30 de setembro de 2019

Opinião – “Amor à Segunda Vista” de Hugo Gélin


Sinopse

Quando Raphael (François Civil) conheceu Olivia (Joséphine Japy) no secundário, foi amor à primeira vista. Após 10 anos de casamento feliz e uma carreira próspera como autor de best-sellers, Raphael tem tudo – ou pelo menos assim o pensa.
Após uma enorme discussão entre o casal, Raphael acorda numa vida paralela onde é solteiro, jogador de pingue-pongue e professor do ensino secundário, com uma vida pouco interessante e demasiado colada à do seu melhor amigo de infância.
Percebendo que Olivia era tudo para si, Raphael terá de fazer o impossível para reconquistar o amor de sua vida - que neste mundo não faz a mínima ideia de quem ele é.

Opinião por Artur Neves

Esta comédia romântica, para lá da divulgação do amor em situações comuns, apresenta-nos uma fantasia fundamentada na ideia de recomeço, de segunda oportunidade para concretizar uma coisa que se tinha e se perdeu. Para lá da sua exibição em sala do circuito comercial, faz também parte do programa da Festa do Cinema Francês 2019, em exibição em várias cidades do país.
Enquadra-se no género do famoso “O Feitiço do Tempo” de 1993 e de outros mais recentes, tal como, “Efeito Borboleta” de 2004, só para citar os mais conhecidos, que através da construção de um universo paralelo criado por um acaso e seguido pela convicção dos personagens de que estão vivendo uma realidade metafísica, executam um paralelismo existencial, no qual estando conscientes do paroxismo da sua atuação, não encontram os meios para reverter o seu estado, sendo compelidos a cumprir a realidade paralela com a qual não se identificam.
Após criado este ambiente, em que até o tempo é diferente, é fácil criar situações confusas e ocorrências inevitáveis que provocam sorrisos, surpresas, alegrias e tristezas inerentes ao amor falhado, ao fracasso de uma relação que quando perdida tem mais valor e mais urgência em ser reactivada, mas como existe noutra dimensão resta a necessidade de estabelecer um plano para nos transpor para lá, ou para trazer quem lá está até nós. Um problema “bicudo” portanto, com várias nuances.
O realizador Hugo Gélin, francês de nascimento, em Paris, 1980, é o mesmo que já nos ofereceu “A Gaiola Dourada” em 2013 com Rita Blanco e Joaquim de Almeida, já nos mostrou a sua capacidade de nos emocionar e divertir, com argumentos da vida real, de fácil aceitação pelo grande público mas que se esgotam em si mesmos pela natureza dos seus motivos. Ao procurar uma história mais transcendente, presumo que pretende subir a fasquia de uma forma rebuscada, para afinal descobrir como o amor pode ser simples, embora por caminhos complicados.
Hugo Gélin realizou e é também o autor do argumento, mas a sua construção está impregnada pela forma da indústria americana contar comédias românticas. Quero dizer com isto, que a história anda à volta de análises psicológicas, grandes bebedeiras com as consequentes ressacas (o cinema americano é pródigo nelas) detalhes de comportamento que merecem observação atenta, idiossincrasias e particularidades pensadas para o desfecho que se adivinha desde o princípio, a segunda oportunidade para repor a primeira vez perdida, com a “flecha do amor” e tudo.
Temos portanto aqui uma diversão salutar, com fantasia, com romance, que se vê com agrado, (se não se escamotear as vivências paralelas) que entretém durante 117 minutos e pode ativar a memória de uma paixão anterior.

Classificação: 6 numa escala de 10

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