Sinopse
As primeiras conquistas de
um jovem e a paixão que tem pelo pai. Esta é a história de um jovem da
província, Luc, que vai a Paris para se candidatar à Escola Boulle. Na rua,
encontra Djemila, com quem vive uma aventura. De regresso a casa do pai,
reencontra uma ex-namorada, Geneviève, enquanto Djemila alimenta a esperança de
o rever. Quando recebe a notícia da entrada na Escola Boulle, vai para Paris e
abandona a namorada que está grávida…
Opinião
por Artur Neves
Philippe Garrel é sempre
igual a si próprio. Atualmente com 71 anos ele continua a divertir-se em
arranjar uma narrativa sobre os factos que apresenta numa história de amor
cheia de percalços, que pode ser uma história que conheçamos pessoalmente, ou
por interpostas pessoas, e deixa ao espectador a responsabilidade de a mastigar,
digerir e julgar de acordo a sua experiencia de vida e as suas convicções, sem interferir
com a sua visão pessoal que usa apenas para mostrar como as coisas se passaram.
É isto o cinema de Philippe Garrel.
A preto e branco como é
hábito, Garrel conta-nos uma história de juventude, de aprendizagem da vida de
um rapaz Luc (Logann Antuofermo) criado na província e com educação limitada,
que ama o pai, (André Wilms) marceneiro, por quem ele nutre forte amor filial e
devoção pela sua entrega a uma arte que ele pretende seguir, depois de adquirir
formação complementar em Paris, na Escola de Artes e Ofícios Boulle, onde ele
se candidata como aluno.
Na grande cidade, que vai implicar
uma grande transformação na sua vida para fazer o exame de admissão, ele
confronta-se com o despertar do amor com Djemila (Oulaya Amamra) num namoro de
juventude limitado pela exiguidade de tempo em que estão juntos e pela recusa
dela ao primeiro encontro a sós. Depois do exame, volta a casa de seu pai e
durante a realização de um trabalho num cliente encontra uma amiga de infância Geneviève
(Louise Chevillotte) com quem enceta um namoro e uma relação de vida com
propósitos de futuro, todavia abandona-a logo que recebe a confirmação de
admissão na Escola Boulle, num ato chauvinista e arrogante de independência
masculina, por não estar disposto a lidar com o futuro filho que vem a caminho.
Em Paris, com os novos
amigos descobre o amor apaixonando-se por Betsy (Souheila Yacoub) que lhe
sugere uma relação triangular com um anterior relacionamento, Paco (Martin
Mesnier) que ainda mantém e que ele aceita numa coabitação temporária por tempo
indeterminado. Luc e Betsy declaram mutuamente o seu amor, enquanto ela salta
de cama em cama no mesmo quarto e na mesma noite. Quando se precisa de privacidade
uma gravata pendurada na porta pelo lado de fora avisa do facto. Ela é transparente
com ambos e convive com amor pelos dois sem abandonar nenhum, numa relação aberta,
franca e assumida pelos três, embora diferenciando a sua preferência mais consistente
por Luc.
É assim que Garrel nos
apresenta o amor em 2020 para pessoas heterossexuais, brancas e europeias que
apenas existem para amar e ser amadas, sem implicações sociais dos seus atos,
ou conflitos políticos ou económicos que os condicionem. Garrel não nos indica
qualquer dos caminhos, apenas os apresenta, captando os atos e as pessoas numa
apresentação trágico cómica, (dependente do ponto de vista) do estereótipo burguês,
citadino, sobre o amor e seus possíveis triângulos, ora tradicionais, ora
inovadores ligados aos nossos tempos.
Garrel não cuida de qualquer
dos personagens que são tomados e largados tal como nos foram apresentados, exceto
de Luc e do seu pai, ocupando este um papel centralizador na vida de Luc de que
ele tenta libertar-se, mostrando um distanciamento em relação à sua
contribuição para este imbróglio que cabe ao espectador deslindar qual o
sentido a dar-lhe na sua imagética pessoal e privada. Pelo meu lado também não
vou dar qualquer contributo, apenas que veja e despenda algum tempo a pensar
num assunto que afinal é de todos.
Classificação: 5 numa escala
de 10