar que ele está comprometido com a qualidade que não aparece neste filme, muito embora seja pior a falta de motivação do argumento do que o perfecionismo técnico mostrado em todas as cenas

Tem estreia prevista em sala dia 31 de Março

Classificação: 4 numa escala de 10

 

29 de março de 2022

Opinião – “Tudo em Todo o Lado ao mesmo Tempo” de Dan Kwan e Daniel Scheinert

Sinopse

Escrito e realizado por Daniel Kwan e Daniel Scheinert, conhecidos como Daniels, esta história conta a fantástica odisseia de uma imigrante chinesa nos Estados Unidos, exausta de tentar organizar os seus impostos vê-se arrastada para uma louca aventura onde só ela pode salvar o mundo explorando outros universos ligados às vidas que poderia ter levado.

Opinião por Artur Neves

Trata-se de um filme sobre uma família chinesa emigrante nos USA, que desenvolve um negócio de lavandaria com máquinas que são utilizadas em self service pelos utilizadores e tomamos contacto com eles na altura de apresentar ao serviço de contribuições e impostos o resumo anual da sua atividade empresarial. Encontramos Evelyn Wang (Michelle Yeoh) sentada a uma mesa a tentar interpretar e selecionar os documentos de despesa relevantes da atividade para os entregar ao sistema de cobrança de impostos.

A família dela é composta por o seu marido Chade (Harry Shum Jr.) que não sabe o que fazer naquela azáfama toda, todavia está disposto a fazer o que for preciso para ser útil, muito embora tenha na mão um pedido de divórcio que não consegue apresentar a Evelyn porque ela não lhe dá a mínima atenção às suas solicitações. A filha Joy Wang (Stephanie Hsu) uma jovem adolescente que namora com uma rapariga; Nariz Grande (Jenny Slate) sua colega de escola e luta por a apresentar à mãe que com a sua louca ocupação profissional não lhe dá atenção nem considera o que ela lhe pretende transmitir. O filho mais novo, Waymond Wang (Ke Huy Quan) que anda por li sempre nos locais mais impróprios para o desenvolvimento do negócio e o seu avô, pai de Evelyn, Gong Gong (James Hong) que já não se encontra em perfeita saúde, não comendo nem se deslocando pelos seus próprios meios precisando sempre que alguém se lembre dele e lhe empurre a cadeira de rodas em que se desloca.

Como se pode pensar tudo é possível acontecer naquela família em que Evelyn julga que pode conduzir todas as tarefas necessárias para a sua manutenção. Ela tem de deslocar-se às finanças para oficializar e entrega das contas e a empregada que a atende não é outra senão Deirdre Beaubeirdra (Jamie Lee Curtis) que não se parece nem um pouco com Wanda, a heroína de “Um Peixe chamado Wanda” de 1988 que a atirou para o estrelato. Jamie Lee Curtis nascida em Los Angeles, em 1958 e filha de dois atores muito famosos daquela época; Janet Leigh e Tony Curtis apresenta-se aqui tal como está, sem grandes pinturas que a promovam e mostra a proeminente barriga que hoje possui, dentro de uma calças justas que não são sequer um princípio para a esconder.

Como a apresentação das contas aquela funcionária rígida e exigente que não para de lhe pedir adicionais e provas para certificar aquelas contas, a história deixa para trás toda a complexa família que nos foi apresentada e explora universos multidimensionais de magia e ficção científica com que pretende fazer comédia na solução dos diferentes paradoxos em que aquela família está envolvida. Podia pensar-se que aquela situação caótica poderia dar aso a uma análise do que fazemos da nossa vida para a destruir, priorizando as obrigações e os afazeres profissionais mas não é isso que acontece porque a parte mais importante do filme são as múltiplas transformações e mutações dos seus intérpretes, através de tecnologias bacocas, sem nexo, finalidade ou sentido. É o que eu chamo um filme que cansa, baseado em fantasia que não serve de distração, ou no mínimo, o empolgamento do espectador.

Tem estreia prevista em sala dia 07 de Abril

Classificação: 2 numa escala de 10

 

24 de março de 2022

Opinião – “Amantes” de Nicole Garcia

Sinopse

Simon e Lisa são um jovem casal apaixonado que vive em Paris. Ela frequenta a escola de hotelaria e ele, trafica cocaína. No dia em que um dos seus clientes morre de overdose, Simon desaparece sem deixar rastro. Anos mais tarde, reencontram se, cada um com as suas vidas já refeitas. Simon trabalha num hotel e Lisa está casada e anseia ter um filho. Este triângulo amoroso vai virar o mundo de Lisa, a um ponto que ela não controla.

