Sinopse
Quando
Raphael (François Civil) conheceu Olivia (Joséphine Japy) no secundário, foi
amor à primeira vista. Após 10 anos de casamento feliz e uma carreira próspera
como autor de best-sellers, Raphael tem tudo – ou pelo menos assim o pensa.
Após uma
enorme discussão entre o casal, Raphael acorda numa vida paralela onde é
solteiro, jogador de pingue-pongue e professor do ensino secundário, com uma
vida pouco interessante e demasiado colada à do seu melhor amigo de infância.
Percebendo que Olivia era tudo para si, Raphael terá
de fazer o impossível para reconquistar o amor de sua vida - que neste mundo
não faz a mínima ideia de quem ele é.
Opinião
por Artur Neves
Esta comédia romântica, para
lá da divulgação do amor em situações comuns, apresenta-nos uma fantasia
fundamentada na ideia de recomeço, de segunda oportunidade para concretizar uma
coisa que se tinha e se perdeu. Para lá da sua exibição em sala do circuito comercial,
faz também parte do programa da Festa do Cinema Francês 2019, em exibição em
várias cidades do país.
Enquadra-se no género do
famoso “O Feitiço do Tempo” de 1993 e de outros mais recentes, tal como, “Efeito
Borboleta” de 2004, só para citar os mais conhecidos, que através da construção
de um universo paralelo criado por um acaso e seguido pela convicção dos
personagens de que estão vivendo uma realidade metafísica, executam um
paralelismo existencial, no qual estando conscientes do paroxismo da sua
atuação, não encontram os meios para reverter o seu estado, sendo compelidos a
cumprir a realidade paralela com a qual não se identificam.
Após criado este ambiente,
em que até o tempo é diferente, é fácil criar situações confusas e ocorrências inevitáveis
que provocam sorrisos, surpresas, alegrias e tristezas inerentes ao amor
falhado, ao fracasso de uma relação que quando perdida tem mais valor e mais urgência
em ser reactivada, mas como existe noutra dimensão resta a necessidade de estabelecer
um plano para nos transpor para lá, ou para trazer quem lá está até nós. Um
problema “bicudo” portanto, com várias nuances.
O realizador Hugo Gélin,
francês de nascimento, em Paris, 1980, é o mesmo que já nos ofereceu “A Gaiola
Dourada” em 2013 com Rita Blanco e Joaquim de Almeida, já nos mostrou a sua
capacidade de nos emocionar e divertir, com argumentos da vida real, de fácil
aceitação pelo grande público mas que se esgotam em si mesmos pela natureza dos
seus motivos. Ao procurar uma história mais transcendente, presumo que pretende
subir a fasquia de uma forma rebuscada, para afinal descobrir como o amor pode
ser simples, embora por caminhos complicados.
Hugo Gélin realizou e é
também o autor do argumento, mas a sua construção está impregnada pela forma da
indústria americana contar comédias românticas. Quero dizer com isto, que a
história anda à volta de análises psicológicas, grandes bebedeiras com as
consequentes ressacas (o cinema americano é pródigo nelas) detalhes de
comportamento que merecem observação atenta, idiossincrasias e particularidades
pensadas para o desfecho que se adivinha desde o princípio, a segunda
oportunidade para repor a primeira vez perdida, com a “flecha do amor” e tudo.
Temos portanto aqui uma
diversão salutar, com fantasia, com romance, que se vê com agrado, (se não se
escamotear as vivências paralelas) que entretém durante 117 minutos e pode
ativar a memória de uma paixão anterior.
Classificação: 6 numa escala
de 10