Sinopse
Rory (Jude Law), um
empresário carismático, muda a sua família para a Inglaterra na esperança de
lucrar com a Londres em expansão, de 1980. Mas quando a sua mulher, Allison
(Carrie Coon), sente dificuldades para se adaptar e a promessa de um começo
novo e lucrativo começa a esfumar-se, o casal tem de encarar as verdades
indesejadas que residem sob a superfície do seu casamento. O “Ninho” é o mais
recente filme de Sean Durkin, vencedor em Cannes do Prémio Regards Jeune com o
filme “Martha Marcy May Marlene” (2011).
Opinião
por Artur Neves
A história que nos conta
este filme situa-se na década de 80 e começa nos USA, sob a presidência de
Reagan e Margaret Theatcher no Reino Unido. É a época de ouro dos yuppies, pessoas que jogavam na bolsa e
ganhavam muito dinheiro que lhes perturbava o discernimento por confundirem
oportunidades avulsas com sucesso e capacidade negocial. É o caso de Rory O'Hara
(Jude Law) inglês de nascimento numa família modesta que seguindo o sonho
americano conseguiu riqueza na bolsa, vive numa casa que é uma homenagem ao bom
gosto, dois carros na garagem, a mulher Allison (Carrie Coon) é uma empresária
de sucesso treinando cavalos e ministrando aulas de equitação. Têm dois filhos,
Samantha (Oona Roche) do primeiro casamento de Allison é ginasta e Ben (Charlie
Shotwell) filho do casal com 10 anos frequenta uma boa escola e joga futebol
com o pai na beira da piscina.
Tudo corre bem, exceto o
auto convencimento de Rory no seu sucesso infindável, que desafia Allison a
mudarem-se para Inglaterra, com a promessa de um sucesso ainda maior, com o
desejo de seguir o dinheiro antes que ele acabe nos USA, iniciando uma carreira
no Reino Unido como continuação do contágio da atividade bolsista na Europa.
Rory não se apercebe que apenas pretende limpar a imagem de fraqueza com a vida
modesta que levava quando saiu uns anos antes. Naquela altura para ele, apenas
a progressão financeira sem limites conta desvalorizando a felicidade que tem e
a estabilidade sentida por todos os membros da família. Naquela altura apenas o
seu umbigo conta, embora ele ainda não saiba.
Mudam-se para uma
propriedade rural no Surrey que Rory comprou, uma casa imponente mas sombria,
quase uma velho castelo que transmite surpresas e mistérios das vidas passadas.
Para aliciar a família comprou prendas extravagantes para todos. Para si
guardou secretamente a possibilidade de provar que pertence a uma classe superior
do que as pessoas pensavam dele quando saiu, sem discernir que a adaptação da
sua família ao local e ao ambiente rural é penosa e está lentamente a provocar
a sua desagregação e perda de sentido.
O que se segue é a queda ao
abismo das emoções, muito bem construída por um argumento robusto escrito pelo
realizador Sean Durkin que em cada cena, em cada gesto, em cada momento nos
apresenta muitas coisas simultaneamente que correspondem a diferentes níveis de
desestruturação duma relação que se desvanece em cada contacto.
Todos os personagens estão
bem defendidos, mas destaco particularmente Allison (Carrie Coon) que
sucessivamente se vai perdendo num devaneio privado e entre cigarros compulsivamente
fumados, como no jantar de negócios em que deliberadamente se sente incapaz de
suportar por mais tempo as bazófias do marido e o abandona à mesa, ou depois de
sair do restaurante o seu auto aturdimento numa boite local entre dois vodkas e uma dança frenética pavoneando-se
em círculos para reivindicar território e aliviar uma insustentável pressão que
a asfixia. Rory (Jude Law) está igualmente bem num personagem entre o vitorioso
e os destroços de um sonho, tem boa aparência e carisma para vender ideias e
oportunidades, embora descuide os detalhes pela obsessão em se mostrar próspero,
arrastando Allison e os filhos em apostas imprudentes em que só ele acredita.
Toda a história funciona num
crescendo de ansiedade e no final tanto os personagens como o espectador já
conhecem todo o figurino, permitindo que o desconforto se transforme num
sentimento de aceitação do real. Nem a casa, nem a mudança, nem o ambiente são responsáveis
pelos factos, apenas Rory tem de reconhecer e aceitar o seu falhanço para poder
recuperar a sua vida. Os sinais de alerta estiveram visíveis para todos,
somente Rory não os viu, ou pior, negligenciou-os, Nós entendemos isso e
esperamos que Rory também o entenda. Muito interessante, bem conseguido, não se
dá pela passagem de 107 minutos, recomendo.
Classificação: 7 numa escala
de 10
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