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17 de maio de 2016

Novidade Caminho | Vamos Comprar um Poeta - Afonso Cruz


Sinopse:
Numa sociedade imaginada, o materialismo controla todos os aspetos das vidas dos seus habitantes. Todas as pessoas têm números em vez de nomes, todos os alimentos são medidos com total exatidão e até os afetos são contabilizados ao grama. E, nesta sociedade, as famílias têm artistas em vez de animais de estimação. A protagonista desta história escolheu ter um poeta e um poeta não sai caro nem suja muito – como acontece com os pintores ou os escultores – mas pode transformar muita coisa. A vida desta menina nunca mais será igual…

“Gostava de ter um poeta. Podemos comprar um? A mãe não disse nada, limitou-se a levantar a louça, quatro pratos de sopa, quatro colheres de sopa e informar os comensais, eu e o pai e o meu irmão, de que a carne seria servida de seguida, dentro de trinta segundos. O pai acabou de mastigar um bocado de pão, cerca de treze gramas, moveu os maxilares cinco vezes e inquiriu:
Porque não um artista?
A mãe disse:
Nem pensar, fazem muita porcaria, a senhora 5638,2 tem um e despende três a quatro horas por dia a limpar a sujidade que ele faz com as tintas naqueles objectos brancos.
Telas.
Isso.
Muito bem, disse o pai, compramos um poeta. De que tamanho?”

Uma história sobre a importância da Poesia, da Criatividade e da Cultura nas nossas vidas, celebrando a beleza das ideias e das ações desinteressadas

7 de maio de 2016

Novidade Caminho | Sala de Espera - Daniel Sampaio


Sinopse:
Neste novo livro de Daniel Sampaio encontramos algumas respostas para temas dos nossos dias. Num conjunto de sábias crónicas, bem ao jeito do autor, são estas algumas das questões tratadas por Daniel Sampaio e para as quais encontrará propostas de solução:

· Como proceder perante a utilização excessiva dos computadores pelos mais novos.
· O que se entende por alienação parental, guarda partilhada e responsabilidades parentais em divórcios litigiosos.
· O que são pais tóxicos e como podem os filhos reagir.
· O padrasto pode fazer de pai ou não? O livro diz que sim.
· Por que razão está tão difícil a relação entre o professor e o aluno nas nossas escolas? Que poderemos melhorar?
· Vale a pena ensinar Os Lusíadas como se faz agora?
· Que atitude tomar perante os jovens que bebem em excesso?
· Que fazer com as recordações do Natal da nossa infância?
· Vale a pena acreditar na mentira do ranking das escolas? O autor diz que não.

23 de fevereiro de 2016

Novidades Caminho | Fevereiro

Verbetes para Um Dicionário Afetivo | Nas livrarias a 23 fevereiro


Quatro autores já bem conhecidos do público português – Ana Paula Tavares, Manuel Jorge Marmelo, Ondjaki e Paulinho Assunção (dois angolanos, um português e um brasileiro) – reúnem-se, ou melhor, encontram-se reunidos para nos dar um conjunto de textos que são outras tantas pérolas literárias, produzidas nesse vasto cadinho que é a língua portuguesa. Cada um com o seu estilo, oferecem ao leitor um objecto literário que proporciona enquanto arte literária, um verdadeiro e intenso prazer da leitura.

Como os autores (se) explicam no prefácio: “Este livrinho nasceu pelo e para o afeto das amizades… E é um livro da nossa língua, a nossa língua brasileira, angolana, portuguesa, diversa e única, cordas de muitos tons em um mesmo instrumento. Pela língua, a nossa língua, fotografamos as nossas memórias verdadeiras e inventadas, porque recriam o que já ficou tão distante e também não nos abandona”.

De Umas Coisas Nascem Outras | Nas livrarias a 16 de fevereiro


A dado momento, um pedacinho de tronco de árvore descobre-se lápis, um dedal de água do rio descobre-se floco de neve e, num ecrã ou teclado de telemóvel, um dedo polegar descobre-se instrumento de escrita. De umas coisas nascem ouras. A Lua afinal é um botão, a chama é uma bandeira e a pantufa, mesmo nova, tem sempre um ar de coisa velha. Este livro, que pode ser lido começando por qualquer página, fala destes e doutros assuntos. Ah, é verdade, e há prosa que parece poesia, poesia que parece prosa… Tudo continua a ser outra coisa. Este é o terceiro livro desta dupla de autores.

