30 de maio de 2019

Opinião – “Pequenas Mentiras entre Amigos 2” de Guillaume Canet


Sinopse

Três anos depois dos acontecimentos relatados em “Pequenas Mentiras entre Amigos”, o grupo de amigos reencontra-se, pela primeira vez desde essa altura, agora por ocasião da festa de anos surpresa de Max. A viver uma crise de meia-idade, Max refugia-se na sua casa à beira-mar, à procura de isolamento. Quando os amigos – que ele não vê há mais de três anos – aparecem de surpresa para festejar o seu aniversário, a sua surpresa é genuína, mas o acolhimento nem por isso...
Já todos quase com cinquenta anos, seguiram cada um o seu caminho e o distanciamento entre eles é bem notório. Os filhos cresceram, entretanto nasceram outros, os pais já não têm as mesmas prioridades... As separações, os acidentes da vida.... É neste contexto de amizade fragilizada e de acerto de contas que vêm à superfície antigas questões, mágoas e dúvidas. Será que a amizade irá superar estes novos desafios?

Opinião por Artur Neves

“Os Amigos são para as Ocasiões” poderia ser um subtítulo deste filme que se apresenta como a continuação do primeiro com o mesmo nome. São os mesmos atores, nas mesmas famílias que ainda perduram ou desfeitas, que se encontram em condições semelhantes na casa de férias de Max (François Cluzet) o amigo rico, que atualmente tem mais problemas do que fortuna. Na realidade há um intervalo de nove anos ente ambos os filmes que na ficção da história se reportam a três, todavia o tempo aqui é irrelevante porque os eventos relatados em ambos são intemporais e constantes na vida de todos nós. Se considerarmos que os atores são os mesmos em ambos os filmes e que cronologicamente envelheceram nove anos entre os dois trabalhos seria mais real considerar este o intervalo entre ambos os episódios.
A história mostra como somos todos “ilhas” no oceano de pessoas de que fazemos parte. Nesse oceano constituem-se “arquipélagos” que fixam a posição relativa entre algumas “ilhas” pela amizade das ligações que se estabelecem e sejam quais forem as tempestades que ocorram no oceano de pessoas, o “arquipélago” subsiste mediante a riqueza da amizade e do amor que os ligou. Nem sequer é necessário estar sempre presente para manter essa amizade, é necessário sim, é estarmos presentes quando os outros precisam de nós.
No “arquipélago” cada ilha é uma entidade indivisível, tal com aqui neste grupo de pessoas com interesses diversos, percursos, tendências e opções sexuais diferentes que se revêm para conviver, recordar amores e desamores, carpir suas mágoas, ajudar-se nos momentos dramáticos, ou redescobrir-se em ligações que pensavam estar extintas. É a vida em espetáculo, é a vida em representação pois em todos nós na relação com os outros, haverá episódios, gentis ou grosseiros, em que nos revemos nos atos que observamos na tela.
Durante 135 minutos permitimo-nos observar um microcosmos de relações, sentimentos e atos que conhecemos porque poderiam ser os nossos, no nosso “arquipélago”.
O filme basta-se a si próprio embora inclua referencias a factos desenvolvidos no primeiro filme que não são necessários conhecer para o compreender, todavia, no conjunto global desta história é interessante conhecer este grupo 10 anos antes, pelo que recomendo o visionamento do primeiro filme em DVD.

Classificação: 7 numa escala de 10

28 de maio de 2019

Opinião – “Segredos do Passado” de Francesco Cinquemani, George Gallo


Sinopse

Inspirado nos clássicos de film noir, Segredos do Passado conta a história de Carson Philips (John Travolta), uma antiga estrela de futebol americano que agora sobrevive como detetive privado. Após aceitar um banal caso de pessoa desaparecida, é obrigado a regressar à sua terra natal, onde se vê envolvido numa complexa rede de crimes e assassínios. Quando descobre que a sua filha é um dos principais suspeitos, vai ter que entrar nos segredos mais perigosos e obscuros da cidade, de modo a conseguir provar a sua inocência.

