10 de outubro de 2019

Opinião – “A Guerra das Correntes” de Alfonso Gomez-Rejon


Sinopse

Ambientado no final do século XIX, a Guerra das Correntes, que foi uma disputa entre Thomas Edison (Benedict Cumberbatch) e George Westinghouse (Michael Shannon) sobre como deveria ser feita a distribuição da eletricidade. Edison fez uma campanha pela utilização da corrente contínua para isso, enquanto Westinghouse defendia a corrente alternada.

Opinião por Artur Neves

“A Guerra das Correntes” foi estreado no Toronto Filme Festival de 2017 mas somente agora chega às salas por ter sido produzido por Harvey Weinstein, principal alvo atingido pelo movimento #Me Too, que caiu precisamente em Outubro de 2017, (foi demitido da sua própria empresa e expulso da Academia de Cinema pelas denuncias de mais de 80 mulheres) justificando assim o “congelamento” do filme durante este intervalo de tempo até à presente data.
Arrefecidos os ânimos pelo bálsamo do tempo e depois do filme ter sido reeditado por Alfonso Gomez-Rejon com adição de cenas e redução da sua duração, eis que nos apresentam a competição desenvolvida entre 1880 e 1893, por Thomas Edison e George Westinghouse para a definição do standard de distribuição da energia elétrica nos USA, sendo o primeiro a favor da corrente contínua (CC) e o segundo, adepto da corrente alternada (AC) sendo esta segunda forma que prevaleceu e que ainda hoje se verifica em todo o mundo.
Este assunto é do foro da especialidade eletrotécnica, com múltiplos problemas técnicos associados que estão distantes do comum dos mortais, pelo que fazer deste tema um filme é pelo menos um trabalho arrojado, que se torna lânguido e arrastado entre discussões legais, jantares chiques e bailes em sumptuosos salões e uma única conversa, por sinal amena, entre os dois competidores quase no fim do filme.
O relacionamento entre ambos comporta-se com uma dinâmica semelhante entre Wolfgang Amadeus Mozart (Thomas Edison) para o seu Antonio Salieri (George Westinghouse) no fabuloso “Amadeus” de Milos Forman, só que com menos melodia, já que a música que enquadra as cenas do filme é rápida e sincopada que soa como um zumbido persistente que por vezes associamos a falha elétrica e só por aí se pode justificar o seu envolvimento.
Benedict Cumberbatch no papel de Thomas Edison constrói um personagem estudioso e concentrado mas arrogante, casado, com filhos com quem fala em código de Morse, ao mesmo tempo que manipula a imprensa com inexatidões grosseiras como por exemplo que a corrente alternada é mais perigosa do que a corrente contínua, apenas por um capricho de preferência que não respeita a verdade técnica revelando uma obsessão doentia pela prevalência da sua ideia. Apesar disso, não se coíbe de projetar uma cadeira elétrica com corrente alternada que resulta num assinalável fracasso.
Todavia, o início da sua derrota está na desistência da colaboração de Nikola Tesla (Nicholas Hoult), engenheiro, nascido na Sérvia que passa a assessorar George Westinghouse nesta demanda. Aliás Tesla é o verdadeiro adversário de Edison, embora o filme não lhe confira a relevância que merece. Por ter ficado à margem na história real também ficou à margem no filme.
Michael Shannon no papel de George Westinghouse constrói um personagem competente, um verdadeiro cavalheiro de indústria interessado em investir nas melhores técnicas, que negoceia com as autoridades e com colegas industriais em ambientes refinados da alta burguesia estabelecendo um nítido contraste entre os mundos dos dois homens.
No seu todo é um filme monótono porque a história não permite maior dinâmica, é o que é, e pode ver-se por mera curiosidade histórica, mas deve ter-se consciência ao que se vai.

Classificação: 5 numa escala de 10

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