Sinopse
Num dia quente da primavera de 1924,
Jane Fairchild (Odessa Young), uma empregada doméstica órfã, vê-se sozinha no
Dia da Mãe. Os patrões, o Sr. e Sra. Niven (Colin Firth e Olivia Colman), estão
fora e ela tem uma oportunidade rara de passar um bom bocado com Paul (Josh
O'Connor), o seu amante secreto. Filho dos donos de uma mansão vizinha, Paul é
a paixão de longa data de Jane, embora esteja noivo de outra mulher, uma amiga
de infância que é filha de amigos dos seus pais. Mas eventos que nenhum dos
dois pode prever virão mudar o curso da vida de Jane para sempre.
Opinião
por Artur Neves
Esta obra é um exemplo
acabado em como a edição (montagem das cenas filmadas) é de crucial importância
para a sua qualidade, interesse e até inteligibilidade da história. Na descrição
de uma qualquer história costuma também dizer-se, que mais importante do que a
sequencia em que os eventos são contados, o importante é estarem lá todos e não
serem perdidos no seu encadeamento descritivo e essa é a principal função e
objetivo de uma competente edição tal como se pode observar neste filme.
“O Domingo das Mães”, no
original; “Mothering Sunday” é um romance escrito em 2016 pelo autor inglês
Graham Swift sobre o dia 30 de março de 1924 em Inglaterra, em que as famílias
da classe alta realizam um encontro no campo para se confortarem da perda dos
seus filhos mortos na Primeira Guerra Mundial e permitirem aos criados um dia
de folga em que aproveitem visitar os sus parentes mais próximos,
principalmente as suas mães também enlutadas pela morte dos seus filhos, e
assim prestarem-lhe o conforto possível.
A sinopse descreve o
fundamental do enredo, que pode entender-se como linear e simples como se
apresenta, pelo que o importante e transforma esta história num documento sobre
sentimentos, é a forma como Eva Husson (já nomeada para a Palma de Ouro por “As
Filhas do Sol” de 2018) filmou o argumento bem elaborado por Alice Birch que
foi capaz de capturar o poder literário do romance original, e Emilie Orsini que
editou o material filmado de forma a oferecer-nos um filme repleto de surpresa,
misturando notavelmente os eventos do romance de Graham Swift e fazendo com que
o filme sugira ser uma memória emocional, em vez de um desdobramento da
narrativa. Sem pontos mortos e principalmente recheado de pormenores íntimos de
comportamentos da época em que não era espectável a revelação sincera das suas
emoções, mas antes a submissão severa às regras convencionais de etiqueta que
regulavam as relações sociais.
Todo o elenco está muito bem
escolhido com particular destaque para os patões de Jane, Sr. E Sra. Niven (Colin
Firth e Olivia Colman), que apesar de não serem figuras centrais na história
mostram o sentimento compungido da época de luto, ele tentando amenizar o
ambiente e facilitar a vida, embora com a consciência da superficialidade circunstancial
das sua alusões, ela mantendo um ar de tristeza azeda em todas as situações
compondo um personagem imbuído na dor que deve ter sido comum a muitos outros
pais na época.
O filme move-se constantemente
para a frente e para traz no tempo, mostrando-nos o passado órfão de Jane que
justifica uma das premissas do romance; alguém sem passado só pode esperar um
futuro melhor, pois não tem nada a perder. O passado com os jovens da casa que
marca o início da sua relação com Paul (Josh O'Connor) e focando-se na sua vida
de criada em que Jane assume uma postura de observadora atenta, que lhe
potencia a ascensão social com o emprego numa livraria e a futura carreira de
escritora de sucesso.
Não há dúvida que o profundo
romance de Swift ao caraterizar os sentimentos humanos torna-se difícil de
passar a filme. Literalmente os personagens serão descritos com mais vibração e
apresentarão uma sensualidade erótica mais desenvolvida. O escritor tem outras
formas de as descrever e nos fazer imaginá-las, mas Eva Husson, ou melhor, a
três mulheres envolvidas na confeção deste filme conseguiram apresentar-nos uma
adaptação decente e bem representativa de uma experiencia de vida emocionante.
Gostei, recomendo sem reservas.
Tem estreia prevista em sala,
dia 31 de Março
Classificação: 8 numa escala
de 10
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