Opinião por Artur Neves

É uma inspiração num verdadeiro film noir, tão completa que durante o visionamento frequentemente me acudia à mente o ambiente criado em “Noites Escaldantes” de 1981 de Lawrence Kasdan. Não é que a história se compare ou sequer se assemelhe, mas a cidade, as relações entre as pessoas, o secretismo e a dicção Texana arrastada dos protagonistas, sugere a languidez do romance tórrido entre William Hurt e Kathleen Turner (nos seus bons tempos) numa noite de calor e morte.
A história está bem conseguida, com base no romance de Richard Salvatore que também escreveu o argumento para a realização de George Gallo que todavia não tem neste filme o seu melhor trabalho.
O enredo promete mistério, sublinhado pela narração em off do protagonista, Carson Phillips (John Travolta) detective privado, que aceita um trabalho que o faz regressar ao lugar da sua juventude e donde tinha fugido, deixando tudo e todos com quem depois de vinte anos tem de se confrontar. Até o único amor da sua vida foi abandonado nesse tempo.
Todo o elenco é conhecido e de respeito pelas suas realizações anteriores, mas aqui, talvez pela característica de film noir, e pelo tom arrastado da história parecem mais preguiçosos do que misteriosos na interpretação de uma história que noutros tempos deste elenco poderia rivalizar com “Noites Escaldantes” considerando que mistério e twists do argumento não lhe faltam. Mas não, parecem todos um bocado cansados, apesar de empenhados em cumprir o contrato. Eles constroem a atmosfera de segredo e de mistério mas sem a pitada de suspense necessária para inspirar ao espectador o investimento emocional, que talvez justifique a minha deriva para “Noites Escaldantes” durante a segunda metade do filme.
Nesta obra até os atores secundários são de primeira água, Doc, (Morgan Freeman) está muito bem como o “patrão” da cidade, detentor do poder, da polícia e dos negócios. Jayne (Famke Janssen) com a sua beleza serena constrói uma “mãe galinha” com garras de falcão credível e sofredora. (Brendan Fraser, o herói das “Múmias”) constrói um Dr. Miles Mitchell alienado, grosseiro e viciado em drogas que sucumbe no reconhecimento das suas faltas.
Portanto parece que temos tudo… falta apenas a centelha que incendeia as emoções e isso faz toda a diferença, todavia, não é para passar ao lado.

Classificação: 5,5 numa escala de 10

23 de maio de 2019

Opinião – “Aladdin” de Guy Ritchie

Sinopse

Uma emocionante e vibrante adaptação em imagem real do clássico de animação da Disney, eis o entusiasmante conto do charmoso ladrão Aladdin, da corajosa e determinada Princesa Jasmine e do Génio, que poderá ser a chave para o futuro deles. Realizado por Guy Ritchie, que traz o seu toque único de ritmo e ação à cidade portuária ficcional de Agrabah, o argumento é de John August e Ritchie, baseado em “Aladdin” da Disney.

