17 de setembro de 2020

Opinião – “Summerland” de Jessica Swale

Sinopse

Alice (Gemma Arterton) é uma mulher muito independente, que, no seu escritório em Summerland, investiga e desmascara mitos, recorrendo à ciência para refutar a existência da magia. Consumida pelo trabalho, mas também profundamente só, Alice vive atormentada por um caso amoroso que viveu.

Quando Frank (Lucas Bond), um irrequieto rapaz evacuado de Londres aquando de um ataque durante a II Guerra Mundial, lhe vai parar a casa e ela se vê obrigada a cuidar dele, a inocência e curiosidade deste acordam em Alice emoções que ela julgara estarem enterradas. Aceitando a milagrosa imprevisibilidade da vida, Alice descobre que as feridas podem ser curadas, que há segundas oportunidades, e que, talvez… a magia afinal exista. Uma paixão, uma amizade, um verão inesquecível: esta é a história de Summerland.

Opinião por Artur Neves

A história que temos aqui é bem curiosa, mesmo apesar de a partir de certa parte do argumento tudo seja desvendado, embora já subliminarmente esperemos esse desfecho. Alice Lamb (Gemma Arterton em mais um bom desempenho das caraterísticas humanas) é uma escritora reclusa na sua própria casa totalmente dedicada ao seu objetivo de procurar os factos por detrás dos mitos e do folclore populares, numa missão de desmontagem de crenças.

O local é a costa litoral do condado de Kent, com as suas arribas cortadas a pique sobre o atlântico norte, numa pequena vila em que os seus habitantes não compreendem a atividade de Alice e pensam nela como espia a soldo dos alemães e os mais jovens consideram-na bruxa. Na realidade o seu comportamento social é desbragado e rude, completamente desapiedado dos mais velhos e repulsiva para os mais novos.

O governo inglês tem receio dos bombardeamentos alemães sobre Londres e promove a deslocação dos mais jovens para a província, a cargo de casais que se voluntariem para os aceitar temporariamente enquanto dure a guerra, permitindo-lhe estudar e cumprir a escolaridade da forma mais normal possível. Mesmo sem se ter candidatado, calha a Alice a custódia de Frank (Lucas Bond) cujo pai é piloto da RAF e a mãe funcionária do ministério da defesa, não podendo afastar-se da capital.

Embora muito contrariada e sem esconder o seu desagrado Alice recebe Frank, com o qual, lentamente vai estabelecendo uma relação de amizade, de companheirismo para amenizar a sua solidão ao ponto de ter com ele conversas do seu foro íntimo como a pergunta que formula se ele acharia estranho o amor entre duas mulheres. Frank responde que desde que haja amor é sempre preferível a uma ligação entre um homem e uma mulher sem amor. Percebe-se a intenção no contexto da história mas constitui uma resposta improvável na década de 40, de um miúdo de 10 anos, mesmo sendo filho de uma casal nessa situação.

Através de fragmentos em flashback ficamos a saber que o desequilíbrio emocional de Alice decorre dela ter perdido há muito tempo a mulher que amou, Vera (Gugu Mbatha-Raw que igualmente defende muito bem o seu personagem). Os seus encontros entre as duas guerras são tão encantatórios e delicados como passageiros, pois Vera tem um desejo de realização tão grande como o seu amor por Alice, mas não abdica dele.

Escrito e realizado por Jessica Swale que se estreia aqui na sua primeira longa metragem (até agora só tinha realizado curtas e filmes para a TV) a história do filme é doce, bucólica, bem interpretada e convincente em todos os seus personagens, quer sejam principais ou secundários, decorrente do seu excelente elenco. Possui alguns twists de probabilidade duvidosa mas que se aceitam no contexto da história. Como filme em ambiente de guerra que se preza, tem de ter tragédia e dor, mas conduz-nos a um final gratificante, coerente e agradável, pese embora que depois de apresentadas todas as características rezingonas de Alice, a figura materna que nos é mostrada é relativamente improvável. Ainda assim, vê-se com agrado

Classificação: 6 numa escala de 10

 

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