Uma Aventura na Madeira | Nas livrarias a 23 de fevereiro


Os personagens já nossos conhecidos viajam até à ilha da Madeira a fim de participar nuns campeonatos desportivos. O certo é que, numa das visitas aos maravilhosos lugares da Madeira, os nossos amigos dão com uns papéis que caíram de uma mota que se deslocava a grande velocidade. Ora, nesses papéis, podia depreender-se que se tratava de um mapa para um tesouro algures escondido. Se juntarmos a isso uns carteiristas e o Benjamim, que anda na ilha a procurar os ingredientes secretos para fazer o elixir do amor, logo pensamos que, por certo, vai haver uma Aventura na Madeira.

18 de outubro de 2015

O Torcicologologista, Excelência é o novo livro de Gonçalo M. Tavares

O Torcicologologista, Excelência é o novo livro de Gonçalo M. Tavares e chega esta semana às livrarias

O Torcicologologista, Excelência é um livro de ficção, irónico, capaz de fazer soltar uma gargalhada, mas também duro, composto de duas partes bem distintas. A primeira, onde o desencanto se cruza com um humor corrosivo, é composta de diálogos ficcionais, uma espécie de diálogos socráticos, entre duas personagens, os Excelências, criadas e desenvolvidas durante anos por Gonçalo M. Tavares nas páginas do Diário de Notícias. Vossa Excelência fala para Vossa Excelência e no meio do absurdo que é a existência, e a tentativa de entendê-la, os dois lá vão dissertando sobre o bem e o mal, as revoluções, o tédio, a dança e a preguiça, sobre as grandes questões e os pequenos contratempos, sobre os saltos e as quedas. A ironia, o humor e a sabotagem contínua do pensamento e da linguagem vão avançando no meio destes dois curiosos Excelências, personagens de educação esmerada e raciocínio rápido.

A segunda parte de O Torcicologologista, Excelência remete para a agitação da cidade, para os pequenos gestos e as grandes tragédias dos humanos que lá vivem. Uma tragédia acelerada em que o zoom súbito e o rápido olhar sobre os humanos coloca em primeiro plano uma personagem colectiva: a cidade - a cidade moderna, com as suas doenças, as suas obsessões e, por vezes, a sua esperança.

15 de setembro de 2015

A Caminho acaba de enviar para impressão o romance Mulheres de Cinza, o novo livro de Mia Couto

Este romance – Mulheres de Cinza - é o primeiro livro de uma trilogia, “As Areias do Imperador”, sobre os derradeiros dias do chamado Estado de Gaza, o segundo maior império em África dirigido por um africano. Ngungunyane (ou Gungunhane como ficou conhecido pelos portugueses) foi o último dos imperadores que governou toda a metade Sul do território de Moçambique. Derrotado em 1895 pelas forças portuguesas comandadas por Mouzinho de Albuquerque, o imperador Ngungunyane foi deportado para os Açores onde veio a morrer em 1906. Os seus restos mortais terão sido trasladados para Moçambique em 1985.

Existem, no entanto, versões que sugerem que não foram as ossadas do imperador que voltaram dentro da urna. Foram torrões de areia. Do grande adversário de Portugal restam areias recolhidas em solo português.

A editora prevê publicar em 2016 e 2017 os dois restantes romances desta trilogia. O livro Mulheres de Cinzachega às livrarias no dia 17 de outubro.

27 de junho de 2015

Opinião - O Memorial do Convento - José Saramago


Título: O Memorial do Convento
Autor: José Saramago
Editora: Caminho

Sinopse:
Um romance histórico inovador. Personagem principal, o Convento de Mafra. O escritor aparta-se da descrição engessada, privilegiando a caracterização de uma época. Segue o estilo: "Era uma vez um rei que fez promessas de levantar um convento em Mafra... Era uma vez a gente que construiu esse convento... Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes... Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido". Tudo, "era uma vez...". Logo a começar por "D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa a até hoje ainda não emprenhou (...). Depois, a sobressair, essa espantosa personagem, Blimunda, ao encontro de Baltasar. Milhares de léguas andou Blimundo, e o romance correu mundo, na escrita e na ópera (numa adaptação do compositor italiano Azio Corghi). Para a nossa memória ficam essas duas personagens inesquecíveis, um Sete Sóis e o outro Sete Luas, a passearem o seu amor pelo Portugal violento e inquisitorial dos tristes tempos do rei D. João V.