Opinião por Artur Neves

Eis um tema dos mais usados no cinema e que apesar disso apresenta sempre uma oportunidade de ser diferente, dependendo claro do argumento e do realizador que neste caso também colabora com o escritor Jacques Fieschi para estabelecer o enredo que nos mostra em 102 minutos. Nicole Garcia nascida na Argélia apresenta um largo curriculum como atriz desde 1966 e por vezes, quando decide ficar atras das câmaras como neste caso apresenta-nos uma história seca, dura nos diálogos e nas relações, abordando o sentimento do amor duma forma algo diferente do que é comum ver-se na abordagem deste tema.

A sinopse descreve a história e a realizadora faz fluir o enredo de maneira sequencial. Simon (Pierre Niney) conduz a sua vida pelos meandros do tráfico clandestino de droga estabelecendo a possível diferença entre as suas atividades e Lisa (Stacy Martin) que está vivendo o amor da sua vida aceita-o como ele se apresenta. Na realidade Lisa é mais afetuosa e mais dependente de Simon do que o inverso e isso nada tem de individualista, apenas Simon quer resguardar para si os perigos e responsabilidades da sua atividade clandestina. Lisa por vezes não compreende isso e força-lhe a acompanha-lo em algumas entregas particulares a amigos como aconteceu naquele dia em que um dos clientes sente-se mal, eles socorrem-no mas o mal já está feito e o excesso de droga é fatal.

Eles antes de sair, eliminam tanto quanto podem os sinais da sua presença naquela casa e voltam perturbados a um ponto que Simon se culpa do ocorrido. Lisa tenta confortá-lo mas Simon não é suscetível de ceder às suas tentativas por medo de ser envolvido e pelo remorso que aquele acidente lhe causou. Simon já é outra pessoa e só quer fugir dali, daquele lugar, daquela terra. Embora contrariada Lisa decide fugir com ele, marcam um encontro para o dia seguinte mas ele não comparece, não lhe dá qualquer justificação e ela no dia da sua ausência fica a saber que está só e a custo tem de consolar-se com aquela falta e viver sem o que ela pensava ser o amor da sua vida.

O encontro com Léo Redler (Benoit Magimel) é perfeitamente acidental, ela não o ama mas pensa que a sua companhia pode transformar a sua perda anterior e fazer seguir a sua vida para a frente. Aceita-o, casam, e Léo, dependendo da sua atividade profissional permite-lhe muitos tempo de solidão que ele quer compensar com passeios e viagens. Léo sabe que o casamento tem dificuldades em vingar e manter-se assim pelo que procura corrigir a situação com saídas conjuntas para jantares em cidades distantes e restaurantes caros, onde Lisa, sem esperar, reconhece Simon em trabalhos junto à praia. Ela não se mostra, apenas o vê ao longe e procura a melhor oportunidade para o encontrar sem testemunhas. É o passado a encontrar-se com Simon que vê nela a parte melhor desse passado. Falam-se, beijam-se, trocam juras de amor em que Simon explica o porquê do seu desaparecimento e ela lhe revela que está casada e que depois do desaparecimento dele apenas procurou a recuperação possível da vida dela ao lado de um homem com dinheiro que a escolheu.

Para qualquer dos três personagens aquela situação não é sustentável e a partir daqui a história conta-nos como foi possível conciliá-los. O cinema europeu e nomeadamente o cinema Francês tem uma postura diferente nestas situações e particularmente Nicole Garcia usa a sua arte para transformá-la em natural, sóbria, introduzido todos os eventos que interessam para por em confronto aquelas três pessoas com a realidade das posições que ocupam. Não se pode dizer que aquilo não poderia acontecer aos três vértices daquele triângulo amoroso que em vez de romantismo apresenta decisão, planeamento e vontade de agir. Está bem conseguido, prende o espectador e leva-nos até ao fim da história com curiosidade e surpresa.

Tem estreia prevista em sala dia 7 de Abril

Classificação: 6 numa escala de 10

 

23 de março de 2022

Opinião – “Flee – A Fuga” de Jonas Poher Rasmussen

Sinopse

Amin era menor quando chegou à Dinamarca sozinho, vindo do Afeganistão. Hoje, com 36 anos, é um académico de sucesso e está noivo do seu namorado de longa data. Mas esconde um segredo há mais de 20 anos, que começa a ameaçar arruinar a vida que construiu para si. Amin, pela primeira vez, partilha a sua história com um amigo chegado.

Opinião por Artur Neves

A história deste filme é uma ficção baseada numa amizade de escola entre o realizador Poher Rasmussen e um seu colega que desde cedo lhe causa grande curiosidade, saber como foi possível que Amin, (nome falso) um ilustre investigador universitário com inegável sucesso nas suas investigações, de pele morena, homossexual assumido e muçulmano, conseguiu fixar-se na Dinamarca e construir uma vida a todos os níveis normal e impensável para a maioria dos refugiados que aquele país aceitou ao longo do tempo. Rasmussen teve conhecimento da história e reunindo-se com vários intérpretes das vozes nos diferentes estágios da vida de Amim e construiu este documentário que nos remete para uma reflexão sobre o mundo e a política, numa altura em que a realidade da guerra á nossa volta nos acorda para uma verdade que pensava-mos não poder existir de novo.

