Sinopse
Oliver (Azhy Robertson) é um
rapaz solitário que se sente diferente de toda a gente. Desesperado para
arranjar um amigo, procura consolo e refúgio no telemóvel e no tablet que nunca
larga. Quando uma misteriosa criatura utiliza os dispositivos de Oliver contra
ele, para conseguir entrar no nosso mundo, os pais de Oliver (Gillian Jacobs e
John Gallagher Jr.) têm de lutar para salvar o filho do monstro por trás dos
ecrãs.
Opinião
por Artur Neves
Ao vermos no genérico de
abertura do filme o nome “Amblin”, a produtora criada por Steven Spielberg,
podemos logo inferir que se trata de terror no seio de um drama familiar para
construir uma parábola parental, confirmada logo nos primeiros instantes em que
Oliver (Azhy Robertson), acorda no seu quarto e desloca-se à cozinha para beber
água e observa a mãe a dormir sozinha na cama, no quarto ao lado do seu e no
piso inferior o pai a dormir no sofá. É uma segura referência de que Spielberg andou
a mexer os cordelinhos no sentimentalismo do drama familiar, do lar desfeito ou
em degradação, tão ao gosto da população suburbana americana que imortalizou o
terror de Poltergeist.
Desta vez porém a evolução
tecnológica permite trocar o ecrã da televisão pelo smartphone ou pelo tablet,
em que ao toque de um dedo surge o desengonçado ser desumano; Larry que procura
um amigo, que procura o convívio com outras pessoas porque se sente muito só no
mundo virtual em que habita.
É a partir daqui que Jacob
Chase, realizador americano e também argumentista de uma curta metragem; “Larry”
de 2017, expande o conceito e se estreia nesta longa metragem cujo título em
português objetiva a história para o monstro, em vez de a direcionar para Oliver,
um menino com uma deficiência profunda no espetro do autismo e perturbações na
voz, não conseguindo articular palavras inteligíveis, o que lhe provocam
solidão, afastamento dos seus colegas na escola e motivo de bulling da classe pelas suas
dificuldades em aprender.
Para comunicar, Oliver
serve-se de um programa instalado no smartphone,
e no tablet que pronuncia as palavras
que ele quer dizer ao toque de um dedo e assim entra em contacto com Larry que
se revela no mundo virtual pedindo-lhe para jogar com ele (“Came Play”, no original). Larry não é maldito, é apenas desengonçado,
feio, segundo os padrões normais e quer companhia, surgindo como alter ego de
Oliver que sofre o afastamento dos seus colegas e os descuidos da mãe, que ao
esquecer-se temporariamente da sua condição lhe pede coisas a que ele não pode
corresponder.
O casal, Sarah (Gillian
Jacobs) e Marty (John Gallagher Jr.), culpa-se mutuamente do não reconhecimento
atempado da deficiência do seu filho Oliver e frequentemente discute causando
maior sofrimento a Oliver que não os pode ouvir a discutir. Sarah sofre o facto
de Oliver nunca a olhar nos olhos, tomando isso como prova do seu fracasso como
mãe. Marty tem vários empregos com o objetivo de suprir as necessidades de Oliver
que se sente sempre só. Este ambiente, tornando-os a todos uma família
disfuncional, propicia a entrada de Larry que sobrevive como expressão da falta
de tolerância, de compreensão e da solidão.
Todavia Jacob Chase comprometeu-se
fazer um filme de terror, pelo que tem de construir truques de curta distancia
que causem susto, iluminação interruptível sem motivo aparente, eventos somente
visíveis através da câmara do tablet,
sombras suspeitas no parque de estacionamento onde o Marty trabalha de noite, tempestades
súbitas atravessadas por raios que revelam ameaças e produzem sons assustadores,
bem como, todo o manancial de artifícios que causam expectativa e surpresa para
construir o suspense. É a indústria cinematográfica a funcionar, não podemos
levar a mal e até conseguem transformar Larry num maldito quando ele apenas
quer companhia para não se sentir tão só, tal como o desejo de Oliver em
construir uma amizade genuína para não sentir a solidão.
Em época de Halloween,
qualquer susto fica bem e Chase sabe como construí-lo com eficácia, muito
embora com este tema e para uma produção Amblin, que normalmente puxa para o
coração, o final apresenta-se razoavelmente sombrio.
Classificação: 6 numa escala
de 10