Opinião por Rita Oliveira:
Saramago é o meu escritor favorito. E que bom é saber que é português."Memorial do Convento" foi o primeiro livro do autor que li e é, sem dúvida, o meu preferido. Saramago entrelaça realidade com magia ao criar uma história para a construção do convento de Mafra, no século XVIII. Baltasar e Blimunda, juntamente com o padre Bartolomeu, são as personagens principais, que desafiam as normas sociais estabelecidas de vários modos. Trata-se de um casal que partilha a mesma casa (e cama), apesar de não serem oficialmente casados. Contudo, o amor que os une é puro, sagrado e verdadeiro. Bartolomeu é a única figura católica que se destaca pelos seus valores morais, ao passo que os restantes membros do clero são fortemente criticados pela sua desonestidade e imoralidade.
Acompanhando a construção do monumento português, há outra história que não deve ser subestimada: a construção da passarola pela mão do padre Bartolomeu, um instrumento que o faria voar pelos céus - mais uma vez desafiando os dogmas católicos.
É, no fundo, a construção do sonho que guia a trama deste livro. A obra mais mágica alguma vez escrita em português.

9 de junho de 2015

Opinião - Caim - José Saramago


Título: Caim
Autor: José Saramago
Editora: Caminho

Sinopse:
Quem diabo é este Deus que, para enaltecer Abel, despreza Caim?
Se em O Evangelho Segundo Cristo José Saramago nos deu a sua visão do Novo Testamento, em Caim regressa aos primeiros livros da Bíblia. Num itinerário heterodoxo, percorre cidades decadentes e estábulos, palácios de tiranos e campos de batalha pela mão dos principais protagonistas do Antigo Testamento, imprimindo ao texto o humor refinado que caracteriza a sua obra.
Caim revela o que há de moderno e surpreendente na prosa de Saramago: a capacidade de fazer nova uma história que se conhece do princípio ao fim. Um relato irónico e mordaz no qual o leitor assiste a uma guerra secular, e de certa forma, involuntária, entre o criador e a sua criatura.

Opinião por Vitor Caixeiro:
Fomos ensinados a ver a evolução da história da humanidade, a nossa história, através de duas formas distintas: a ciência, que nos explica como a partir de uma ínfima partícula surgiu a complexidade que hoje se apresenta como o corpo humano, ou a religião, essa grande força elaborada pelo próprio homem que desvenda os mistérios da nossa origem e da moralidade que nos é inerente. Em Caim, Saramago pega nesta última vertente para descodificá-la à sua maneira, fazendo referência a vários episódios do Génesis que confronta com o seu olhar muito próprio. Com uma ironia omnipresente e um tom desassombradamente crítico, Caimexpõe a verdadeira natureza do homem e, consequentemente, a verdadeira natureza do seu Deus.
Esta história começa com as figuras de Adão e Eva que, segundo a Bíblia, foram os nossos primordiais ancestrais. O autor situa-nos no místico Jardim do Éden e desde logo nos apercebemos que não é uma simples visita ao paraíso. Pelo contrário, a partir do famoso acto do pecado que Saramago tão naturalmente descreve, a dádiva divinal transforma-se numa maldição imperdoável que condena Adão e Eva "ad eternum". Não fosse este pecado e talvez ainda hoje estivéssemos a viver no paraíso, mas isso seria outra história para outra vida de seres que seriam perfeitos, o que Saramago deixa explícito ser inexistente neste mundo ou noutro mundo qualquer, incluindo o divino.
Com a reviravolta da ira de Deus, o ser humano vê-se pela primeira vez obrigado a lutar pela sua sobrevivência. Ou seja, é aqui que Adão e Eva começam a construir a sua vida e se integram no mundo que lhes pertence conhecendo os seus iguais. Da relação dos progenitores nascem três crias, entre as quais Caim, e desde o momento em que Caim se apresenta na narrativa passa a fazer parte dela constantemente. Primeiramente é-nos dada a conhecer a faceta mais negra de Caim, através de um acto que nas nossas mentes é impensável. No entanto, à medida que a história evolui e que se fica a conhecer melhor Caim, apercebemo-nos de que afinal aquela faceta não era a sua, mas sim a de outro alguém, esse alguém que Saramago prontamente responsabiliza uma e outra vez. Deste modo, Caim revela-se uma figura honesta, realista e, como se vem a perceber mais tarde, lutadora pelos seus interesses.
Ao longo dos capítulos, Caim viaja entre os denominados "presentes futuros", os vários cenários que o levam por diversos episódios bíblicos. Desde o ataque a Jericó até ao imenso dilúvio, Caim assiste às missões que Deus incute no homem para prevalecer a sua vontade. O leitor assiste, igualmente, às batalhas e aos sacrifícios sangrentos que ficaram registados na história em nome da religião. Partilhando a opinião do autor, considero que em nada conduziram se não para cimentar a ideia da crueldade que pode atingir um homem se está em questão deter um poder maior e preservar o ideal de um Deus imperioso que tudo quer, pode e manda.
Torna-se evidente que Caim é a voz do autor a dar vida ao conflito entre este e Deus, contrariando e criticando afincadamente os seus propósitos e os seus meios de acção. A natureza desta personagem consegue em vários momentos sobrepor-se à presença divina e elucidar-nos com premissas cheias de verdade e que, quer aprovemos quer não, nos fazem reflectir sobre os nossos defeitos e as nossas virtudes, mas acima de tudo sobre a nossa condição humana inequivocamente imperfeita.
Todo este relato é feito num tom profundamente irónico e crítico. Num discurso corrente repleto de metáforas, eufemismos e disfemismos, o autor fornece a sua visão única e inquebrável de um tema altamente controverso da nossa sociedade actual. Quem conhece a escrita de José Saramago sabe o que pode esperar de Caim.
Resta deixar um aviso aos crentes para que não tomem as palavras de Saramago como um ataque, mas sim como uma reflexão sobre os valores morais e pessoais que durante toda a história sofreram quebras em diversos momentos. O que importa é que há vozes capazes de ultrapassar esses declínios e utilizá-los para demonstrar que também existe algo de bom no homem, quando este deixa de ser governado por uma força invisível e decide encontrar em si mesmo a sua própria força para continuar o seu caminho. Uma dessas vozes é Caim. Outra, é Saramago.