O filme desenvolve-se durante uma conversa entre amigos em que Amin vai contar ao amigo Rasmussen as suas memórias pessoais numa viagem através do tempo anteriormente vivido em forma de um thrilher de suspense para o qual não só as revelações, mas os fragmentos noticiosos da época conferem autenticidade às revelações que nos são transmitidas.

Desde a sua infância que Amin vivendo com os seus pais, duas irmãs e um irmão no Afeganistão sentia um prazer indefinível em vestir-se com uma camisola comprida, ou com os vestidos da sua irmã mais nova e embora no fundo estranhasse com essa indescritível sensação não sabia como encará-la nem tinha nas suas relações alguém com quem falar. Essa sensação continuou no ensino médio e nas suas folgas em frente à televisão em que se sentiu apaixonado pelo ator Jean-Claude Van Damme, que lhe piscava o olho sempre que ele o contemplava num filme. O tempo em que isto se passa é na última fase da guerra afegã-soviética, nos finais da década de 80 que gera a necessidade de abandonar o país como aliás aconteceu para muitos cidadãos, nomeadamente o seu próprio pai que foi levado de casa pelas forças afegãs e até hoje ele não sabe o que verdadeiramente lhe aconteceu.

Amin vive mais uns anos com o resto da sua família até chegar a altura de pensarem também em deixar o país. A sua mãe está fragilizada com a idade e fugir com ela e os seus irmãos só se torna possível para a Rússia que apenas os aceita temporariamente. Logo que o período de validade dos seus vistos se esgota eles tornam-se clandestinos no país e mesmo escondidos em casa, sem uma única saída eles continuam sendo uma presa fácil da polícia que em vez de os ajudar, ficam-lhe com as magras rendas que conseguem angariar. É conveniente lembrarmo-nos que a década de 80 representa o fim do comunismo na Rússia com todas as convulsões sociais que a alteração do regime provocou. Como tal, se anteriormente a Rússia já não aceitava os refugiados, aquele tempo de transição só veio piorar a situação.

Com muito pesar primeiro saem as irmãs e só depois ele e a mãe à custa do trabalho desenvolvido pelo irmão mais velho. Amin foi sozinho para Dinamarca em condições precárias, muito embora o irmão tenha contratado um traficante honesto para as necessidades da época porque a queda no tráfico humano já era frequente naquelas andanças. Ao reunir a família na Dinamarca foi com um amigo que Amin é convidado a frequentar um bar homossexual e a encontrar lá o seu companheiro para a vida com quem está prestes a casar depois de sem medo se assumir como é realmente numa europa progressista e moderna.

Com 3 nomeações aos Óscares em 3 categorias de destaque - Melhor Animação, Melhor Documentário e Melhor Filme Estrangeiro - "Flee – A Fuga", foi também um dos grandes vencedores do Festival de Sundance em 2021. É, sem dúvida, um dos filmes de relevo de 2021 e, como se já esperava, uma das obras mais curiosas, verdadeiramente inspiradoras que consegue chegar ao público a um nível verdadeiramente emocional e tocante considerando a múltipla realidade com que temos sido confrontados nos dias de hoje. Recomendo sem reservas.

Tem estreia prevista em sala dia 7 de Abril

Classificação: 8 numa escala de 10

 

Opinião – “O que Vemos quando Olhamos para o Céu?” de Aleksandre Koberidze

Sinopse

Um encontro casual à porta de uma escola em Kutaisi, na Geórgia. Lisa e Giorgi chocam e um livro cai no chão. Visivelmente atordoados, marcam um encontro sem terem sequer dito os seus nomes. É amor à primeira vista e, como que encantadas, as coisas começam a ganhar vida: a câmara de vigilância é um mau-olhado, o cano de esgoto um oráculo. Fecham os olhos e os amantes são amaldiçoados, condenados a acordar no dia seguinte com uma aparência diferente. Esse obstáculo sobrenatural ao seu reencontro torna-se a passagem para um mundo governado pela magia do quotidiano em toda a sua beleza simples.

Opinião por Artur Neves

A pergunta formulada no nome do filme fica sem resposta até ao fim, mesmo depois de 150 minutos em que a câmara percorre a cidade de Kutaisi na Georgia mostrando-nos as banalidades quotidianas de animais e pessoas que vagueiam pela objetiva do realizador sem que com isso nos seja apresentado um fundamento, uma história, um argumento de ideia que o filme pretende consubstanciar.

