Sinopse
Claire (Lou
de Laâge), uma jovem rapariga de enorme beleza, provoca irreprimíveis ciúmes à
sua madrasta, Maud (Isabelle Huppert), ao ponto de a fazer premeditar o seu
homicídio quando o jovem noivo de Maud se apaixona por Clair.
Salva in extremis por um homem misterioso que a
alberga na sua quinta, Claire decide ficar na aldeia, despertando a comoção nos
seus habitantes. Primeiro um, depois dois, em breve sete “príncipes” irão
render-se aos seus encantos. Para ela, isto significa o início de uma
emancipação radical, tanto carnal como sentimental…
Opinião
por Artur Neves
Acerca do filme “Branca de
Neve e os Sapatos Mágicos” no mês passado, já teci alguns comentários sobre as
origens da verdadeira história da “Branca de Neve” dos irmãos Grimm pelo que me
dispenso agora de voltar ao assunto, numa altura em o cinema recebe mais uma
história inspirada no mesmo conto realizada por Anne Fontaine, europeia,
nascida em 1959 no Luxemburgo, que tem no curriculum “Agnus Dei – As Inocentes”
de 2016, uma história verídica sobre a violação forçada de freiras Polacas por
soldados soviéticos já no final da segunda guerra mundial, que gerou alguma
controvérsia e várias nomeações para prémios de cinema pela ousada divulgação.
Desta vez, a senhora opta
por uma adaptação da fábula infantil, totalmente desconstruída, que a torna numa
história sensual e erótica que perde sentido, considerando que ao querer respeitar
os cânones da fábula no conteúdo e na forma, torna-a ridícula.
A personagem principal
Claire, apresenta de facto, uma face atraente com lábios sensuais e gestos
infantis que respiram sensualidade sendo inevitavelmente alvo da generalizada cobiça
masculina. Maud, a grande senhora Isabelle Huppert que esbanja arte e
experiência em todas as cenas, é a madrasta ciumenta do sucesso da enteada perante
os homens e planeia a sua morte com uma maça envenenada (para seguir a história
original) entre outras tentativas falhadas.
Os sete anões, são os seus
pretendentes, cada um com a sua história particular, de acordo com o contexto de
cada encontro, de onde a “heroína” escolherá o preferido entregando-se sem
limites ou reservas à sua emancipação radical, tanto sentimental como carnal,
com uma imensa fome de viver que a paixão determina. Só que a escolha é
multifacetada em pessoas e lugares, incluindo bosques e esquilos que espreitam
a “febre” do amor, respeitando todas as particularidades inerentes à história
original, que só por “carolice” é para aqui chamada.
A história desenvolve-se em
ambientes de montanha que a fotografia de Yves Angelo engrandece e respeita com
tomadas de vista fabulosas que nos convidam ao retorno aos ambientes bucólicos,
à natureza e aos passeios de montanha. Só que, subordinar esta história, que
poderia ter a conotação que o argumentista quisesse, ao conto dos irmãos Grimm,
sugere-me que representa ainda uma fratura geracional entre os nascidos nos
últimos 40 anos e os mais antigos que eles, que por terem vivido antes do
despontar da comunicação fácil se reportavam ao livro e à história de contar. Declaro
que nada no filme nos conduz a este pensamento e que ele é apenas uma reflexão
minha.
Não sei se este filme é
simplesmente uma diversão de Fontaine para distorcer um conto clássico numa
história provocante com piadas sexuais e tentativas de humor sobre o amor
bizarro. A mim pareceu-me um filme estranho, embora tenha apreciado os desempenhos
de Isabelle Huppert e de Lou de Laâge, mas isso é pouco.
Classificação: 4,5 numa
escala de 10
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