4 de junho de 2015

Opinião - Terrarium - José Barreiros e Luís Filipe Silva


Título: Terrarium
Autores: José Barreiros e Luís Filipe Silva
Editora: Caminho

Sinopse:
A história gira em torno da proposta de que uma imensidade de raças alienígenas chegou à Terra num ponto qualquer do século 21. Suas naves, unidas, compõem um anel em torno do planeta, e grande parte dos aliens, chamados exóticos, vive na Terra, em paz com seus Hospedeiros.
No entanto, as coisas não são tão simples quanto aparentam, uma vez que existem seres muito poderosos conhecidos como Potestades, que se manifestam na Terra na forma de anjos, como os anjos terrestres, assumindo seus nomes e realizando um estranho e misterioso jogo político e de força. São enviados de uma raça ainda mais poderosa que os teria construído em tempos imemoriais, e que atua como uma espécie de vírus, alimentando-se de raças alienígenas até esgotá-las.
Vários terrestres são envolvidos nos jogos pelo poder, que se transformam numa luta desesperada para salvar o planeta no momento em que tecnologias avançadíssimas são introduzidas na Terra, provocando alterações inesperadas na sociedade e mutações nos próprios seres humanos.

Opinião por Rui Bastos:
Este livro é um livro especial. João Barreiros é um autor que me fascina e surpreende a cada obra que leio, e embora não tenha lido praticamente mais nada de Luís Filipe Silva, conheço-o pessoalmente graças à Oficina de Escrita Fantástica da Trëma, e tenho por ele um grande respeito e admiração.
Se já namorava este livro só por ter sido escrito por João Barreiros, graças aos últimos meses o facto de também ser um livro de Luís Filipe Silva apenas serviu para me aguçar o apetite até dimensões descomunais, sem que nada do que até agora foi mencionado tenha o que quer que seja a ver com as opiniões que eventualmente vou dar mais à frente. Seriam as mesmas se me fossem autores completamente desconhecidos. Andei com o título na mente durante meses, sempre a contar o tempo que faltava para fazer o último teste e o ir buscar à biblioteca. E assim foi: dia 20 fiz o meu último teste este ano, dando assim por terminado o 2º semestre do 2º ano, e no Sábado aproveitei a sessão da Oficina na Orlando Ribeiro para o ir requisitar. Juro que já há algum tempo que não ficava tão excitado por ter um livro nas mãos. A ansiedade de o abrir e de o devorar era tanta, mas tanta, que nem vos passa pela cabeça.
Claro que aproveitei para mostrar o livro ao Luís e dizer-lhe que o ia ler. Ele riu-se e aconselhou-me, em traços largos (ele que diga horrores do meu conto na próxima sessão da Oficina se estiver a mentir), que devia ter juízo em vez de andar a ler estas coisas. A única coisa que isto fez foi dar-me ainda mais vontade de ler o livro. Por nenhuma razão em especial, acho que nesse dia até a viagem de autocarro até casa me deu mais vontade de ler o livro. Eu queria era lê-lo. Surpreendentemente não o li tão depressa quanto esperava. É um livro grande, é verdade, mas com as ânsias com que eu estava, e com o que fui gostando do livro, devia tê-lo devorado em 2 ou 3 dias, mas levei mais ou menos uma semana.
