24 de março de 2022

Opinião – “Amantes” de Nicole Garcia

Sinopse

Simon e Lisa são um jovem casal apaixonado que vive em Paris. Ela frequenta a escola de hotelaria e ele, trafica cocaína. No dia em que um dos seus clientes morre de overdose, Simon desaparece sem deixar rastro. Anos mais tarde, reencontram se, cada um com as suas vidas já refeitas. Simon trabalha num hotel e Lisa está casada e anseia ter um filho. Este triângulo amoroso vai virar o mundo de Lisa, a um ponto que ela não controla.

Opinião por Artur Neves

Eis um tema dos mais usados no cinema e que apesar disso apresenta sempre uma oportunidade de ser diferente, dependendo claro do argumento e do realizador que neste caso também colabora com o escritor Jacques Fieschi para estabelecer o enredo que nos mostra em 102 minutos. Nicole Garcia nascida na Argélia apresenta um largo curriculum como atriz desde 1966 e por vezes, quando decide ficar atras das câmaras como neste caso apresenta-nos uma história seca, dura nos diálogos e nas relações, abordando o sentimento do amor duma forma algo diferente do que é comum ver-se na abordagem deste tema.

A sinopse descreve a história e a realizadora faz fluir o enredo de maneira sequencial. Simon (Pierre Niney) conduz a sua vida pelos meandros do tráfico clandestino de droga estabelecendo a possível diferença entre as suas atividades e Lisa (Stacy Martin) que está vivendo o amor da sua vida aceita-o como ele se apresenta. Na realidade Lisa é mais afetuosa e mais dependente de Simon do que o inverso e isso nada tem de individualista, apenas Simon quer resguardar para si os perigos e responsabilidades da sua atividade clandestina. Lisa por vezes não compreende isso e força-lhe a acompanha-lo em algumas entregas particulares a amigos como aconteceu naquele dia em que um dos clientes sente-se mal, eles socorrem-no mas o mal já está feito e o excesso de droga é fatal.

Eles antes de sair, eliminam tanto quanto podem os sinais da sua presença naquela casa e voltam perturbados a um ponto que Simon se culpa do ocorrido. Lisa tenta confortá-lo mas Simon não é suscetível de ceder às suas tentativas por medo de ser envolvido e pelo remorso que aquele acidente lhe causou. Simon já é outra pessoa e só quer fugir dali, daquele lugar, daquela terra. Embora contrariada Lisa decide fugir com ele, marcam um encontro para o dia seguinte mas ele não comparece, não lhe dá qualquer justificação e ela no dia da sua ausência fica a saber que está só e a custo tem de consolar-se com aquela falta e viver sem o que ela pensava ser o amor da sua vida.

O encontro com Léo Redler (Benoit Magimel) é perfeitamente acidental, ela não o ama mas pensa que a sua companhia pode transformar a sua perda anterior e fazer seguir a sua vida para a frente. Aceita-o, casam, e Léo, dependendo da sua atividade profissional permite-lhe muitos tempo de solidão que ele quer compensar com passeios e viagens. Léo sabe que o casamento tem dificuldades em vingar e manter-se assim pelo que procura corrigir a situação com saídas conjuntas para jantares em cidades distantes e restaurantes caros, onde Lisa, sem esperar, reconhece Simon em trabalhos junto à praia. Ela não se mostra, apenas o vê ao longe e procura a melhor oportunidade para o encontrar sem testemunhas. É o passado a encontrar-se com Simon que vê nela a parte melhor desse passado. Falam-se, beijam-se, trocam juras de amor em que Simon explica o porquê do seu desaparecimento e ela lhe revela que está casada e que depois do desaparecimento dele apenas procurou a recuperação possível da vida dela ao lado de um homem com dinheiro que a escolheu.

Para qualquer dos três personagens aquela situação não é sustentável e a partir daqui a história conta-nos como foi possível conciliá-los. O cinema europeu e nomeadamente o cinema Francês tem uma postura diferente nestas situações e particularmente Nicole Garcia usa a sua arte para transformá-la em natural, sóbria, introduzido todos os eventos que interessam para por em confronto aquelas três pessoas com a realidade das posições que ocupam. Não se pode dizer que aquilo não poderia acontecer aos três vértices daquele triângulo amoroso que em vez de romantismo apresenta decisão, planeamento e vontade de agir. Está bem conseguido, prende o espectador e leva-nos até ao fim da história com curiosidade e surpresa.

Tem estreia prevista em sala dia 7 de Abril

Classificação: 6 numa escala de 10

 

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