11 de setembro de 2019

Opinião – “Os Mortos não Morrem” de Jim Jarmusch


Sinopse

Na tranquila e pequena cidade de Centerville, passa-se algo de muito errado. A lua paira larga e baixa no céu, as horas de claridade estão a torna-se imprevisíveis, e os animais começam a exibir comportamentos fora do normal. Ninguém sabe bem porquê. As notícias são assustadoras e os cientistas mostram-se preocupados. Mas ninguém prevê as mais estranhas e perigosas consequências que em breve vão começar a assolar Centerville: Os mortos não morrem – eles erguem-se dos seus túmulos para atacarem brutalmente e devorarem os vivos, e os habitantes da cidade têm de lutar pela sobrevivência. Do realizador-argumentista Jim Jarmusch (“Paterson”, “Gimme Danger”) chega uma comédia de terror com um elenco extraordinário de atores que já trabalharam com Jarmusch (Bill Murray, Adam Driver, Chloë Sevigny, Tilda Swinton, Iggy Pop, Steve Buscemi, Tom Waits).

Opinião por Artur Neves

Não me parece bem comentar este filme sem falar ainda que brevemente de Jim Jarmusch, muito particularmente neste filme que “sabe” a homenagem a George A. Romero e ao seu “A Maldição dos Mortos Vivos” de 1978 onde pela primeira vez o mundo se viu confrontado com este conceito, que seguiu o seu caminho com as inevitáveis sequelas.
James R. Jarmusch, nascido em 1953 no Ohio, USA tem uma carreira profissional completa pelas diferentes áreas do cinema, como; argumentista, ator, editor, compositor, responsável pela fotografia e finalmente como realizador onde começou a ser notado em “Flores Partidas” de 2005, e mais recentemente em; “Só os Amantes Sobrevivem” de 2013 que representa a sua primeira incursão pelo mundo do vampirismo, muito embora tratando-os como “pessoas” e mais recentemente em “Paterson” de 2016 onde nos trás uma observação silenciosa dos triunfos e derrotas da vida quotidiana, vistos com poesia e detalhe. Em todo o seu cinema sempre mostrou preocupação em sensibilizar-nos para os aspetos controversos da vida onde no maior drama podemos experienciar, amor e comédia.
Este filme entronca nessa veia indie de contrastes, trazendo os mortos do cemitério de volta à vida consumista de todos os dias, fazendo-os levantar-se das campas em busca das suas preferências pessoais de telemóveis, café, wi-fi, Chardonnay, roupa, sem qualquer repúdio pelo excesso, despesismo ou lixo que estamos gerando, neste mundo que começa a apresentar sinais de saturação, em alterações significativas que deliberadamente negamos numa clara referencia crítica à América de Trump e à sua política belicista, potenciando a ocorrência de uma catástrofe ambiental pendente.
Contrariamente ao seu mentor, este filme de zombis não é verdadeiramente um filme de terror, nem sequer sangrento, pois os mortos-vivos desfazem-se em poeira negra que o vento espalha ao acaso. Os heróis da cena são três polícias, pachorrentos, circunspectos na análise dos acontecimentos e mais interessados em filosofarem sobre os eventuais motivos da tragédia do que em salvar o mundo, para o qual eles não sentem muita urgência.
Os atores já são velhos conhecidos dos filmes de Jarmusch; Bill Murray e Adam Driver como polícias e Tilda Switon na pele de Zelda, uma agente funerária que usa espadas de samurai. Todos desempenham personagens impassíveis, esteticamente descontraídos, personagens “jarmuschianas” direi mesmo, numa toada cinematográfica preguiçosa que faz deste filme uma comédia de terror incaracterística, com bons atores, boa música ao estilo Country, mas lamentavelmente com poucas ideias e frustrante no resultado final, porque depois das expectativas criadas esperava-se um pouco mais.
Adan Driver, na pele do polícia Ronnie Peterson, repete por diversas vezes e em diferentes situações, a frase; “Isso não vai acabar bem”, ela ganha foros de profecia, porque ao longo do desenvolvimento do filme vem-nos frequentemente à memória.

Classificação: 5 numa escala de 10

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