30 de outubro de 2019

Opinião – “Luz da Minha Vida” de Casey Affleck


Sinopse

Num cenário distópico, após uma pandemia que matou quase todas as mulheres do mundo, pai e filha sobrevivem como podem em cidades americanas do Centro-Oeste enquanto procuram alimento na floresta, longe do perigo dos homens.
Proteger Rag, de 11 anos, (Anna Pniowsky) é a principal preocupação do seu pai (Casey Affleck), que lhe ensina também ética e história, memória e moralidade, e lhe vai lembrando o quanto a sua mãe (Elisabeth Moss) a amava.
É então que um encontro inesperado vem perturbar este equilíbrio, ameaçando o refúgio que pai e filha criaram num mundo perigoso.

Opinião por Artur Neves

E se subitamente, uma perturbação aos nossos cânones de convivência social viesse semear uma proliferada desconfiança mútua entre todos os seres de uma comunidade que lhes motivasse uma vida furtiva, perigosa e imperativa de atenção e cuidados intensos para qualquer movimentação, mesmo dentro de nossas casas?...
Em termos gerais é esta a situação que Casey Affleck nos traz, neste thriller de suspense, onde um pai extraordinariamente preocupado em proteger a sua filha de 11 anos, fá-la passar por filho e com “ele” percorre intermináveis caminhos de fuga sem fim à vista, nem plano concreto para alterar esta situação de itinerância.
Os motivos, vão-nos sendo apresentados aos poucos em ritmo de flashbacks, que incluem notícias em velhos jornais encontrados na interminável jornada, onde vão referindo o caos e a destruição do que sobra do mundo depois da pandemia que o assaltou. Vai demorar algum tempo até sabermos o que aconteceu e o que vemos é medo e desconfiança nos rostos do pai e do “filho”, brevidade em abandonar os esconderijos onde usufruem alguma segurança, embora temporária, e obtenção de alimentos nalguma loja abandonada, já anteriormente pilhada, coberta de poeira, onde os bens encontrados são escassos.
Pai e filha, formam um microcosmos inseparável, entabulam longas conversas sobre fantasias que os fazem sonhar ou sobre assuntos sérios que lhes provocam discussões e exames de comportamento em situações críticas. Há inevitáveis encontros com estranhos, sendo alguns ameaçadores desde o primeiro contacto e outros aparentemente acolhedores e amigáveis, mas a regra é, nunca confiar em ninguém, nem baixar a guarda por um só momento que seja.
Este filme presta-se a diferentes leituras, apresentando uma visão patriarcal forte, sobre uma jovem a despontar na adolescência, fortemente feminina e rebelde contra a sua condição de encobrimento da sua verdadeira natureza, Anna Pniowsky conseguiu criar um personagem bastante credível, impedindo o seu guardião de se tornar no pai herói que Affleck deveria pretender, ao escrever o argumento, realizar e produzir o filme e interpretar o papel principal.
Todavia a história não é propriamente um original, pois em 2009 John Hillcoat já nos apresentou “A Estrada”, baseado no romance pós apocalítico de Cormac McCarthy com uma temática semelhante embora por outros motivos e noutro contexto.
Ainda assim, o pai de Rag (Anna Pniowsky) não se pode queixar do resultado, pois no final conclui-se que ele a preparou para a vida num mundo que persegue o seu género, tendo conseguido criar uma jovem poderosa e autossuficiente, capaz de realizar “uma aventura de amor”, que ele promoveu nas suas conversas e superar as dificuldades emergentes, com ele ou à custa dos seus meios próprios. Interessante, embora algo monótono.

Classificação: 5 numa escala de 10

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