Sinopse
História verídica da interrupção do concurso de Miss
Mundo, em 1970, pelo crescente Movimento de Libertação das Mulheres, um evento
que foi notícia principal em todo o mundo. Durante um dos programas de
televisão mais populares do planeta, assistido por 100 milhões de espectadores,
o Libbers interrompe a transmissão afirmando que concursos de beleza infamam as
mulheres. Assim, da noite para o dia, o Movimento ganha fama… e quando a ordem
é restaurada a escolha da vencedora provoca um novo rebuliço. Não é a favorita
sueca, mas sim a Miss Grenada, a primeira mulher negra a ser coroada Miss
Mundo. Em questão de horas, uma audiência global testemunhou a expulsão do
patriarcado do palco e o derrube do ideal ocidental de beleza.
Opinião
por Artur Neves
Não posso deixar de iniciar
esta crónica sem comentar o título que foi atribuído em Portugal a este filme,
que sugere tratar-se de uma assunção de conflito, ou de domínio das mulheres
sobre os homens, quando afinal não se trata de nada disso, mas tão somente da
teatralização de um evento real acontecido no concurso de Miss Mundo em 1970,
quando um grupo de mulheres organizadas assume uma atitude de “Mau Comportamento”
("Misbehavior",no título original) para os parâmetros comportamentais
femininos na época. É mais um exemplo de distorção de contexto na atribuição de
títulos de filmes em Portugal.
Posto isto, e tal como a
sinopse reporta o filme conta-nos a história baseada em factos e personagens
reais de como um grupo de mulheres organizadas, impugnou um concurso mundial de
beleza feminina, que na opinião delas, objetivava as mulheres, comparando-as
pelos seus atributos físicos e sexistas, de modo semelhante às avaliações de
qualidade dos potenciais compradores numa “feira de gado”.
Esta opinião reúne atualmente
um largo consenso, mas durante a primeira metade do século XX, os concursos de
beleza foram apoiados e defendidos pelas entidades oficiais e pelos mídia como uma promoção da beleza feminina,
sendo expressamente incluída a exibição de costas para a câmara, para que o
público pudesse escrutinar as formas mais ou menos rotundas das meninas em
bikini, com total aderência dos juízes e do publico presente no Royal Albert
Hall de Londres, apresentado por um Bob Hope, (representado por Greg Kinnear) armado
com um pacote de piadas cafonas, maliciosas e ridículas, mas completamente
aceite e elogiado na época. No filme, o “boneco” nem está muito bem construído
e a representação fica-se entre a imitação imperfeita e a caracterização
incompleta, mas para o que é, serve.
Em 1970, embora lentamente,
as coisas já começavam a mudar e para dignificar a prestação das debutantes, a
organização promoveu o acompanhamento permanente das Miss em concurso por uma
acompanhante cuja missão era fazê-las refletir sobre o concurso em si e sobre
as mudanças que a participação naquele evento iria introduzir nas suas vidas,
bem como a inclusão de duas Miss negras; Miss Granada (Gugu Mbatha-Raw) e Miss África
do Sul (Loreece Harrison), como que a demonstrar a universalidade da
competição, mas sem considerar a diferença de conceito que o concurso significava
para raparigas de culturas tão diferentes da europeia, constituindo uma “emenda
pior que o soneto”.
As manifestantes,
encabeçadas por Jo Robinson (Jessie Buckley) uma ruiva irreverente e destemida,
coadjuvada pela intelectual Sally Alexander (Keira Knightley) que nos primeiros
contactos não compreendem a semelhança de objetivos, embora por caminhos
diferentes, infiltram-se no espetáculo com o grupo de aderentes ao movimento, no
propósito de exibir cartazes de protesto, e ruídos que perturbam a normal exibição
do evento, embora este consiga terminar tal como esperado, com a indicação da
vencedora surpresa para os 100 milhões de espectadores espalhados pelo mundo.
A causa do protesto é válida
e embora algumas manifestantes sejam detidas não se tiram daí consequências sérias
para as protagonistas e o filme consegue mostrar com realismo o desespero e a frustração
das mulheres envolvidas no protesto, através das suas conversas sobre a
revolução que apenas iniciaram e que deve continuar para atingirem os seus
justos objetivos.
As performances estão em bom
nível e só se lamenta que a esposa de Bob Hope, Dolores (Lesley Manville) tenha
sido tão pouco utilizada, menorizada mesmo, quando personifica um elemento que
dentro da organização já não apoia o evento com o entusiasmo dos primeiros
tempos, tendo começado a sua luta separatista individual.
É um documento decisivo na
história do movimento feminista a que vale a pena assistir para formação e
conhecimento dos factos. Em exibição nos cinemas da NOS.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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