14 de outubro de 2019

Opinião – “Equipa de Assalto” de Dan Krauss


Sinopse

Quando Andrew Briggman (Nat Wolff), um jovem soldado na invasão americana do Afeganistão, é testemunha da morte de civis inocentes por outro recrutas, sob a direção de um líder sádico - o sargento Deeks (Alexander Skarsgård) - ele considera denunciá-los aos seus superiores - mas o um pelotão cada vez mais violento e fortemente armado suspeita que alguém das suas fileiras se tenha voltado contra eles, e Andrew começa a temer que ele seja o próximo alvo.

Opinião por Artur Neves

Dan Krauss é um repórter de guerra que acompanhou uma missão de soldados americanos no Afeganistão, mais propriamente na cidade de Kandahar e arredores do deserto, com vista à realização de um documentário sobre o conflito; “The Kill Team” estreado em Abril de 2018 no Tribeca Film Festival.
Posteriormente, depois de ter refletido sobre a realidade presenciada, no terreno de guerra e no acampamento entre as tropas americanas, apercebeu-se dos conflitos morais e psicológicos gerados pelo dever, espírito de grupo, lealdade para com os seus pares e a paranoia que se instala quando; o dever, o medo e os valores morais, entram em conflito nos mais profundos pensamentos de um soldado.
Daí nasceu o argumento que suporta este filme, como o mesmo nome do documentário, que se fundamenta no sangue, suor e lágrimas dos seus personagens quando confrontados na sua solidão com os valores que lhe foram inculcados em tempo de paz e que constituem as regras de convivência entre os membros da espécie humana.
De acordo com o resumo descrito na sinopse o filme revela-nos um ambiente de crescente tensão e paranoia, sempre fundamentado em pormenores e pequenos indícios comportamentais de Briggman e dos seus camaradas, sem contudo conseguir elevar a patamares significativos o nível de angústia tradicionalmente sentido em filmes de suspense. Os personagens construídos por Briggman (Nat Wolff) e Deeks (Alexander Skarsgård) são consistentes, muito particularmente este, decorrente da sua experiencia de guerra e da exibição das mortes de que é responsável através de tatuagens de caveiras nas pernas.
Deeks, além de responsável do grupo é um mestre em manipulação e em condicionamento dos comportamentos da sua equipa, fazendo com que eles o admirem, promovendo o culto de personalidade entre os soldados por meio de manifestações de apreço e elogios nem sempre verdadeiros. Todavia ele possui uma agenda e um objetivo próprios e assume que a sua missão é matar, revelada nos seus comentários antes das missões; “Boa caça” e “espero que estejam prontos para se divertirem”. Transmite ainda o conceito de que combater é bom e justo, tomando como exemplo todos os camaradas mortos ou estropiados em ações anteriores.
Com o passar do tempo e das ações em combate, alguns começam a questionar a moralidade subjacente aos atos de guerra, bem como a própria moralidade do seu desempenho embora aceitando-a por ter origem no seu líder. Assim geram-se fraturas no grupo, particularmente em Briggman que não aguenta a tensão, o ambiente com os camaradas que o questionam e os concelhos do seu pai a quem ele, através do Skype, revela as provações do seu espírito.
O filme ao dar relevo a um “pormenor” detetado no documentário, gera uma novidade narrativa que é oposta ao documentário, considerando que este se deve esgotar na objetividade dos factos. O filme ao ficcionalizar um caso concreto, é necessariamente subjetivado em função das conceções do seu autor. Como o autor de ambos é o mesmo, temos aqui um exercício de cinema curioso, que merece ser apreciado pelas múltiplas questões que levanta.

Classificação: 7 numa escala de 10

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