14 de setembro de 2020

Opinião – “Minha querida Nora” de Méliane Marcaggi

Sinopse

Farta das infidelidades do seu marido, Louise (Alexandra Lamy), de 45 anos, parte para um fim de semana na Córsega. Mas após uma noite selvagem de paixão desenfreada com um homem que acaba morto, Louise vê-se confundida com uma namorada secreta de longa data pela temível – mas dedicadíssima – mãe dele (Miou Miou).

Pressionada pelo outro filho, que inventara uma mítica namorada para o irmão dissoluto com o intuito de tranquilizar a mãe, Louise acaba por alinhar no jogo para evitar suspeitas. Mas perante o crescente apego que a “sogra” revela por ela, Louise descobre mais sobre si mesma do que alguma vez imaginou ser possível... acabando por ganhar com isso uma família improvável.

Opinião por Artur Neves

Os franceses sabem contar histórias de amor de largo espetro, isto é, reportando-nos ao conteúdo da sinopse que resume todo o enredo da história, a infidelidade do marido Marc (Patrick Mille) ou a noite de paixão desenfreada de Louise são meros apontamentos justificativos para tudo o que se vai seguir no aspeto da amizade, respeito pelas tradições, empatia para quem nos quer bem sem nos conhecer, generosidade e autoquestionamento sobre as motivações das nossas atitudes que levam a um conhecimento mais profundo dos sentimentos enquistados por vinte anos de apagamento emocional.

Quanto a mim, é nesta vertente que esta história se afirma, embora comece com as trapalhadas habituais das comédias francesas, nos casais franceses com infidelidades mútuas e trocadilhos vários, mas que neste filme desembocam no encontro de Louise com Andréa (Miou Miou, uma atriz nascida em 1950 e com presença no cinema francês desde 1971) no personagem de uma sogra generosa para com a mulher que aturou o seu filho até esta morte anunciada mas guardada em segredo no seu coração de mãe.

O local da ação é na Córsega, montanhosa e bucólica, nos arredores de uma aldeia perdida na serra, isolada do futuro, onde as tradições pontuam e mostram o caminho para todas as relações. A igreja mostra o sentido da religião, (re ligação) ao altíssimo, embora o padre esteja preso por atitudes desviantes das práticas que apregoa, mas ainda assim constitui a referência espiritual de toda a comunidade, mesmo que presida à missa acompanhado à vista por dois guardas prisionais que nunca o largam.

O café é a sala de reuniões da aldeia, onde tudo se sabe e se comenta mesmo sem se saber, é o lugar de opinião, de crítica, de justiça, de decisão para que todo o mal acabe e todo o bem comece, com fina ironia, com comédia nas cenas mais radicais, realizado e escrito por Méliane Marcaggi uma atriz e realizadora francesa que tem andado muito pela televisão e tem neste filme a sua primeira oportunidade de longa metragem que lhe saiu bem, com sentido, graça, emoção e a subtil provocação duma cultura ancestral que com ajudas destas têm de evoluir sem contudo perderem a dignidade que as caracteriza. Muito interessante, recomendo

Classificação: 6 numa escala de 10

 

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