O filme começa com um encontro fortuito entre dois personagens Lisa (Ani Karseladze) com Giorgi (Giorgi Ambroladze) que nos faz pensar numa história que começa acidentalmente mas que não tem continuação porque o filme não tem uma história que o suporte. O filme tem duas partes em que na primeira parte somos informados dos acontecimentos banais quotidianos durante a final de uma Copa do Mundo que naquela cidade, segundo o que nos é apresentado, não tem grande interesse e na segunda parte o realizador centra-se nas banalidades que acontecem aqui e ali como um pequeno pardal, crianças brincando num parque infantil, cães vadios ou nem tanto, mas pulando aqui e ali ao sabor dos seus impulsos e todo um conjunto de observações do mesmo género em jeito de documentário que atira para um papel residual o potencial namoro que nos é apresentado inicialmente.

Aliás, quando o par inicial é forçado a juntar-se a outros casais que o filme engendra, Lisa e George sem se conhecem por são desta vez representados por outros atores (Oliko Barbakadze e Giorgi Bochorishvili) respetivamente que a custo se juntam aos outros casais, presumindo eu, por não sentirem qualquer afinidade com eles. Sou eu que digo, não é o filme que nos dá alguma pista. Os diálogos são mudos para o espectador, porque toda a presumível ação do filme é-nos descrita em off por um narrador, o realizador Koberidze, que descreve para o público o sentido dos acontecimentos que vemos ocorrerem em todas as banalidades que são filmadas que se estendem por duas hora e meia em que ficamos á espera de um sentido para tudo aquilo.

Nas notas de produção pode ler-se numa entrevista feita ao realizador que o nome do filme saiu da atitude de Lionel Messi que olha para o céu sempre que marca um golo e com essa ligação ele recebe algo que não é possível ver-se, o que confere ao filme uma visão futebolística. Por outro lado, a visão documental do quotidiano, mostrando-nos todas as ninharias dos dias e das pessoas onde também existe o amor mal esboçado entre Lisa e Giorgi, sem contudo conter os elementos do romance, leva-me a pensar que o filme não possui um contexto definido no qual possa aprecia-lo e como tal não lhe confiro qualquer classificação.

Tem estreia prevista em sala dia 31 de Março

Classificação: ? numa escala de 10

 

16 de março de 2022

Opinião – “Cordeiro” de Valdimar Jóhannsson

Sinopse

A rotina de María (Noomi Rapace) e Ingvar, (Hilmir Snær Guðnason), um casal que vive na Islândia rural, é interrompida quando descobrem um bizarro recém-nascido no seu curral de ovelhas. Este evento leva o casal a tomar uma decisão que desafia as leis da natureza, com a perspetiva inesperada de uma vida familiar poder trazer-lhes muita felicidade… antes de começar a destruí-los.

Opinião por Artur Neves

Este filme, que caberá na classificação de suspense e fantasia, apesar da qualidade da interpretação dos seus intérpretes, comedido, fundamentalmente usando imagens que valem pelo que significam, com poucas falas, pode entediar-nos se não tivermos conhecimento da figura mitológica de “Pã”, o deus grego dos bosques, dos campos, dos rebanhos e dos pastores assumindo um comportamento maioritariamente protetor, embora possa ser vingativo para quem não cuida da natureza e destrói a flora e a fauna. É representado com orelhas longas e chifres, tronco humano e pernas de bode, andando em duas patas e carregando consigo um flauta. Os caminhantes noturnos dos bosques, que andam sem destino, possuídos por solidão que os predispõem a terrores súbitos sem causa aparente, podem ser acometidos de pânico, ou seja: medo de “Pã”.

O livro “O grande Deus Pã” escrito por Arthur Machen dá-nos uma visão algo diferente, não tão bucólica, mas antes destruidora e maligna, cheio de desejo sexual insaciável, sem escrúpulos, que está mais de acordo com o papel que lhe cabe nesta história, porque ele encarna uma tendência comum a todo o universo.

O filme começa por nos apresentar o casal que vive numa casa no meio de nada. Eles estão equipados para as suas necessidades, com motocultivadores e um carro para deslocação à vila, familiarizando-nos com o ambiente frio, a paisagem sempre coberta de neve e eles fazem o que é necessário debaixo de chuva e de vento, porem, apesar de se entreajudarem e colaborarem em todas as tarefas o seu semblante é monótono, triste e sem vida. As cenas são interpretadas pelas ações dos personagens, cumprindo o calendário da vida no local, com pouquíssimos diálogos, mostrando-nos os grandes planos da região vazia, montanhosa, embora bela e envolvente. Os olhares silenciosos entre Ingvar e Maria deixam transparecer um luto dolorido por continuarem sós, os dois estão isolados naquela imensidão geográfica e vivem sem interferências externas e estão preparados para eventos inexplicáveis, que nós, tal como eles, esperamos que aconteçam.

