Sinopse
Robert
(Liam Neeson) é um boémio artista londrino que regressa a Itália com o filho,
Jack (Micheál Richardson), de quem se distanciara, com o objetivo de vender
rapidamente a casa que herdaram da falecida mulher de Robert. Mas nenhum estava
preparado para encontrar a outrora bela villa num estado de abandono total…
A
cómica falta de competência de Robert para a bricolagem leva-o a procurar a
ajuda de pitorescos habitantes locais, mas para Jack o estado da casa parece
refletir a sua busca por memórias de tempos mais felizes com a sua mãe.
Enquanto Robert e Jack
restauram meticulosamente a villa, começam também a reparar a sua relação. O
futuro poderá ser bem diferente e surpreender ambos.
Opinião
por Artur Neves
Este é um filme de memórias…
dolorosas, algumas, ternas outras, mas durante todo o tempo a história sobrevoa
um passado dos personagens, que se faz presente na direta medida do
reconhecimento do tempo perdido ao terem encerrado o passado, como se isso
fosse somente um mero resultado da vontade, da dor da recordação, ou da falta
dela no caso de um deles.
James D'Arcy é um ator (em
2019 personificou Jarvis, o mordomo, em Vingadores: Endgame) que se estreia como
realizador de uma longa metragem com este filme, numa história escrita por ele
próprio e que tem a força emocional de um pai distante, que atende o seu filho que
não vê há muito tempo, numa altura em que este precisa de dinheiro para
realizar o seu sonho, que será conseguido à custa da venda da casa da família
na Toscânia, abandonada desde o acidente fatal da mãe que desmembrou a relação.
Segundo as notas da
produção, esta história não tem qualquer relação com a perda trágica da esposa
real de Liam Neeson, em 2009, Natasha Richardson, mãe de Micheál, filho do casal,
que adotou o apelido profissional de Richardson em homenagem à falecida atriz
britânica tão importante na vida dos dois.
Todavia, não pode deixar de
haver uma transferência de sentimentos, de memórias e de emoções, sentidos pelo
ator de 68 anos e pelo seu filho de 25 ao interpretar uma história tão perto de
uma realidade dolorosa, embora ocorrida noutro local, mas que assim confere honestidade
e comoção a uma história simples na sua essência, que não seria vivida com
tanta intensidade como o filme apresenta.
Tal como referido na sinopse
tanto a casa na Toscânia, como a relação entre Robert e Jack já tiveram melhores
dias, com entulho, pó, sujidade e destruição por todos os lados, sem falar na
doninha que habita o que resta do armário e de um mural vermelho e negro que
Robert pintou numa parede inteira, ao estilo de Jackson Pollock, para aplacar a
sua fúria contra o infortúnio que o atingiu.
O plano todavia é vender a
casa, Jack está à beira do divórcio e ficará sem meios de subsistência se não
arranjar dinheiro para comprar a galeria de arte que dirige em Londres e que
pertence à sua futura ex-mulher, portanto, embora ambos tendo pouco jeito para
a bricolagem decidem por mãos à obra, com algumas ajudas extra, porque o
objetivo é uma venda rápida.
Nesta situação em que a arte
imita a vida, estão criadas as condições para uma catarse emocional que poderia
ser mais profunda, mas que D'Arcy aborda superficialmente e polvilha de
momentos de sensibilidade cómica entrelaçados com outros mais comoventes,
chegando noutras alturas ao nível da farsa. Porém todo o filme é agradável e
não se espere grandes surpresas das perspetivas que desde cedo são apontadas,
nesta história que decorre num local de grande beleza natural, numa Itália
rural com boa comida e gente boa. Representa um curto intervalo nas
preocupações contra a covid-19. Recomendo.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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