A explicação que encontro é a enorme complexidade do romance, que é de facto um romance em mosaicos, intrincado e contorcido sobre si próprio, com 5 novelas a constituírem o corpo principal da história, antecedidas por um prólogo fantástico e cativante, e seguidas de 3 alternativas finais que são, no seu conjunto, uma das formas mais curiosas e fantásticas de se acabar um livro e fechar um enredo. Como já devem ter percebido, a história tem demasiados detalhes e é pura e simplesmente demasiado complexa para que qualquer resumo que eu vos dê lhe faça jus, mas fiquem com esta ideia: é uma luta entre várias raças alienígenas, com alguma da tecnologia tão avançada que chega a parecer magia. Um confronto entre humanos e as Potestades, com IXyitil sempre à espreita e vulpis, volpex, simulatrix, kreepos, inteligências artificiais e tantas outras raças e seres que seria tarefa inglória tentar nomeá-las. O que interessa é que um milhar e qualquer coisa de raças foram semi-capturadas e empurradas para a Terra, selando todas essas espécies numa espécie de terrarium gigantesco. Depois há porrada, há sangue e tripas, há momentos carregadíssimos de acção, há show-off de tecnologia de ponta e um enredo extremamente complicado em que quase nada do que parece, é.
Nem vos posso revelar tanta coisa quanto isso sobre a história. Mas posso falar-vos da escrita, que é muito boa, de uma forma general. Não vou arriscar dizer que consegui ver quem é que escreveu que parte, pois não conheço suficientemente bem a escrita de nenhum dos autores, mas há claramente duas vozes a contar esta história: uma, mais brutal, rápida e directa, sem tempo nem paciência para floreados, e que desconfio ser a do João Barreiros, é a mais comum ao longo do livro; mas também se vê uma escrita mais calma, mais pausada, mais dada a ligeiras divagações, mais "bonita" em termos de estilo, e que se coaduna muito bem com a imagem que tenho da escrita do Luís Filipe Silva.
Caso ainda não tenham percebido, delirei com este livro. Foi daquelas obras para a qual eu tinha expectativas muito altas, e que não só correspondeu a tudo o que eu imaginava, como ainda ultrapassou isso tudo!
Objectivamente falando, não é o melhor livro que já li, e tem algumas falhas em termos de conjugação dos dois estilos, e de ritmo, e da forma como a informação é dada e apresentada, mas isso também faz parte das suas características.
É um livro complexo, ainda por cima com referências e homenagens (revistas Pulp? Comics?) a várias outras obras de ficção científica que eu não apanhei na totalidade, de certeza, que quando tem hipótese de simplificar as coisas e deixar o leitor mais dentro de tudo o que se está a passar, faz um mortal encarpado à retaguarda e BAM!, vai-te lixar leitor, pões a mioleira a trabalhar e é se queres. Nesse aspecto é sublime.
E subjectivamente falando tenho apenas a dizer que caso alguém me pergunte qual é o meu livro favorito, finalmente sei o que responder.

25 de abril de 2015

Amores de Família

De Carla Maia de Almeida (texto) e Marta Monteiro (ilustrações)
Livro Amores de Família chega às livrarias a 14 de abril

«Há pais que discutem por causa dos lugares de estacionamento e há outros para quem o mais importante é um lugar ao sol.»

As famílias deste livro retratam diversos perfis familiares da atualidade, em vários lugares do mundo. Das famílias tradicionais às recompostas, das monoparentais às adoptivas, sem excluir famílias com pais do mesmo sexo, todas são apresentadas ao leitor nos cenários do seu dia-a-dia, num olhar multicultural, entre o jornalístico e o literário. Cruzando também perfis psicológicos, as personagens inspiram-se na antiga mitologia greco-latina, porque nada mais heterogéneo nem mais arquetípico do que as relações familiares do Olimpo. Amores de Família é um livro para descobrir e partilhar... em família.