Uma das tarefas realizadas pelos dois é a alimentação dos cordeiros e a ajuda aos partos que ocorrem. Numa dessas alturas um acontecimento bizarro ocorre quando o terceiro filho de uma ovelha apresenta uma forma hibrida entre animal e humano a que ela batiza imediatamente por Ada e toma-a no colo sem que nós vejamos declaradamente a sua forma particular. É aqui que temos de pensar que a aceitação imediata da filha de um sátiro, de Pã, ou seja lá de que pai deu à vida aquele nascimento. A história não está nem um pouco interessada em teorizar a essência do seu aparecimento, mas antes o facto de a sua existência provocar alterações dos relacionamentos entre humanos e com criaturas de outra natureza o que pressupõe que essa coabitação entre partes diferentes da natureza não pode ser apaziguadamente entronizada.

Desde o início daquele nascimento, as coisas complicam-se quando a mãe natural, a ovelha que a pariu, reclama a sua presença, balindo continuamente para reclamar a sua posse. Maria resolve as coisas matando a mãe natural, reconhecendo assim uma falha da natureza e assumindo o papel da ovelha que matou. Curiosamente é de Maria que depende todas as decisões e Ingvar aceita placidamente todos os acontecimentos seja em que sentido for.

Ficamos a saber que Ingvar tem um irmão que subitamente chega ao lugar, como que introduzindo um fator desiquilibrante na relação entre os dois. Pétur (Björn Hlynur Haraldsson) tem dificuldade em aceitar Ada, aquele ser hibrido que ele não consegue classificar como pessoa ou animal. Mais uma vez é Maria que o põe fora de casa levando-o á paragem do transporte e dando-lhe algum dinheiro para que ela não volte. Ele não pertence aquela história nem tem lugar ali. Só nos resta agora dar corpo às sombras, aos passos furtivos, ao horror mitológico que de súbito se revela para levar o que lhe pertence. Só Maria fica viva, não somente para ver quem leva a sua filha, mas também para chorar a morte do marido e para sentir a completa solidão por ter mandado embora o seu cunhado.

Este filme é a primeira longa metragem de Valdimar Jóhannsson, um realizador Islandês que até agora só tinha sido responsável de efeitos especiais e conseguiu com este argumento de horror mitológico manter um elevado grau de imprevisibilidade, um bom suspense dramático com uma história simples embora complexa, que justifica ficarmos atentos aos seus próximos trabalhos. Muito interessante.

NOTA: O poster publicado não é o oficial do filme, mas eu escolhi-o por representar com mais propriedade os dois elementos fundamentais da história.

Tem estreia prevista em sala dia 31 de Março

Classificação: 7 numa escala de 10

 

14 de março de 2022

Opinião – “X” de Ti West

Sinopse

X é o novo filme de terror do diretor Ti West. Na década de 1970, um grupo de filmmakers alugam uma antiga casa de fazenda no interior de uma cidade no Texas para gravar um filme pornográfico. Mas quando os dois idosos, anfitriões e reclusos da antiga casa os pegam em flagrante, o elenco logo se vê em uma luta desesperada por suas vidas.

Opinião por Artur Neves

Os filmes de terror pertencem a um subgrupo dos filmes de suspense frequentemente baseados em crenças, fantasmas, ou de algum modo, convicções do além que redundam sempre numa encarnação maléfica com poderes condicionados por qualquer processo acessível aos mortais que por eles são perseguidos. Neste caso não é bem assim e todo o terror, constituído por assassínio, é cometido pelos personagens que compõem o filme que entram em confronto por desacordo entre as convicções dos idosos donos da casa e as convicções da equipa de filmagem que alugou o espaço para realizar um filme pornográfico.

O referido desacordo só existiu, porque um dos produtores não declarou ao dono da casa os fins do aluguer da casa nem o número de ocupantes envolvidos, tentado com isso obter um menor valor de renda pelo tempo de ocupação. A casa alugada é separada da casa principal habitada pelo casal de idosos que a chegada da equipa causa um perturbação e desconfiança nas relações com tais pessoas. Ele recebe os hóspedes de carabina na mão, e ela espreitando por uma janela do 1º piso sente atração pelo fator “X” caraterístico de uma das personagens que compõem a equipa, que é a primeira a vê-la espreitar entre as cortinas numa atitude que lhe causa um arrepio de medo.

Eles são todos jovens, são constituídos por três casais, dos quais duas mulheres e um homem são os personagens do filme, o outro homem é um dos produtores e o chefe de equipa e o outro casal são o operador da câmara e a mulher que trata da captação do som que tem com o marido uma relação fixa, muito diferente da relação aberta entre os outros dois casais. Do lado do dono da casa, a mulher do casal que outrora também foi atriz, sente saudade e inveja da juventude que com ela coabita, fazendo-a lembrar-se dos tempos em que era preferida e amada pelo marido e cobiçada por outros homens que lhe reconheciam o fator diferenciador “X” que ela identifica numa delas.

