Sinopse
Vita &
Virgínia é a história verdadeira da relação apaixonada entre a escritora Virgínia
Woolf (Elizabeth Debicki) e a enigmática aristocrata Vita Sackville-West (Gemma
Arterton) e a história do nascimento do romance “Orlando”, que os inebriantes
encontros das duas inspiraram.
Vita & Virgínia é uma história de amor, contada
num estilo contemporâneo, sobre duas mulheres – duas escritoras – que arrasaram
as barreiras sociais para encontrarem conforto na sua ligação proibida.
Opinião
por Artur Neves
Estamos em presença de mais
um filme de época, baseado na personalidade esdruxula, ou que mais exactamente podemos
classificar como bipolar, da escritora Virgínia Woolf nascida em janeiro de
1882 e conhecida como sendo uma das mais importantes figuras do modernismo do
século XX e da romancista e poetisa inglesa Vita Sackville-West com quem viveu um
tórrido, subversivo e literário romance de amor em 1920, cuja correspondência epistolar
entre ambas já deu origem a uma peça de teatro que agora chega ao cinema pela
mão de Chanya Button, nascida em Londres em 1986 e formada em literatura contemporânea
em Oxford University.
Ou seja, temos aqui uma
história sobre a aristocracia Inglesa do início do século XX, ainda fortemente influenciada
pelos dogmas e convenções vitorianas, trabalhada por quem “conhece da poda” e
que assim produz um filme que retrata o relacionamento entre as duas amantes
desde o seu conhecimento mútuo nas reuniões do Grupo de Bloomsbury, um círculo intelectual
restrito, até ao auge do seu envolvimento romântico, de cariz tão intelectual como
sensual, tão inspirador do ponto de vista criativo para ambas, como perturbador
para Virgínia ao ponto de lhe provocar manifestações da sua doença
particularmente debilitantes.
Button traça um retrato de
época com uma linguagem visual das cenas, rica e reveladora do mundo interior
das duas mulheres. Vita escreve à máquina mas a câmara capta-lhe a expressão
facial das palavras em simultâneo com a impressão das letras no papel e com o
ruído das teclas, Virgínia escreve com uma caneta de tinta ao mesmo tempo que
vemos a expressão da sua boca a balbuciar as palavras directamente para a câmara,
criando uma mística que vai para lá da página escrita. Essa técnica exprime a dinâmica
dos sentimentos que ambas mutuamente inspiram, não só quando estão separadas,
mas também quando se ouvem no rádio, em que Vita “bebe” as palavras de Virgínia.
O ambiente social daqueles
anos também não é descurado por Button com cenas filmadas em ricos cenários
aristocráticos, com um guarda-roupa bem adaptado à época e uma Isabella Rossellini
na pele de Lady Sackville, mãe de Vita e guardiã dos bons costumes e dos
segredos do casamento da filha com Harold Nicolson (Rupert Penry-Jones)
igualmente bissexual, tal como Vita, que nos tempos de hoje constituiriam o exemplo
acabado de um “casamento aberto”. Ambos tiveram relações homossexuais fora do
casamento que Lady Sackville afanosamente dissimulava nas reuniões sociais que
o seu estatuto aristocrático permitia frequentar. Todavia, para lá das suas tendências
sexuais íntimas, eram verdadeiramente dedicados um ao outro, ao ponto de
Nicolson abdicar da sua carreira diplomática para usufruir da companhia de Vita
e Buton não se esquece de evidenciar esse detalhe.
Virgínia Woolf, igualmente bissexual,
casada com Leonard Woolf (Peter Ferdinando) que a apoiava incondicionalmente e
ajudava a superar as suas crises, aceitava o seu relacionamento com Vita e lhe
corrigia os manuscritos, particularmente no romance “Orlando”, onde Virgínia
cria uma personagem que ilustra com precisão o tumulto intelectual e sensual
vivido com Vita.
Temos pois aqui um filme
sobre pessoas reais na sua faceta mais autêntica, realizado com delicadeza e
atenção aos pormenores, que por vezes pode parecer extenso e com alguma falta
de profundidade sobre os personagens, mas isso decorre somente da
multiplicidade de detalhes que nos são oferecidos para apreciação. Interessante,
para ver com paciência.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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