Sinopse
Nelly, 8 anos, acabou de perder a avó e
está a ajudar os pais a esvaziar a casa de infância da mãe. Explora a casa e a
floresta à volta, onde a mãe, Marion, costumava brincar e onde construiu uma
cabana. Um dia, a mãe parte sem explicações. E Nelly conhece uma menina, mais
ou menos da sua idade, na floresta. Está a construir uma cabana e chama-se
Marion.
Opinião
por Artur Neves
Céline Sciamma é uma
realizadora de origem francesa que à sua responsabilidade apresenta até esta
data 5 longas metragens, (além de 2 curtas e outras obras de escrita) das
quais, a anterior a esta; “Retrato de uma Rapariga em Chamas” de 2019 já foi apreciado
nestas crónicas e por mim mereceu rasgados elogios pelo seu conteúdo e pela
forma arrojada, sensível e naquele contexto autenticamente delicada, defendeu o
amor entre duas mulheres que se conheceram acidentalmente através de um
contrato de pintura do retrato da dona da casa.
Agora traz-nos esta história
para crianças sobre uma menina que acompanhou à sua maneira a morte da sua avó
e viaja com os pais para a casa dela situado no campo, que eles se propõem
esvaziar. A menina; Nelly (Joséphine Sanz) circula por ali, (em vez de estar na
escola, pois com 8 anos e no inverno seria o que me parece normal) pelas
cercanias da casa e do bosque e dá de caras com outra menina Marion (Gabrielle
Sanz) na difícil tarefa de construir uma casa de ramos junto a uma árvore. As duas
tornam-se amigas (o que não é estranho porque ambas são irmãs gémeas na vida
real) e ao visitar a casa de Marion observa que a casa dela é um espelho da
sua.
Sem perguntar a que se
deveriam as semelhanças entre as casas ela assume, através do que apreendeu das
conversas entre os pais sobre a infância da mãe quando ela não existia e a avó
era viva, que de alguma maneira Marion seria a mãe dela num tempo passado e
logo ela seria a sua filha no futuro. Para lá das ternuras e afinidades entre
as meninas eu pergunto se seria lógico este pensamento numa menina de 8 anos. Pergunto
ainda para que crianças é que esta fábula se destina, pois se os adultos podem
aceitá-la com um sorriso, introduzindo uma fantasia que a história não nos
transmite, as crianças não sei como alcançarão este sentido. Todo o filme se passa
no mesmo local, nos dias atuais e se embora introduzir-mos a fantasia dos “fantasmas
vivos” ou outra apreciação criativa, a história poderia ter acontecido um pouco
antes, o que não altera o fundamental.
Por outro lado, os
personagens infantis, são ambos de uma correção absoluta, sem traumas, sem
problemas que perturbem o seu comportamento ordeiro, seguindo uma narrativa que
pode levar-nos a considerar que tudo se passa no espírito de Nelly, mas nada na
história nos leva objetivamente a pensar isso, quando as suas falas e os seus raciocínios
são avançados para a idade e não vemos quando ela frequentou ou se frequenta a
escola. Assumo que seja defeito meu não compreender a sensibilidade da infância
como Sciamma nos apresenta, pois no aspeto cénico a tomada de vistas é irrepreensível,
elas são as personagens principais, sempre vistas de frente, ao nível dos olhos,
para nos impressionar com a sua candura e humor natural dos seus verdes anos.
Talvez por serem irmãs
gémeas a representação entre elas flua tão bem, sem qualquer sobressalto
visível, num enquadramento perfeito em que tudo para além das meninas é deixado
deliberadamente vago. As interpretações dos pais adultos são pontuais, aparecendo
aqui e ali para que não pensemos que ficaram sozinhas, todavia as suas
interações com elas são, breves, avulsas e mais uma vez distantes da sua
manifesta sensibilidade. Esta história terá com certeza os seus apreciadores
sobre a delicadeza da infância e a amizade que daí resulta, entre os quais não
me incluo. Durante os seus 72 minutos de duração pareceu-me que falta assunto,
ou pelo menos pistas para nos enquadrar na trama do argumento.
Tem estreia prevista em sala
dia 17 de Março
Classificação: 4 numa escala
de 10
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