O que se segue é o avolumar-se de questões baseadas no argumento do filme que levantam algumas questões curiosas, que de modo algum sem serem novas, nem o filme estar dedicado a analisá-las, levam às mortes de todos os elementos, que se movem sem compreender as diferenças fundamentais entre uns e outros. Ti West, um realizador independente nascido em 1980 nos USA, é o diretor e argumentista desta história que se pode descrever como uma mistura entre “Massacre no Texas” de 1974 e “Jogos de Prazer” de 1997, e que apesar de contar com várias realizações neste género à maneira clássica, resolveu reformular o tema e apontar o sofrimento e inadaptação de cada pessoas como responsável por tantas e tão violentas mortes que se vão sucedendo sem razão específica exceto a conceção de diferença individual quando não podemos concretizar os nossos desejos por incapacidade física.

Tem estreia prevista em sala dia 17 de Março

Classificação: 4 numa escala de 10

 

10 de março de 2022

Opinião – “Petit Maman – Mamã Pequenina” de Céline Sciamma

 

Sinopse

Nelly, 8 anos, acabou de perder a avó e está a ajudar os pais a esvaziar a casa de infância da mãe. Explora a casa e a floresta à volta, onde a mãe, Marion, costumava brincar e onde construiu uma cabana. Um dia, a mãe parte sem explicações. E Nelly conhece uma menina, mais ou menos da sua idade, na floresta. Está a construir uma cabana e chama-se Marion.

Opinião por Artur Neves

Céline Sciamma é uma realizadora de origem francesa que à sua responsabilidade apresenta até esta data 5 longas metragens, (além de 2 curtas e outras obras de escrita) das quais, a anterior a esta; “Retrato de uma Rapariga em Chamas” de 2019 já foi apreciado nestas crónicas e por mim mereceu rasgados elogios pelo seu conteúdo e pela forma arrojada, sensível e naquele contexto autenticamente delicada, defendeu o amor entre duas mulheres que se conheceram acidentalmente através de um contrato de pintura do retrato da dona da casa.

Agora traz-nos esta história para crianças sobre uma menina que acompanhou à sua maneira a morte da sua avó e viaja com os pais para a casa dela situado no campo, que eles se propõem esvaziar. A menina; Nelly (Joséphine Sanz) circula por ali, (em vez de estar na escola, pois com 8 anos e no inverno seria o que me parece normal) pelas cercanias da casa e do bosque e dá de caras com outra menina Marion (Gabrielle Sanz) na difícil tarefa de construir uma casa de ramos junto a uma árvore. As duas tornam-se amigas (o que não é estranho porque ambas são irmãs gémeas na vida real) e ao visitar a casa de Marion observa que a casa dela é um espelho da sua.

Sem perguntar a que se deveriam as semelhanças entre as casas ela assume, através do que apreendeu das conversas entre os pais sobre a infância da mãe quando ela não existia e a avó era viva, que de alguma maneira Marion seria a mãe dela num tempo passado e logo ela seria a sua filha no futuro. Para lá das ternuras e afinidades entre as meninas eu pergunto se seria lógico este pensamento numa menina de 8 anos. Pergunto ainda para que crianças é que esta fábula se destina, pois se os adultos podem aceitá-la com um sorriso, introduzindo uma fantasia que a história não nos transmite, as crianças não sei como alcançarão este sentido. Todo o filme se passa no mesmo local, nos dias atuais e se embora introduzir-mos a fantasia dos “fantasmas vivos” ou outra apreciação criativa, a história poderia ter acontecido um pouco antes, o que não altera o fundamental.

Por outro lado, os personagens infantis, são ambos de uma correção absoluta, sem traumas, sem problemas que perturbem o seu comportamento ordeiro, seguindo uma narrativa que pode levar-nos a considerar que tudo se passa no espírito de Nelly, mas nada na história nos leva objetivamente a pensar isso, quando as suas falas e os seus raciocínios são avançados para a idade e não vemos quando ela frequentou ou se frequenta a escola. Assumo que seja defeito meu não compreender a sensibilidade da infância como Sciamma nos apresenta, pois no aspeto cénico a tomada de vistas é irrepreensível, elas são as personagens principais, sempre vistas de frente, ao nível dos olhos, para nos impressionar com a sua candura e humor natural dos seus verdes anos.

