21 de setembro de 2019

Opinião – “Ousadas e Golpistas” de Lorene Scafaria


Sinopse

A partir de um artigo de fundo publicado na New York Magazine, "Hustlers" conta como um grupo de strippers de um clube noturno de Nova Iorque empreendeu um elaborado esquema de vingança contra os corretores de Wall Street que as enganaram.

Opinião por Artur Neves

Esta história é fundamentada num caso real baseado no artigo de Jessica Pressler, representada por Elizabeth (Julia Stiles) uma jornalista do New York Magazine a quem é concedida uma entrevista por Destiny (Constance Wu) num momento de fraqueza considerando que era co autora na burla que toda a equipa praticava. Este filme conta-nos uma história feminista, interpretado por uma mulher poderosa Ramona (Jennifer Lopez) num dos melhores papéis da sua carreira.
Os homens são aqui considerados como personagens falhadas que sucumbem aos encantos de mulheres rebeldes, “heróis populares” e não simples bonecas sexuais que usam de vários estratagemas para lhe extorquírem o dinheiro gasto na satisfação dos seus gastos sumptuários de roupas e acessórios de marca.
Ramona é magnética no seu desempenho competente e autoritário, só comparável ao seu papel em “Romance Perigoso” de 1998 onde já se identificava como uma aposta credível no mundo do cinema. Este é um dos valores do filme, consubstanciado no prazer de assistir à super estrela Jennifer Lopez (J-Lo) num personagem completo de autoridade, magnetismo, liderança sem nunca deixar de ser envolvente e protetora para as outras que a cercam.
A realizadora Lorene Scafaria segue as táticas clássicas da arte de filmar à Scorcese, incluído uma narração em off, câmara lenta para enfatizar os momentos de antecipação da ação e zooms prolongados que potenciam a emoção, tudo acompanhado de uma banda sonora bem escolhida de pop rock, desde Britney Spears a The Four Seasons, complementada com Chopin nos momentos mais escuros numa história que decorrente do seu desenvolvimento quase permite a exibição de um tema diferente para cada take.
O problema surge com a crise do subprime e a consequente queda de Wall Street em 2008 em que a loucura do dinheiro a rodos dá lugar a uma narrativa mais discreta à medida que o desemprego se começa a verificar até neste ramo de negócio. Aqui tudo muda e é a altura em que Ramona e as suas mais diretas companheiras engendram um esquema que as há de levar à prisão.
Destiny (Constance Wu, revelada em “Asiáticos Doidos e Ricos” de 2018) é a principal protegida de Ramona que inicialmente usa o striptease para apoiar a avó que a criou (é um motivo como outro qualquer, mas é lamecha e suspeito) e depois para manter a sobrevivência financeira da filha que entretanto teve, onde revela tenacidade e caráter. Ela ama Ramona ao mesmo tempo que a respeita e discorda dos seus métodos, mas a necessidade de sobrevivência a isso obriga.
A partir daqui a história requisita elementos que podem ser considerados “empréstimos” de “Viúvas” de 2018 (já comentado neste blog) ou “Showgirls” de 1995, mas que em nada o desqualifica ou menoriza, constituindo um belo espetáculo no seu todo, tanto no argumento como no soberbo desempenho de J-Lo. Recomendo.

Classificação: 7,5 numa escala de 10

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