ISBN: 978-972-21-2732-5
32 páginas
PVP C/ IVA 10,90€

Carla Maia de Almeida
Jornalista de imprensa desde 1992, é licenciada e pós-graduada em Comunicação Social pela Universidade Nova de Lisboa, tendo uma Pós-Graduação em Livro Infantil Pela Universidade Católica Portuguesa. Desde 2005, publicou os seus quatro primeiros livros na Caminho: O Gato e a Rainha Só (ilustrações de Júlio Vanzeler); Não Quero Usar Óculos (ilustrações de André Letria), Ainda Falta Muito? (ilustrações de Alex Gozblau) e Onde Moram as Casas (ilustrações de Alexandre Esgaio). Seguiram-se A Lebre de Chumbo (ilustrações de Alex Gozblau), para a coleção da APCC – Associação para a Promoção Cultural da Criança e Irmão Lobo (ilustrações de António Jorge Gonçalves), uma novela para adolescentes e leitores mais crescidos, com edição da Planeta Tangerina. Este último foi incluído na selecção White Ravens 2014. Nasceu em Matosinhos, em 1969.

Marta Monteiro
Após ter concluído a licenciatura em Artes Plásticas, variante de Escultura, pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto foi docente e formadora durante vários anos. Desde 2012, dedica-se à ilustração a tempo inteiro, colaborando com publicações como a Nobrow Magazine,Washington Post, The New York Times e Visão, entre outras. Em 2013 publicou o seu primeiro livro, um álbum sem palavras intitulado Sombras(Pato Lógico), distinguido pela prestigiada revista 3x3. Seguiu-se Poemas da Horta e Outras Verduras, com texto de Manuela Leitão (Máquina de Voar). Em 2014, viu o seu trabalho em exposição na Feira do Livro Infantil de Bolonha, na categoria Opera Prima, e foi premiada com a medalha de ouro da Society of Ilustrators pela série Little People. Vive e trabalha em Penafiel, cidade onde nasceu em 1973.

24 de março de 2015

Opinião - Ensaio Sobre a Cegueira - José Saramago


Título: Ensaios Sobre a Cegueira
Autor: José Saramago 
Editora: Caminho 

Sinopse: 
Uma cidade é devastada por uma epidemia instantânea de "cegueira branca". Face a este surto misterioso, os primeiros indivíduos a serem infectados são colocados pelas autoridades governamentais em quarentena, num hospital abandonado. Cada dia que passa aparecem mais pacientes, e esta recém-criada "sociedade de cegos" entra em colapso.
Tudo piora quando um grupo de criminosos, mais poderoso fisicamente, se sobrepõe aos fracos, racionando-lhes a comida e cometendo actos horríveis. Há, porém, uma testemunha ocular a este pesadelo: uma mulher, cuja visão não foi afectada por esta praga, que acompanha o seu marido cego para o asilo. Ali, mantendo o seu segredo, ela guia sete desconhecidos que se tornam, na sua essência, numa família. Ela leva-os para fora da quarentena em direcção às ruas deprimentes da cidade, que viram todos os vestígios de uma civilização entrar em colapso.
A viagem destes é plena de perigos, mas a mulher guia-os numa luta contra os piores desejos e fraquezas da raça humana, abrindo-lhes a porta para um novo mundo de esperança, onde a sua sobrevivência e redenção final reflectem a tenacidade do espírito humano. 

Opinião por Liliana Martins:
 "Se podes olhar vê
Se podes ver repara" 
Li este livro 3 vezes e com um intervalo reduzido entre elas. Fiquei absolutamente fascinada!
E se de repente houvesse uma epidemia, como tem havido tantas, em que se propagava o vírus da cegueira?
Pois é, como é algo que nunca me passou pela cabeça, há quase 20 anos atrás, tive oportunidade de ler este espetacular livro que me fez pensar no que nós somos e no pouco que basta para ficarmos reduzidos a meros "seres", onde a humanidade, a civilidade, o verniz e a futilidade desaparecem por completo. É um livro que contém descrições muito vívidas e, um pouco contrário ao estilo algo complexo de Saramago, lemos do princípio ao fim e de uma só assentada, como se de um livro de ação se tratasse, sendo a narração muito rápida e "aprisionante".
Contra todos os princípios morais e humanos que deviam nortear os seres numa situação de calamidade, são-nos descritas situações verdadeiramente arrepiantes em que alguns seres humanos não "despem" a sua verdadeira natureza, sendo cruéis e desumanos, mesmo para quem está na mesma situação e continuam a ser gananciosos, numa situação onde os valores materiais já não fazem sentido.
Por outro lado, nunca nos passa pelo sentido o que aconteceria se deixássemos todos de ver. As necessidades supérfluas deixariam de existir e ficariam só as mais básicas e mesmo essas seriam difíceis de satisfazer, transformando-nos em meros "animais", onde a luta pela sobrevivência e a grande custo se faria sentir a cada dia.
Por tudo isto, posso concluir que é um livro fascinante e um "abre olhos" para repensarmos as nossas vivências e objetivos numa sociedade em que o que conta é o materialismo, materialismo esse que deixa de ter importância numa situação de calamidade e que poderá acontecer num futuro. Deixa-nos, portanto, um verdadeiro arrepio de veracidade!

