4 de outubro de 2019

Opinião – “Branca como Neve” de Anne Fontaine


Sinopse

Claire (Lou de Laâge), uma jovem rapariga de enorme beleza, provoca irreprimíveis ciúmes à sua madrasta, Maud (Isabelle Huppert), ao ponto de a fazer premeditar o seu homicídio quando o jovem noivo de Maud se apaixona por Clair.
Salva in extremis por um homem misterioso que a alberga na sua quinta, Claire decide ficar na aldeia, despertando a comoção nos seus habitantes. Primeiro um, depois dois, em breve sete “príncipes” irão render-se aos seus encantos. Para ela, isto significa o início de uma emancipação radical, tanto carnal como sentimental…

Opinião por Artur Neves

Acerca do filme “Branca de Neve e os Sapatos Mágicos” no mês passado, já teci alguns comentários sobre as origens da verdadeira história da “Branca de Neve” dos irmãos Grimm pelo que me dispenso agora de voltar ao assunto, numa altura em o cinema recebe mais uma história inspirada no mesmo conto realizada por Anne Fontaine, europeia, nascida em 1959 no Luxemburgo, que tem no curriculum “Agnus Dei – As Inocentes” de 2016, uma história verídica sobre a violação forçada de freiras Polacas por soldados soviéticos já no final da segunda guerra mundial, que gerou alguma controvérsia e várias nomeações para prémios de cinema pela ousada divulgação.
Desta vez, a senhora opta por uma adaptação da fábula infantil, totalmente desconstruída, que a torna numa história sensual e erótica que perde sentido, considerando que ao querer respeitar os cânones da fábula no conteúdo e na forma, torna-a ridícula.
A personagem principal Claire, apresenta de facto, uma face atraente com lábios sensuais e gestos infantis que respiram sensualidade sendo inevitavelmente alvo da generalizada cobiça masculina. Maud, a grande senhora Isabelle Huppert que esbanja arte e experiência em todas as cenas, é a madrasta ciumenta do sucesso da enteada perante os homens e planeia a sua morte com uma maça envenenada (para seguir a história original) entre outras tentativas falhadas.
Os sete anões, são os seus pretendentes, cada um com a sua história particular, de acordo com o contexto de cada encontro, de onde a “heroína” escolherá o preferido entregando-se sem limites ou reservas à sua emancipação radical, tanto sentimental como carnal, com uma imensa fome de viver que a paixão determina. Só que a escolha é multifacetada em pessoas e lugares, incluindo bosques e esquilos que espreitam a “febre” do amor, respeitando todas as particularidades inerentes à história original, que só por “carolice” é para aqui chamada.
A história desenvolve-se em ambientes de montanha que a fotografia de Yves Angelo engrandece e respeita com tomadas de vista fabulosas que nos convidam ao retorno aos ambientes bucólicos, à natureza e aos passeios de montanha. Só que, subordinar esta história, que poderia ter a conotação que o argumentista quisesse, ao conto dos irmãos Grimm, sugere-me que representa ainda uma fratura geracional entre os nascidos nos últimos 40 anos e os mais antigos que eles, que por terem vivido antes do despontar da comunicação fácil se reportavam ao livro e à história de contar. Declaro que nada no filme nos conduz a este pensamento e que ele é apenas uma reflexão minha.
Não sei se este filme é simplesmente uma diversão de Fontaine para distorcer um conto clássico numa história provocante com piadas sexuais e tentativas de humor sobre o amor bizarro. A mim pareceu-me um filme estranho, embora tenha apreciado os desempenhos de Isabelle Huppert e de Lou de Laâge, mas isso é pouco.

Classificação: 4,5 numa escala de 10

Sem comentários: