24 de outubro de 2019

Opinião – “A Minha Vida com John F. Donovan” de Xavier Dolan


Sinopse

Uma década após a morte de John F. Donovan, uma estrela da TV americana (Kit Harington), um jovem ator relembra a correspondência trocada entre ambos, e o impacto que essas cartas tiveram nas suas vidas.

Opinião por Artur Neves

Nesta história o autor do argumento que também realizou o seu sétimo filme apenas com 30 anos, Xavier Dolan nasceu em Montreal, Quebec em 1989, constrói uma teia relacional entre três personagens diferentes que poderiam dar origem a três filmes distintos, razão pela qual este filme tem dificuldade em mostrar ao espectador o foco da sua narrativa.
Até agora, Xavier, tem-nos apresentados histórias sobre problemas de orientação sexual mal resolvida, de relativo êxito, assinale-se, tal como; “Amores Imaginários” de 2010, “Tom na Quinta” de 2013 ou o thriller já comentado neste blogue; “Sete Estranhos no El Royale” de 2018, que nos provoca alguma surpresa nesta abordagem não menos intimista, de uma homossexualidade latente mas que se resolve ainda dentro do tempo do filme, nas suas últimas imagens.
A história desenvolve-se, após a notícia da morte de Donovan por overdose, reportada numa entrevista que Rupert (Ben Schnetzer), adulto jovem a entrar na faculdade, concede a Audrey (Thandie Newton) uma jornalista de guerra que a contragosto a assume. Posteriormente, ela desenvolve alguma química com ele, de aceitação e compreensão sobre os problemas de bullyng que Rupert enquanto jovem, (Jacob Tremblay) sofreu na escola primária, decorrente da declaração numa aula da sua correspondência epistolar prolongada com John F. Donovan (Kit Harington) um ator que estava na expectativa de ser escolhido como protagonista de uma série de super-heróis e confidencia a Rupert jovem, os seus medos, hesitações e reservas, bem como, os problemas do seu relacionamento com a garota frágil e amarga com quem casou.
Admito que o parágrafo anterior não seja fácil de compreender à primeira leitura, mas reporta no menor número de palavras que consegui o imbróglio da trama subjacente a esta história e justifica porque no meu entender poderíamos ter três filmes em vez de um.
Durante a entrevista a história desloca-se para a frente e para trás no tempo, detalhando em cada uma dessas histórias o necessário para entender as complexas personalidades e as frustrações dolorosas de cada um dos personagens envolvidos. É genericamente uma história de homens e das suas relações complexas com as mães, ora protetoras, ora distantes e esfíngicas. Também se aborda a problemática das alterações de relacionamento familiar quando um dos elementos adquire notoriedade pública, cumulativamente a uma vida interior rica e autónoma de cada um dos personagens.
Possui também atores secundários de nomeada, tais como Grace Donovan (Susan Sarandon), como a provocadora mãe de Donovan ou Sam Turner (Natalie Portman) sempre preocupada com a saúde mental do seu filho Rupert e constrangida na sua relação com ele pela ausência do pai que por vezes ele reclama. Não menos importante é ainda a oportunidade de apreciar numa só cena, a fabulosa interpretação de Sir Michael Gambon, num personagem que estabelece um diálogo ambíguo com Donovan, mas recheado de filosofia de vida para preencher as suas inconsistências.
É pois um filme multifacetado, desconexo por vezes, dando a ideia de que Xavier Dolan reuniu muitas ideias num mesmo saco, retirou-as uma a uma, que lhe serviram como peças de um puzzle que ele encaixou à sua maneira numa figura animada que compõe este filme. Na minha opinião foram “peças” a mais que só podem ser abordadas superficialmente ou muito rapidamente sem a profundidade merecida. Todavia é um daqueles filmes que não nos sai logo da memória quando deixamos o cinema.

Classificação: 6 numa escala de 10

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