11 de dezembro de 2014

Novidade Caminho

Sinopse:
Reparem, a seguir a Luanda, o lugar onde todas as idiossincrasias deste povo ganham maior visibilidade é Lisboa. Daí, mesmo que eu quisesse, é impossível ficar imune a essa banga, basta alguém identificar-me o sotaque (ou a ausência dele). A verdade é que a vaidade angolana já se tornou monumento de fama internacional. Uma atração turística ambulante, que onde quer que estejam angolanos, uma multidão de curiosos aparece para tirar fotografias, entregar currículos ou propor negócio, como me aconteceu recentemente. Quando terminava o meu almoço, sai da cozinha o proprietário e propõe-me que lhe compre o restaurante, com todo o recheio, licenças, cozinheiros e empregados de mesa incluídos. E eu, do alto da minha vaidade, tão afetado pela crise financeira em Portugal quanto o pobre senhor, lanço-lhe a pergunta: Quanto é que custa?

5 de novembro de 2014

Opinião - O Homem Duplicado

Título: O Homem Duplicado
Autor: José Saramago
Editora: Porto Editora, Caminho

Sinopse:
Tertuliano Máximo Afonso, professor de História no ensino secundário, «vive só e aborrece-se», «esteve casado e não se lembra do que o levou ao matrimónio, divorciou-se e agora não quer nem lembrar-se dos motivos por que se separou», à cadeira de História «vê-a ele desde há muito tempo como uma fadiga sem sentido e um começo sem fim». Uma noite, em casa, ao rever um filme na televisão, «levantou-se da cadeira, ajoelhou-se diante do televisor, a cara tão perto do ecrã quanto lhe permitia a visão, Sou eu, disse, e outra vez sentiu que se lhe eriçavam os pelos do corpo».
Depois desta inesperada descoberta, de um homem exatamente igual a si, Tertuliano Máximo Afonso, o que vive só e se aborrece, parte à descoberta desse outro homem.

Opinião por Barbara Castro:
Tenho de começar por dizer que Saramago é um dos meus escritores preferidos. Apesar de serem muitos os que desgostam da sua peculiar pontuação e demais estilo, a minha pessoa simplesmente adora! Delicia-me de igual forma a reacção que desperta: ou o adoram ou o odeiam, creio ter encontrado pouquíssimas pessoas que se ficassem pelo meio-termo.

É verdade que nos seus livros, e neste não foi excepção, dou comigo, frequentemente, a perder o fio à meada aquando da leitura de frases de meia página. Contudo não me importo nada de reler as vezes que for preciso, mas percebo que seja um aspecto que desmotive à leitura deste autor.

Para mim, as suas obras valem sempre a pena pela escrita sublime e pelos finais surpreendentes. Mas depois de ler o monstruosamente belo Ensaio Sobre a Cegueira, o enigmático O Conto da Ilha Desconhecida e As Intemitências da Morte tudo o que li posteriormente da sua bibliografia ficou aquém das expectativas, até que me deparei com O Homem Duplicado, que esteve muito perto da genialidade das obras supracitadas.

Saramago presenteia-nos sempre com narrativas estranhas, ora uma Península Ibérica que subitamente se vê à deriva, ora uma epidemia de cegueira branca, ora uma Morte que resolve fazer greve. O Homem Duplicado não foi excepção, a intriga é surreal. Ora vejamos, Tertuliano Máximo Afonso é um homem vulgar, professor de História, já perto dos quarenta anos, divorciado, com um percurso com mais fracassos que sucessos na balança da vida, como à maioria de nós sucede. Quando o professor decide alugar um filme, aconselhado por um colega de profissão, depara-se com uma impossibilidade: um dos actores secundários do filme é exactamente igual a si próprio. Ao descobrir que existe neste mundo um homem completamente igual ao que ele vê quando se olha no espelho embarca numa busca desenfreada, fazendo tudo que está ao seu alcance para encontrar o seu duplicado. O Senso Comum, que dialoga com uma certa animosidade piadética com Tertuliano, tenta dissuadi-lo de muitas das suas intenções, ou plantando dúvidas difíceis de serem esquecidas ou com perspicazes conselhos que Tertuliano, como um comum dos mortais, tão bem sabe ignorar.

