13 de setembro de 2019

Opinião – “Ad Astra” de James Grey


Sinopse

Este filme conta a história do astronauta Roy McBride (Brad Pitt) enquanto viaja para as extremidades do sistema solar com o objetivo de encontrar o seu pai desaparecido e desvendar um mistério que ameaça a sobrevivência do nosso planeta. Nesta expedição, Roy irá descobrir segredos que desafiam a natureza da existência humana e o nosso lugar no universo.

Opinião por Artur Neves

Ad Astra, a expressão que dá nome ao filme, tem origem na Eneida, uma epopeia latina escrita por Virgílio no século I a.C. podendo tomar diferentes sentidos no contexto em que for proferida. No aspeto aeronáutico, particularmente no que concerne à conquista espacial pode significar; “por ásperos caminhos até aos astros” (ad astra per aspera), ou mais genericamente “atingir a glória por caminhos difíceis” ou “alcançar o triunfo por feitos notáveis” e qualquer delas está adequada à história contada neste filme.
Na sequência de fortes e perturbadoras tempestades elétricas na terra, provocadas por uma entidade longínqua e desconhecida que se prevê seja provocada por Clifford McBride (Tommy Lee Jones), responsável por uma anterior expedição e pai de Roy MacBride, este é enviado numa expedição para o encontrar, despertando nele sentimentos contraditórios por uma pessoa que ele ama, mas do qual se sente abandonado desde a infância e do remorso que ele sente, de por motivo idêntico provocar isso na sua mulher, remetendo-a um lugar tão marginalizado na sua vida, decorrente da indiferença a que ele a sujeita.
Esta é pois a história de uma saga familiar de um homem amargurado, embora calmo, equilibrado, coerente, cuja memória paterna é tão débil que ele confunde a invenção da sua imaginação com a realidade histórica oficial de um homem que é lembrado e homenageado como o herói para lá do seu tempo, que teve a coragem de viajar no espaço para limites nunca antes atingidos, ad astra, e que ao ser escolhido para esta missão acende-lhe o desejo de finalmente esclarecer as conflituantes emoções que o atravessam e definir o monólogo íntimo que Roy nos dá a conhecer através consistentes narrações em off.
No fim, Roy reconhece “que somos tudo o que temos” e introduz uma linha poética considerando que as pessoas que têm outras pessoas são ricas, são únicas e estão somente aqui na terra. No espaço a realidade é bem diversa.
Para lá deste dilema, Roy é um profissional perfeito e competente em todas as tarefas a que se dedica, sejam elas previstas ou ocorram de surpresa, nos mais fantásticos cenários que o filme pode produzir sobre a galáxia e o cosmos. Esta é outra vertente importante deste filme e inclui a parte lúdica da demonstração da ciência e da tecnologia espacial muito próxima do que são já hoje ou serão num futuro muito próximo. As viagens particulares à lua são encenadas como a SpaceX, fundada em 2002 por Elon Musk, nos anda a vender á uns tempos, mas “Ad Astra” funciona, fundamentalmente porque é lindo de se olhar para a profundidade imensa do espaço fotografado por Hoyte Van Hoytema.
Foram usadas imagens reais das missões Apollo 11 a17 como inspiração, posteriormente recriadas e toda a aparência visual do filme cumpre o nosso imaginário da imensidão espacial e da majestade da coisa real que o cinema nos pode oferecer, especialmente se for vista na versão IMAX que nos absorve e convence em todos os momentos. Todos os pormenores técnicos são respeitados com rigor, conferindo ao filme consistência e realismo.
Sendo eu um adepto do cinema em casa em ecrã generoso, de definição 4K ou 8K, completado por um som multicanal digno, (7+1 ou 10+2 canais + Atmos) rendo-me em absoluto à magnificência do IMAX e recomendo o visionamento deste filme neste formato, como sendo a forma mais imersiva de desfrutar esta obra, em competição no Festival de Veneza 2019.

Classificação: 8 numa escala de 10

Sem comentários: