Dois casais alugam um
refúgio perfeito à beira-mar, mas, em pouco tempo, o que deveria ser um fim de
semana de descanso assume contornos sinistros…
“O Segredo do Refúgio” é o
thriller de estreia em realização de Dave Franco, protagonizado por Alison Brie
(“Glow”), Dan Stevens (“Downton Abbey”), Jeremy Allen White (“Shameless”) e
Sheila Vand (“Argo”).
Opinião
por Artur Neves
Nesta história, Dave Franco,
nascido e criado na Califórnia, estreia-se como realizador da sua primeira
longa metragem que aborda a construção do suspense
em duas formas aparentemente diversas, mas que o filme prova não estarem assim tão
distantes, considerando que na primeira aborda-se as mentiras que contamos aos
outros e a nós mesmos e na segunda, o efeito da tecnologia pôr a nu os nossos
segredos mais íntimos que não queremos partilhar com os outros e que fazem
parte da mentira que não queremos assumir.
Confuso?... nem tanto,
porque o filme consegue apresenta-las claramente no intervalo temporal de um
fim de semana, numa casa de sonho alugada para o desfrute de uma merecida pausa
intercalar na rotina do trabalho, que se transforma num angustiante pesadelo,
com uma história de infidelidade, duplamente repudiada, e a ação de voyeurismo do dono da casa num ato
declarado de violação de privacidade, que nenhum dos personagens envolvidos
quer que seja revelado.
A ideia do fim de semana
surge na cabeça de Charlie (Dan Stevens) como comemoração da conquista de um
grande projeto para a sua startup
tecnológica situada em Portland, na qual Mina (Sheila Vand) é sócia e principal
desenvolvedora de software. Para partilhar
a alegria desta significativa conquista, tanto Charlie, como Mina, incluem no
grupo os seus companheiros que são; Michelle (Alison Brie) mulher de Charlie e Josh
(Jeremy Allen White), irmão mais novo de Charlie e companheiro de Mina, por
quem nutre além de amor, uma grande admiração pela sua inteligência e conhecimento
de programação, inversamente proporcional à sua baixa autoestima, decorrente de
ser somente um condutor de Uber numa família de sucesso.
É este quarteto que aluga a
casa de sonho, que lhes é apresentada à chegada por Taylor (Toby Huss) um rude
e vagamente displicente gestor da propriedade que logo à partida se mostra
intolerante com o facto de Mina ser de origem muçulmana. Muito embora essa má
impressão à chegada não deixe sequelas no grupo, tudo se transforma quando
percebem que Taylor tem acesso à casa na ausência deles, mesmo sendo para
satisfazer um pedido de Michelle que á entrada lamentou ter-se esquecido de
trazer o seu telescópio, ao perceber que o céu límpido e a noite sem poluição
luminosa seria o lugar ideal para fazer observação das estrelas.
É neste ambiente de luxo que
subtilmente começam a emergir divergências entre os nossos quatro
protagonistas. Eles estão de fim de semana, são todos partes relacionadas,
provocam-se mutuamente com brincadeiras verbais que os caracteriza, bebem e
fumam para descontrair que simultaneamente aliviam os espartilhos da conveniência,
do ressentimento e da dúvida, até certo ponto controlada. Charlie é sempre o
mais sério, ou calculista, que restabelece o equilíbrio. Mina oscila entre um equilíbrio
delicado e a exuberância de que mais tarde se arrependerá. Michelle é uma pragmática
serena e consciente que procura cumprir os objetivos da viajem com a ajuda do
cunhado Josh, que paira um pouco à deriva tentando ocupar um lugar naquele
grupo a que ele procura pertencer.
O filme que começa como um thriller psicológico, vai evoluindo para
algo mais dramático e paranoico, embora lógico, considerando o grau de censura
que as cenas nos sugerem e que criam o suspense
crescente, embora básico e direto, que a história utiliza. Para um estreante em
realização Dave Franco mostra segurança na formação do ambiente e compreensão
na possibilidade do suspense dentro dele, todavia o final da história é brusco
e fácil que parece terem-lhe faltado tempo e dinheiro para pôr em prática
outras ideias. Ainda assim, o enredo prende o espectador e faz valer o tempo despendido.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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