Talvez por serem irmãs gémeas a representação entre elas flua tão bem, sem qualquer sobressalto visível, num enquadramento perfeito em que tudo para além das meninas é deixado deliberadamente vago. As interpretações dos pais adultos são pontuais, aparecendo aqui e ali para que não pensemos que ficaram sozinhas, todavia as suas interações com elas são, breves, avulsas e mais uma vez distantes da sua manifesta sensibilidade. Esta história terá com certeza os seus apreciadores sobre a delicadeza da infância e a amizade que daí resulta, entre os quais não me incluo. Durante os seus 72 minutos de duração pareceu-me que falta assunto, ou pelo menos pistas para nos enquadrar na trama do argumento.

Tem estreia prevista em sala dia 17 de Março

Classificação: 4 numa escala de 10

8 de março de 2022

Opinião – “O Domingo das Mães” de Eva Husson

Sinopse

Num dia quente da primavera de 1924, Jane Fairchild (Odessa Young), uma empregada doméstica órfã, vê-se sozinha no Dia da Mãe. Os patrões, o Sr. e Sra. Niven (Colin Firth e Olivia Colman), estão fora e ela tem uma oportunidade rara de passar um bom bocado com Paul (Josh O'Connor), o seu amante secreto. Filho dos donos de uma mansão vizinha, Paul é a paixão de longa data de Jane, embora esteja noivo de outra mulher, uma amiga de infância que é filha de amigos dos seus pais. Mas eventos que nenhum dos dois pode prever virão mudar o curso da vida de Jane para sempre.

Opinião por Artur Neves

Esta obra é um exemplo acabado em como a edição (montagem das cenas filmadas) é de crucial importância para a sua qualidade, interesse e até inteligibilidade da história. Na descrição de uma qualquer história costuma também dizer-se, que mais importante do que a sequencia em que os eventos são contados, o importante é estarem lá todos e não serem perdidos no seu encadeamento descritivo e essa é a principal função e objetivo de uma competente edição tal como se pode observar neste filme.

“O Domingo das Mães”, no original; “Mothering Sunday” é um romance escrito em 2016 pelo autor inglês Graham Swift sobre o dia 30 de março de 1924 em Inglaterra, em que as famílias da classe alta realizam um encontro no campo para se confortarem da perda dos seus filhos mortos na Primeira Guerra Mundial e permitirem aos criados um dia de folga em que aproveitem visitar os sus parentes mais próximos, principalmente as suas mães também enlutadas pela morte dos seus filhos, e assim prestarem-lhe o conforto possível.

A sinopse descreve o fundamental do enredo, que pode entender-se como linear e simples como se apresenta, pelo que o importante e transforma esta história num documento sobre sentimentos, é a forma como Eva Husson (já nomeada para a Palma de Ouro por “As Filhas do Sol” de 2018) filmou o argumento bem elaborado por Alice Birch que foi capaz de capturar o poder literário do romance original, e Emilie Orsini que editou o material filmado de forma a oferecer-nos um filme repleto de surpresa, misturando notavelmente os eventos do romance de Graham Swift e fazendo com que o filme sugira ser uma memória emocional, em vez de um desdobramento da narrativa. Sem pontos mortos e principalmente recheado de pormenores íntimos de comportamentos da época em que não era espectável a revelação sincera das suas emoções, mas antes a submissão severa às regras convencionais de etiqueta que regulavam as relações sociais.

Todo o elenco está muito bem escolhido com particular destaque para os patões de Jane, Sr. E Sra. Niven (Colin Firth e Olivia Colman), que apesar de não serem figuras centrais na história mostram o sentimento compungido da época de luto, ele tentando amenizar o ambiente e facilitar a vida, embora com a consciência da superficialidade circunstancial das sua alusões, ela mantendo um ar de tristeza azeda em todas as situações compondo um personagem imbuído na dor que deve ter sido comum a muitos outros pais na época.

O filme move-se constantemente para a frente e para traz no tempo, mostrando-nos o passado órfão de Jane que justifica uma das premissas do romance; alguém sem passado só pode esperar um futuro melhor, pois não tem nada a perder. O passado com os jovens da casa que marca o início da sua relação com Paul (Josh O'Connor) e focando-se na sua vida de criada em que Jane assume uma postura de observadora atenta, que lhe potencia a ascensão social com o emprego numa livraria e a futura carreira de escritora de sucesso.

Não há dúvida que o profundo romance de Swift ao caraterizar os sentimentos humanos torna-se difícil de passar a filme. Literalmente os personagens serão descritos com mais vibração e apresentarão uma sensualidade erótica mais desenvolvida. O escritor tem outras formas de as descrever e nos fazer imaginá-las, mas Eva Husson, ou melhor, a três mulheres envolvidas na confeção deste filme conseguiram apresentar-nos uma adaptação decente e bem representativa de uma experiencia de vida emocionante. Gostei, recomendo sem reservas.

