Sinopse
Escrito, realizado e
protagonizado por Phaim Bhuiyan, é uma obra ficcional inspirada na vida do
realizador e tem sido comparada ao trabalho de Nanni Moretti pelo seu tom mais
irreverente. Bangla é uma primeira obra divertida e encantadora sobre
integração e identidade.
Opinião
por Artur Neves
Phaim Bhuiyan é neste seu
primeiro trabalho de longa metragem, um completo “One Man Show”, considerando que além de realizar e protagonizar o
filme, também escreveu o argumento com base na sua experiencia pessoal e
completa o quadro, como narrador das motivações da história, bem como, das suas
próprias reflexões sobre os eventos que nos vai mostrando, olhando-nos nos
olhos sem reservas, a nós espectadores.
É um claro trabalho de baixo
orçamento mas que não deixa de levantar questões sociais conflituantes que até
ao presente não tiveram resposta absoluta, nem foram objeto de um debate sério.
A questão de fundo que ele coloca no filme pode formular-se assim: Será curial
e correto que a segunda geração dos emigrantes num qualquer país de acolhimento,
seja obrigada a seguir e praticar a religião e a tradição dos seu
progenitores?... ou deverá aderir à cultura do país onde nasceu, cresceu, vive
e lhe proporciona um local de trabalho e perspetivas de futuro?...
Uma resposta apressada pode
indicar que lhe cabe a ele decidir, mas tal como mostra esta história, a influência
familiar, as instituições instaladas na comunidade e até o lugar onde vive, no
meio de outros emigrantes seus semelhantes, constituem um significativo lastro a
vencer para conseguir essa emancipação, até mesmo no caso de Phaim, que
conscientemente questiona essas práticas e reflete sobre elas.
Phaim trabalha como
vigilante num museu, constituiu uma banda que toca música do Bangladesh em
festas e casamentos, frequenta a mesquita, não come carne de porco nem bebe álcool,
mas caiu fulminantemente de amores por uma italiana, Asia (Carlotta Antonelli) bonita,
desembaraçada, autónoma e progressista em termos de relacionamento amoroso, que
esbarra na resistência de Phaim em seguir os seus impulsos à revelia da submissão
à sua religião e às tradições dos seus pais.
Este relacionamento traz-lhe
constrangimentos vários com a sua comunidade que ele não enjeita, dirime-os com
graça em termos de comédia e tenta resolvê-los com um amigo que vende droga num
banco de jardim e com os concelhos que procura junto do mullah da sua mesquita, o qual vimos a saber ter mais problemas do
que ele nesta área dos sentimentos.
Dos pais, não obtém mais do
que a intransigência da mãe, profundamente agarrada à tradição, o desinteresse
do pai que vive alheado nas sua memórias e a competição da irmã mais velha,
também a braços com problemas semelhantes mas que só podem ser abordados de
outro ponto de vista por ser mulher.
A abordagem está engraçada,
bem contada, maioritariamente de câmara na mão, tendo sido vencedor do Prémio
do Público na última edição em 2019, da Festa do Cinema Italiano. Vai estrear
em sala no próximo dia 22 de Outubro. Interessante.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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