29 de setembro de 2020

Opinião – “I am Woman – A voz da Mudança” de Unjoo Moon

Sinopse

1966. Helen Reddy (Tilda Cobham-Hervey) chega a Nova York com a filha de três anos, uma mala e 230 dólares. Tinham-lhe dito que ganhara um contrato de gravação, mas a editora destrói-lhe prontamente as esperanças, dizendo que não precisa de mais cantoras femininas e aconselhando-a a divertir-se em Nova Iorque, antes de regressar à Austrália.

Sem visto, Helen opta por ficar em Nova Iorque de qualquer maneira, para tentar lançar uma carreira de cantora. Mal conseguindo pagar as contas e sustentar a filha, trava amizade com a lendária jornalista de rock Lillian Roxon. Esta torna-se a sua melhor amiga e inspira-a a escrever e a cantar a icónica canção "I Am Woman". Revelando-se um Hino para o Movimento Feminista, a canção estimula toda uma geração de mulheres a lutar pela mudança.

Ainda em Nova Iorque, também conhece Jeff Wald (Evan Peters), um jovem aspirante a manager de talentos que virá a ser seu agente e marido. Jeff ajuda-a a chegar aos tops, mas é viciado em droga, o que acaba por tornar tóxica a relação entre eles. Presa num rodopio de fama e dependência de Jeff, que lhe gere a vida pessoal, Helen encontra forças para recuperar o controle da sua carreira e continuar a tentar concretizar os seus sonhos.

Opinião por Artur Neves

Parece estar na moda, filmes sobre a vida de figuras destacadas da música mundial, tais como “Judy” sobre Judy Garland interpretada por Renée Zellweger, Freddie Mercury em "Bohemian Rhapsody" representado por Rami Malek que nestas crónicas eu já discordei da escolha do ator, ou Elton John em "Rocketman" representado por Taron Egerton e desta vez temos Helen Reddy a ser homenageada neste “I am Woman” representada por Tilda Cobham-Hervey uma atriz australiana, tal como Helen que para lá da música se destacou como a autora de uma canção que foi adotada como hino da emancipação feminina nos Estados Unidos, funcionando assim como a recuperação de um icon quase esquecido (em Portugal não me lembro da citação do seu nome, talvez devido à política da época) mas perfeitamente justo considerando a influencia agregadora para o movimento feminista de segunda onda que começou nos USA em 1960, durou duas décadas e espalhou-se pelo mundo ocidental com o objetivo de estabelecer uma verdadeira igualdade de oportunidades entre homens e mulheres.

Nesse campo “I am Woman” distingue-se dos seus congéneres anteriormente citados, até porque a projeção mundial de Helen Reddy foi mais modesta como cantora, sendo a sua obra mais significativa construída por raiva contra o marido e os homens em geral, numa altura em que o vício da droga exibido por este, já causava sérios danos à relação do casal.

Tal como a sinopse amplamente descreve o estrelato de Helen deveu-se à sua persistência assente no grande espírito de sacrifício em compor e cantar canções doces e suaves em bares quase desertos, numa altura em que o mundo estava voltado para os Beatles, Rolling Stones e outros intérpretes masculinos de música mais moderna que a sua.

Para o bem e para o mal conheceu o seu marido Jeff Wald (Evan Peters), numa altura em que este também procurava o seu lugar no mundo, era empreendedor, amaram-se e constituíram uma dupla em que ela era o “show” e ele o “business” e lutaram contra as gravadoras que lhe davam prémios, chamavam-lhe de “querida” mas tratavam-na com desdém e negavam-lhe a tão desejada gravação que só Jeff Wald conseguiu. Aliás Wald era um lutador, não fosse o vício da cocaína que o traiu e acabou com seu o casamento com Helen, em 1975 a sua empresa de gestão de carreiras agenciou figuras como; Miles Davis, Marvin Gaye, Sylvester Stallone, Donna Summer e Mike Tyson, entre outros. Com os novos tempos a Sony comprou a empresa de Wald, embora ele tenha continuado ao leme até 1991.

Atualmente Helen Reddy tem 79 anos, sofre de Alzheimer e vive num lar rodeada de conforto, atenções e cuidados, mas a estreia do filme em 2019 e o seu visionamento motivou-lhe memórias que a fizeram exibir um sorriso que aos filhos e aos mais próximos lembraram o seu sorriso de sempre, muito embora sem ter articulado qualquer palavra referente à época.

A performance de Tilda Cobham-Hervey é consistente e agradável de ver, personificando uma Helen que não vacila nem se deixa abater contra as contrariedades da vida e da família, todavia o argumento não esclarece o que aconteceu à sua carreira para terminar tão completamente em 1983 e porque o seu legado é generalizadamente desconhecido do público de hoje, sendo constituído por músicas intemporais, em que “I am Woman” só identifica a estrela mas não conta a história da mulher. Interessante no género.

Classificação: 6 numa escala de 10

 

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