Sinopse
Num cenário
distópico, após uma pandemia que matou quase todas as mulheres do mundo, pai e
filha sobrevivem como podem em cidades americanas do Centro-Oeste enquanto
procuram alimento na floresta, longe do perigo dos homens.
Proteger
Rag, de 11 anos, (Anna Pniowsky) é a principal preocupação do seu pai (Casey
Affleck), que lhe ensina também ética e história, memória e moralidade, e lhe
vai lembrando o quanto a sua mãe (Elisabeth Moss) a amava.
É então que um encontro inesperado vem perturbar este
equilíbrio, ameaçando o refúgio que pai e filha criaram num mundo perigoso.
Opinião
por Artur Neves
E se subitamente, uma
perturbação aos nossos cânones de convivência social viesse semear uma proliferada
desconfiança mútua entre todos os seres de uma comunidade que lhes motivasse
uma vida furtiva, perigosa e imperativa de atenção e cuidados intensos para
qualquer movimentação, mesmo dentro de nossas casas?...
Em termos gerais é esta a
situação que Casey Affleck nos traz, neste thriller
de suspense, onde um pai
extraordinariamente preocupado em proteger a sua filha de 11 anos, fá-la passar
por filho e com “ele” percorre intermináveis caminhos de fuga sem fim à vista,
nem plano concreto para alterar esta situação de itinerância.
Os motivos, vão-nos sendo
apresentados aos poucos em ritmo de flashbacks,
que incluem notícias em velhos jornais encontrados na interminável jornada, onde
vão referindo o caos e a destruição do que sobra do mundo depois da pandemia
que o assaltou. Vai demorar algum tempo até sabermos o que aconteceu e o que
vemos é medo e desconfiança nos rostos do pai e do “filho”, brevidade em
abandonar os esconderijos onde usufruem alguma segurança, embora temporária, e obtenção
de alimentos nalguma loja abandonada, já anteriormente pilhada, coberta de
poeira, onde os bens encontrados são escassos.
Pai e filha, formam um
microcosmos inseparável, entabulam longas conversas sobre fantasias que os
fazem sonhar ou sobre assuntos sérios que lhes provocam discussões e exames de
comportamento em situações críticas. Há inevitáveis encontros com estranhos,
sendo alguns ameaçadores desde o primeiro contacto e outros aparentemente
acolhedores e amigáveis, mas a regra é, nunca confiar em ninguém, nem baixar a
guarda por um só momento que seja.
Este filme presta-se a
diferentes leituras, apresentando uma visão patriarcal forte, sobre uma jovem a
despontar na adolescência, fortemente feminina e rebelde contra a sua condição
de encobrimento da sua verdadeira natureza, Anna Pniowsky conseguiu criar um
personagem bastante credível, impedindo o seu guardião de se tornar no pai
herói que Affleck deveria pretender, ao escrever o argumento, realizar e produzir
o filme e interpretar o papel principal.
Todavia a história não é
propriamente um original, pois em 2009 John Hillcoat já nos apresentou “A
Estrada”, baseado no romance pós apocalítico de Cormac McCarthy com uma
temática semelhante embora por outros motivos e noutro contexto.
Ainda assim, o pai de Rag (Anna
Pniowsky) não se pode queixar do resultado, pois no final conclui-se que ele a
preparou para a vida num mundo que persegue o seu género, tendo conseguido
criar uma jovem poderosa e autossuficiente, capaz de realizar “uma aventura de
amor”, que ele promoveu nas suas conversas e superar as dificuldades emergentes,
com ele ou à custa dos seus meios próprios. Interessante, embora algo monótono.
Classificação: 5 numa escala
de 10