Sinopse
Uma década após a morte de John F. Donovan, uma
estrela da TV americana (Kit Harington), um jovem ator relembra a
correspondência trocada entre ambos, e o impacto que essas cartas tiveram nas
suas vidas.
Opinião
por Artur Neves
Nesta história o autor do argumento
que também realizou o seu sétimo filme apenas com 30 anos, Xavier Dolan nasceu em
Montreal, Quebec em 1989, constrói uma teia relacional entre três personagens
diferentes que poderiam dar origem a três filmes distintos, razão pela qual este
filme tem dificuldade em mostrar ao espectador o foco da sua narrativa.
Até agora, Xavier, tem-nos
apresentados histórias sobre problemas de orientação sexual mal resolvida, de
relativo êxito, assinale-se, tal como; “Amores Imaginários” de 2010, “Tom na
Quinta” de 2013 ou o thriller já comentado neste blogue; “Sete Estranhos no El
Royale” de 2018, que nos provoca alguma surpresa nesta abordagem não menos
intimista, de uma homossexualidade latente mas que se resolve ainda dentro do
tempo do filme, nas suas últimas imagens.
A história desenvolve-se, após
a notícia da morte de Donovan por overdose,
reportada numa entrevista que Rupert (Ben Schnetzer), adulto jovem a entrar na
faculdade, concede a Audrey (Thandie Newton) uma jornalista de guerra que a
contragosto a assume. Posteriormente, ela desenvolve alguma química com ele, de
aceitação e compreensão sobre os problemas de bullyng que Rupert enquanto jovem, (Jacob Tremblay) sofreu na
escola primária, decorrente da declaração numa aula da sua correspondência epistolar
prolongada com John F. Donovan (Kit Harington) um ator que estava na
expectativa de ser escolhido como protagonista de uma série de super-heróis e
confidencia a Rupert jovem, os seus medos, hesitações e reservas, bem como, os
problemas do seu relacionamento com a garota frágil e amarga com quem casou.
Admito que o parágrafo
anterior não seja fácil de compreender à primeira leitura, mas reporta no menor
número de palavras que consegui o imbróglio da trama subjacente a esta história
e justifica porque no meu entender poderíamos ter três filmes em vez de um.
Durante a entrevista a
história desloca-se para a frente e para trás no tempo, detalhando em cada uma
dessas histórias o necessário para entender as complexas personalidades e as frustrações
dolorosas de cada um dos personagens envolvidos. É genericamente uma história
de homens e das suas relações complexas com as mães, ora protetoras, ora
distantes e esfíngicas. Também se aborda a problemática das alterações de
relacionamento familiar quando um dos elementos adquire notoriedade pública, cumulativamente
a uma vida interior rica e autónoma de cada um dos personagens.
Possui também atores
secundários de nomeada, tais como Grace Donovan (Susan Sarandon), como a provocadora
mãe de Donovan ou Sam Turner (Natalie Portman) sempre preocupada com a saúde
mental do seu filho Rupert e constrangida na sua relação com ele pela ausência do
pai que por vezes ele reclama. Não menos importante é ainda a oportunidade de
apreciar numa só cena, a fabulosa interpretação de Sir Michael Gambon, num personagem
que estabelece um diálogo ambíguo com Donovan, mas recheado de filosofia de
vida para preencher as suas inconsistências.
É pois um filme
multifacetado, desconexo por vezes, dando a ideia de que Xavier Dolan reuniu muitas
ideias num mesmo saco, retirou-as uma a uma, que lhe serviram como peças de um puzzle
que ele encaixou à sua maneira numa figura animada que compõe este filme. Na minha
opinião foram “peças” a mais que só podem ser abordadas superficialmente ou
muito rapidamente sem a profundidade merecida. Todavia é um daqueles filmes que
não nos sai logo da memória quando deixamos o cinema.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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