Sinopse
Dani (Florence Pugh) e Christian (Jack Reynor) são um
jovem casal americano cuja relação está à beira de se desmoronar. Mas depois de
se manterem juntos devido a uma tragédia familiar, Dani, em fase de luto,
junta-se a Christian e aos seus amigos numa viagem a um festival de verão, numa
remota aldeia sueca. O que começa como umas descontraídas férias de verão numa
terra de sol eterno, sofre uma reviravolta sinistra quando os aldeões convidam
os visitantes para participarem nas festividades que tornam o paraíso campestre
cada vez mais inquietante e visceralmente perturbador. Da mente visionária de
Ari Aster, chega-nos um assustador conto de fadas onde um mundo de trevas se
revela em plena luz do dia.
Opinião
por Artur Neves
Esta história inclui-se no
conhecimento da existência de cultos pagãos, em pleno século XXI na Europa
Ocidental, representados numa corrente ancestral de agradecimento e veneração
aos elementos da natureza responsáveis pelos ciclos de rejuvenescimento e morte
a que obedece o tempo dividido nas estações do ano. Esta questão não é nova e
considerando a sua espécie conotada com o ciclo da vida, costuma ser designada
como “horror popular”, considerando que se trata de um culto baseado em
práticas selvagens e não civilizadas decorrente dos dogmas inquestionáveis por
que se rege. Aliás o cinema já abordou este tema em 1973, no filme; “O
Sacrifício” de Robin Hardy onde se pode apreciar um Christopher Lee já com 25
anos de carreira, falecido em 2015 e antes da notoriedade que adquiriu
com a interpretação do personagem Conde Drácula.
Ari Aster, o realizador deste
filme que em 2018 nos ofereceu “Hereditário”, no ambiente oculto e sombrio dos
filmes de terror, apresenta-nos agora numa aprazível paisagem campestre da Suécia,
no verão em que o sol nunca se põe, isto é, as noites são sempre iluminadas
porque o sol não desaparece, uma história de suicídio, insanidade, histeria
religiosa e nudez total, dentro de um conto de fadas praticado em nove dias, em
Harga, uma organização comunal que pretende corporizar o paraíso na terra, onde
todos vestem roupas brancas, se tratam como irmãos e usam ornamentos florais
colhidos e preparados para cada situação do ritual.
Nesta comuna a multidão
feminina sobrepõe-se à masculina e como tal são elas que organizam, preparam e
executam o ritual que a história nos oferece de uma forma muito ordeira, lenta
e ritualista que sucessivamente nos prende e nos faz assistir quase
hipnoticamente. É interessante analisar como o terror se pode disseminar em
ambientes naturais verdes, brilhantes, iluminados por um sol constante, sob um
céu azul cobalto sem nuvens nem ameaças mas que nem por um só momento deixa de
ser menos perturbador, violento e fatal.
O que distingue o horror deste
filme dos tradicionais filmes de terror é que cerca de 90% do seu tempo decorre
à luz do dia, partilhado por todos e sob o sol constante para garantir a
comunhão dos atos praticados. Não considero este filme como thriller, porque
Aster não usa violência, mas antes uma crescente atmosfera nervosa recheada de
pequenos sinais que nos conferem a sensação de pesadelo crescente que paira
sobre cada cerimónia, cada personagem, cada ato, até que o real pesadelo se
concretize mas sempre de modo lento como a consumação duma vela que se acende.
A completar o ambiente temos
uma música que se insinua, canções detalhadas e bonitas sobre temas da vida
campestre que dá gosto ouvi-las e nos tenta convencer que tudo está bem e é ótimo,
mas não nos iludamos, todos os que o forem ver pensarão nele algum tempo depois
do filme terminar. Recomendo.
Classificação: 8 numa escala
de 10
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