18 de outubro de 2019

Opinião – “Anjo Perdido” de Kim Farrant


Sinopse

Lizzie (Noomi Rapace) é uma mulher melancólica que ainda sofre com a morte precoce da sua única filha e que tem dificuldades para interpretar a realidade.
Mas quando numa festa conhece a filha de Claire (Yvonne Strahovski), entra numa espiral de loucura e começa a acreditar que a menina continua viva e que aquela garota é a sua filha.

Opinião por Artur Neves

Este filme é um remake americano do filme "L'empreinte de l'Ange", realizado pelo francês Safy Nebbou em 2008, pela realizadora Australiana Kim Farrant que segue rigorosamente o argumento original. Apenas os intérpretes e os locais onde se desenrola a história mudam, só que o primeiro filme nunca foi apresentado nas salas Portuguesas pelo que se justifica assim a sua atual comercialização.
A história é um thriller psicológico, muito bem interpretado por Noomi Rapace que se tornou conhecida depois do seu assinalável desempenho em “Os Homens que Odeiam as Mulheres” de 2009, primeiro filme da saga “Millennium”, ao que se seguiram outros êxitos. Nesta história ela constrói o personagem de uma mulher divorciada, mãe de uma menina que morreu num incêndio ocorrido no hospital onde nasceu, poucas horas depois do parto.
Estes acontecimentos e os detalhes sobre a tristeza de Lizzie, quem ela é, como se comporta no seu desespero e por quem está de luto vão sendo lentamente revelados no desenrolar da ação, acompanhada por uma paisagem sonora melancólica e sinistra que torna a história sombria e carregada de luto.
Farrant sabe como contar uma história que não se adivinha e Noomi Rapace corresponde bem com uma personagem delicadamente maluca, obcecada pela filha perdida que ela teima em não aceitar a perda, rasgando-se a si própria, à sua identidade, ao seu respeito por si, numa completa escuridão do espirito, sem vontade para rir ou conviver fora da sua obsessão. A tragédia que ela não aceita, custou-lhe a sua sanidade mental, o divórcio do marido que apesar de compreender a sua dor, acha a vida tem de continuar e a custódia do filho mais velho, Thomas (Finn Little) que além de carente, sofre a presença de uma mãe ausente.
A transformação interior de Lizzie ocorre, quando no aniversário de um colega de escola de Thomas, ela vê Lola (Annika Whiteley) e se convence que aquela criança é a sua filha perdida. A partir daí ela torna-se obcecada por Lola, absolutamente fixada na menina, negando a realidade conhecida e começando a exibir um comportamento inadequado em relação a Lola que na sua inocência lhe retribui carinho pelas atenções de que é alvo.
A partir daqui a história toma outra dinâmica mais elétrica, pois Claire ( Yvonne Strahovski ) a mãe de Lola, não permite essa aproximação e faz compreensivelmente tudo para a evitar. O argumento porém, não se preocupa com as eventuais conotações obscenas que essa aproximação possa suscitar no espectador, pois Ferrant apenas pretende mostrar a dimensão da dor da perda de um filho e assim a história passa de sombria a emocionalmente visceral, a uterina, mostrando a competição entre as duas mães pela posse da sua cria e aqui Claire personifica uma resposta adequada a Lizzie, criando um personagem que tenta equilibrar a pena pela morte, com a compreensão da dor e com a raiva provocada por uma situação muito assustadora.
O final é surpreendente e não o devo revelar sob pena de mutilar a obra e retirar o gozo ao espectador, pelo que apenas acrescento que os 98 minutos despendidos no visionamento valem a pena. Muito interessante.

Classificação: 7 numa escala de 10

2 comentários:

Belinha Fernandes disse...

A minha irmã viu este filme e contou-me a história, tal qual o que aqui está! Só que ela não me disse o nome do filme e acabo agora de descobrir! Também não revelo o final - ela disse-me pois eu não fiquei interessada em ver. A presença da Naomi é sempre um factor a ter em consideração!

Marisa Luna disse...

Obrigada pela partilha!
Fiquei com vontade de ver este filme.
Bom fim de semana