Tem estreia prevista em sala, dia 31 de Março

Classificação: 8 numa escala de 10

 

2 de março de 2022

Opinião – “The Batman” de Matt Reeves

Sinopse

Da Warner Bros. Pictures chega-nos “The Batman”, do realizador Matt Reeves, com Robert Pattinson no papel duplo de vigilante da cidade de Gotham e o seu alter ego, o multimilionário solitário Bruce Wayne. Dois anos a assombrar as ruas como Batman (Robert Pattinson), incutindo medo no coração dos criminosos, conduziram Bruce Wayne até às zonas mais sombrias da Cidade de Gotham. Com apenas alguns aliados de confiança - Alfred Pennyworth (Andy Serkis), e o tenente James Gordon (Jeffrey Wright) – entre a rede corrupta de funcionários e figuras proeminentes da cidade, o vigilante solitário estabeleceu-se como a personificação da vingança entre os seus cidadãos.

Opinião por Artur Neves

O homem morcego está de volta neste filme que pode ser uma reinicialização da saga e que promete sequelas com o final do filme indicia. Desta vez Batman, alternando com o seu alter ego Bruce Wayne é interpretado com relativo sucesso por Robert Pattinson que lhe transmite uma intensidade melancólica semelhante ao seu papel de vampiro na saga “Crepúsculo”. Batman é um vigilante que se propõe acabar com o crime que campeia em Gotham City que nos é apresentada numa noite constante que envolve a cidade. Toda a história decorre durante a noite de Gotham e os esparsos raios de sol que podemos ver pertencem a um tempo crepuscular que não rompe a escuridão nem a chuva constante que envolve a cidade, de acordo com a pretensão do realizador, para lhe imprimir o ambiente noir da banda desenhada inicial.

Nesta história o passado, o assassínio de Thomas e Martha Wayne na presença de Bruce na saída de um espetáculo, é uma obsessão de Bruce que o acompanha durante toda a ação, quando a realidade dos enigmáticos crimes que vão ocorrendo vão conduzindo para uma ligação à atividade da sua família, tradicionalmente respeitada e impoluta.

Os crimes são conduzidos por um serial killer, Edward Nashton (Paul Dano) que declara ser o seu objetivo a eliminação da elite corrupta que ocupa todos os lugares de administração da cidade. A investigação policial é conduzida por James Gordon (Jeffrey Wright) que pede a Batman que o acompanhe, o defende e justifica a sua presença quando a corporação a que pertence não compreende a sua inclusão. O primeiro crime ocorre na casa do prefeito da cidade e atual recandidato á reeleição e inclui um cartão do criminoso dirigido a Batman, contendo uma frase cifrada cuja resposta conduzirá ao criminoso. É essa a função de Batman, encontrar as resposta e elucidar a polícia, mas ele prefere continuar sozinho na sua busca pela justiça.

O personagem de Edward Nashton manifesta um maquiavelismo feroz, numa mente desequilibrada muito diferente do anterior Joker que em 2019 ganhou vida própria. Nashton atua sempre mascarado sem possibilidade de ser reconhecido, mas quando posteriormente é preso tem na cadeia o momento alto do seu personagem que nos faz lembrar John Doe em “Se7en” embora com uma temática de vingança significativamente diferente.

Na sua busca pela solução das pistas, Batman cruza-se com Selina Kyle (Zoë Kravitz) que embora não tendo poderes especiais defende-se muito bem em luta e possui conhecimentos de arrombadora de cofres o que constitui a hipótese de introduzir uma química de natureza amorosa com Batman numa história e num tema fundamentalmente masculino no qual as mulheres são meros adornos do ambiente e profissionais do sexo. Selina atua dentro de uma veste de cabedal negro e possui calendário próprio, embora ceda aos pedidos de colaboração com Batman, depois deste a encontrar em plena atuação na violação de um cofre. Ambos não têm a mesma visão dos acontecimentos por motivos que mais tarde saberemos, mas as suas preferências convergem.

“The Batman” é assim uma história filmada num ambiente sub iluminado sobre o personagem de Pattinson com uma identidade secreta e outra bem conhecida de empresário rico que herdou o império Wayne. Na versão secreta ele auto assumiu a sua cruzada de combate ao crime identificando-se como “Vingança” sentindo-se necessário a Gotham mas não amado ou reconhecido por isso e visto como uma aberração que lhe causa uma melancolia permanente a que ele sucumbe. Matt Reeves, o realizador americano que tem no seu portfólio dois “Planetas dos Macacos” de 2014 e 2017 e um excelente filme de vampiros “Deixa-me Entrar” de 2010 tenta elevar Batman à categoria de salvador através dos seus atos, mas ao contar-nos isso em 178 minutos, para alguns pode tornar-se chato, todavia é uma história bem estruturada, de caris fortemente policial com pistas cifradas que nos agarram, naquela cidade às escuras em noites muito chuvosa. É interessante e merece ser visto.

Tem estreia prevista em sala dia 03 de Fevereiro

Classificação: 7 numa escala de 10