A par da acção central conhecemos também a relação entre Máximo Afonso e Maria da Paz, relação muito genuína, na medida em que se aproxima das não poucas relações que por aí andam, onde uma das partes dá mais do que a outra, uma das partes ama mais do que a outra, e todavia à parte em falta falta-lhe sempre a coragem de pôr o ponto final, vacila sempre na hora de enfrentar o vazio no outro lado da cama. Façamos uma ressalva, pois podemo-nos equivocar e à parte em falta não lhe faltar amor mas coragem para enfrentar o medo de falhar.

É deveras difícil encontrar aspectos negativos no nosso Nobel da Literatura, porém tenho de referir um aspecto transversal em todos os seus livros que tive oportunidade de ler: as personagens, embora francamente distintas e com uma personalidade sempre muito própria e com uma natureza muito humana, para o bem e para o mal, têm um discurso que nem sempre se adequa à sua condição. São sempre demasiado eloquentes e muitas vezes somos espectadores de diálogos filosóficos como se todos os intervenientes falassem através da boca de Saramago com recurso ao seu riquíssimo léxico, figuras de estilo e demais semântica.

Outros pontos menos positivos em O Homem Duplicado: algumas decisões das personagens são passíveis de despertar uma certa estranheza, mas que são justificáveis pela própria estranheza da situação com que se deparam e um excesso de observações do narrador que às vezes extravasam a linha orientadora da narrativa e são um pouco despropositadas e fora de contexto.

Em suma, O Homem Duplicado fez-me sorrir, pôs uma lagrimazinha à espreita do seu saco lacrimal, fez-me reflectir em questões tão corriqueiras como profundas e ao mesmo tempo fez-me não pensar em nada enquanto estava absorvida na aventura do protagonista. Que mais se pode pedir a um livro?

9 de outubro de 2014

Opinião - O Conto da Ilha Desconhecida

Título: O Conto da Ilha Desconhecida
Autor: José Saramago
Editora: Caminho

Sinopse:
Pela hora do meio-dia, com a maré, a ilha desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma.

Opinião por Rosana Maia:
Confesso que O Conto da Ilha Desconhecida é apenas o segundo livro que leio de José Saramago, no entanto, ao ler este conto senti que perdi muito em não ter lido mais. Mas o que tem este conto de tão especial? São apenas 45 páginas, a história é simples, mas é também cheia de uma beleza inexplicável. A narrativa centra-se num homem que quis um barco para ir em busca da Ilha Desconhecida. E o difícil de fazer uma opinião sobre este livro é que tornaria para vocês a Ilha Desconhecida conhecida. Como tal, deixo apenas aqui que recomendo a leitura deste conto, mas caberá a cada um conhecer ou não esta ilha desconhecida.

22 de abril de 2014

Opinião - Jangada de Pedra

Título: Jangada de Pedra
Autor: José Saramago
Editora: Caminho

Sinopse:
«Em A Jangada de Pedra (...) o escritor recorre a um estratagema típico. Uma série de acontecimentos sobrenaturais culmina na separação da Península Ibérica que começa a vogar no Atlântico, inicialmente em direcção aos Açores. A situação criada por Saramago dá-lhe um sem-número de oportunidades para, no seu estilo muito pessoal, tecer comentários sobre as grandezas e pequenezas da vida, ironizar sobre as autoridades e os políticos e, talvez muito especialmente, com os actores dos jogos de poder na alta política. O engenho de Saramago está ao serviço da sabedoria.» (Real Academia Sueca, 8 de Outubro de 1998)

Opinião por Eloisa Gonçalves Louceiro:
Disse a leitora cansada de ler durante tantos dias Que leitura!, e sentia-se como se tivesse sido arrastada lá com o barco de pedra para chegar até ao lugar onde chegou, Aqui ao fim.

Caro leitor das minhas humildes palavras, se não está a perceber por que razão estou a dar um chuto nas regras gramaticais das quais tanto gosto e faço questão de aplicar, pois então leia o livro e aí saberá. Foi o primeiro que li de Saramago e se por um lado me faz espécie a história aqui contada, por outro lado acredito conhecer bem os motivos da mesma. No entanto eu, como leitora, precisava de mais, mais propriamente em termos de desenvolvimento da narrativa em si - apesar de gostar de ficar a pensar sobre as histórias e os seus propósitos, eu preciso de um caminho/fim que não me deixe tão perdida (mas agora que escrevo isto, concluo que talvez tenha sido esta mesma a intenção), para poder apreciá-la completamente. Mas gostei imenso da forma como está escrita, esta aparente desorganização está tão organizada que seríamos capazes de imitar as suas regras bem definidas.