Sinopse
Paulette Van Der Beck
(Juliette Binoche) e o marido (François Berléand) dirigem há muitos anos a
Escola de Gestão Doméstica de Bitche, na Alsácia-Mosela. O estabelecimento tem
por missão formar adolescentes para se tornarem donas de casa perfeitas, numa
época em que se esperava que as mulheres servissem subservientemente os
maridos. Após a morte repentina do marido, Paulette descobre que a escola está
à beira da falência e tem que assumir a responsabilidade da mesma.
Mas enquanto decorrem os
preparativos na escola para o concurso televisivo de Melhor Gestão Doméstica,
Paulette e as suas entusiásticas alunas começam a questionar os valores
prevalecentes, na senda das transformações sociais provocadas pelos protestos
nacionais do maio de 1968. Tendo reatado com André (Edouard Baer), o seu
primeiro amor, e ajudada pela excêntrica meia-irmã Gilberte (Yolande Moreau) e
pela rígida freira Marie-Thérèse (Noémie Lvovsky), Paulette junta-se às alunas
para superarem o seu estatuto oprimido e se tornarem mulheres livres.
"Manual da Boa Esposa" é uma visão humorística e satírica duma
história universal sobre a solidariedade e a igualdade de género.
Opinião
por Artur Neves
Estamos da década de 60, os
fumos da segunda guerra já se extinguiram e com eles a sociedade emergente da
década de 50. A reconstrução do pós guerra já está estabilizada e uma classe
média burguesa, estabelecida à custa da dignificação do trabalho numa sociedade
de industrialização crescente, produz filhos que começam a questionar a formatação
da moral e dos bons costumes veiculada pelos seus progenitores.
Objetivamente a história
deste filme centra-se em 1967 (eles desconhecem que Maio de 1968 já está próximo
e quais as suas consequências) mas na Alsácia-Mosela, a Escola de Gestão
Doméstica de Bitche segue o seu caminho na formação de boas esposas e donas de casa
perfeitas, segundo um figurino ultrapassado que é silenciosamente rejeitado
pelas alunas que a frequentam.
Nessa juventude já se fazem
sentir os ventos de mudança, com os sonhos de independência, de autonomia sobre
as suas vidas e o futuro de revolta contrariando frontalmente as lições da
madame Paulette Van Der Beck, a excêntrica meia-irmã do marido dela, Gilberte,
e a freira sargento Marie-Thérèse que adiciona à férrea disciplina que impõe às
alunas, toda a sua crendice em mitos e fantasias populares sobre a verdade da
natureza humana.
Toda a história é vertida em
género de comédia inteligente que confronta muitas das ideias ainda hoje
reinantes em muitos espíritos menos esclarecidos. Muitos espectadores poderão sentir-se
confrontados e incrédulos em face de afirmações jocosas sobre comportamentos, que
para eles serão perfeitamente normais, registando-se aqui a primeira fraqueza
do filme na medida em que, apresentado verdades como fantasias fúteis e esconde
o obscurantismo em profundidade que as justificou.
Aborda fundamentalmente o
movimento de emancipação feminina na década de 60 sob a forma de uma farsa
galhofeira durante o percurso de deslocação a um concurso televisivo de escolas
da mesma área de ensino em Paris, e apresenta o despertar visível da identidade
de género no florescimento do amor proibido entre duas jovens.
Todos os personagens estão
bem defendidos, com nota particular para Gilberte (Yolande Moreau) que já
possui um histórico de trabalho com este realizador, bem como para Marie-Thérèse
(Noémie Lvovsky) que nos apresenta uma freira sargento com todas as
caraterísticas inerentes. Paulette (Juliette Binoche) está sempre bem, ou não
fosse ela uma diva do cinema francês. É um filme com conteúdo, que se vê com
agrado durante 110 minutos, e faz-nos sorrir.
Classificação: 5,5 numa
escala de 10
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