Opinião por Artur Neves

Mais uma vez a magia tem direitos de estreia em cinema e desta vez pela mão da Major Disney que embora mantendo a história original, aliás com deve ser, apresenta-nos um conto maravilhoso de luz, cor, efeitos especiais, musical de sonho, como devem ser as cancões que nos pretendem encantar e em dimensão IMAX 3D que mais valoriza o espetáculo.
A história é simples, como convém nestas coisas de amor e magia, o ladrão de rua, Aladdin (Mena Massoud) hábil a fugir dos guardas e de outros perseguidores, é aliciado pelo primo Jafar (Marwan Kenzari) da princesa Jasmine (Naomi Scott) que lhe queria roubar o trono, para obter a lâmpada mágica que liberta o génio (Will Smith) que concede os três desejos da praxe a quem o libertar. Como o homem não é belo, nem suficientemente atlético para vencer as dificuldades de entrada na caverna da lâmpada, tem de delegar essa função em terceiros que neste caso é o nosso herói.
O problema é que o génio não é parvo e confia mais no moço que o libertou do que no autor da encomenda e temos o caldo entornado. Isto é, o moço é que é transformado em príncipe, encanta a princesa com os seus dotes, a sua mente sã e coração puro, vive um grande amor com ela e fica feliz para sempre no reino, que agora é de ambos. Tudo muito belo e amarelo…
O leitor que me desculpe mas eu já não sou capaz de dar para “peditórios” destes por muito que adore a arte cinematográfica, os filmes como veículos de histórias e o cinema em geral. Como tal, vou centrar-me na realização que é esplêndida e no formato mais imersivo que o cinema nos oferece, o visionamento espacial 3D, em dimensão IMAX e com som Dolby Atmos que aumenta consideravelmente a direcionalidade da ação e do posicionamento dos focos de interesse de cada cena.
Mesmo que não queiramos a estereoscopia visual insere-nos na ação e instintivamente desviamos a cabeça do obstáculo que parece ir colidir connosco e obtemos uma perceção aumentada de todo o ambiente onde a cena se insere, valorizado por cada objeto sonoro que é emitido para nos situar em cada instante.
Embora com a mesma história de música e encantamento o filme toma outra dimensão, outro realismo, direi mesmo, confere novidade de outro tipo a toda a história, decorrente do modo como nos é apresentada e isso é mérito dos meios técnicos e do suporte digital de que se serve. As crianças precisam de sonhar menos porque tudo o que vêm está ali, ao alcance da mão. Não sei se isso é uma vantagem real, todavia, o êxito de bilheteira é garantido.

Classificação: 6 numa escala de 10

21 de maio de 2019

Opinião – “Verão” de Kirill Serebrennikov


Sinopse

Rodado a preto e branco, "Verão" conta a vida da lenda do rock soviético Viktor Tsoi e como, no início da sua carreira, foi abraçado por outro músico da cena cultural de Leninegrado, Mike Naumenko, e a sua mulher, Natalya. "VERÃO" usa o rock'n'roll e a música popular, tanto da Rússia como dos Estados Unidos da América, para contar a história de dois "rockstars" russos dos anos 80, Viktor Tsoi da banda Kino e Mike Naumenko dos Zoopark. Baseado em factos reais e no pouco que se conhece sobre a vida de Viktor Tsoi, o filme decorre por alturas da gravação do primeiro álbum do músico e da importante inauguração do Leninegrad Rock Club (LRC), a primeira sala legal de concertos de rock da cidade (fortemente vigiada pelos serviços secretos de Moscovo), que pela sua proximidade à Finlândia e ao Ocidente, tornou-se no centro da cultura underground da ex-URSS, reunindo bandas como os Televizor, Kino, Alisa, Aquarium, Zoopark, Piknik ou Automatic Satisfiers.

Opinião por Artur Neves

Este filme foi estreado no 71º Festival de Cannes em 11 de Maio p.p. e conta-nos de forma dramatizada, embora com referências reais à vida de dois cantores de Rock; Viktor Tsoi (Teo Yoo) e Mike Naumenko (Roman Bilyk) que na década de 80 iniciaram na Rússia soviética um movimento de divulgação musical do tipo do Rock de garagem praticado no mundo ocidental, sob o olhar atento do regime e da polícia política.
Sem ser uma história marcadamente política ou anti regime, são nos apresentados factos e situações que documentam as razões isolacionistas da Rússia dos sovietes, representadas por pessoas comuns que interagem com os atores. O filme é a preto e branco, contendo todavia, cenas coloridas à posteriori e animações em desenho sobre o filme em forma de emulsão riscada, que representam sonhos, os desejos dos protagonistas, ou a forma como a vida deveria ser vivida no contexto a que se reportam. Não há espaço para confusão porque em todas elas, um “arauto” vem expressamente avisar-nos que “aquilo não aconteceu assim” e o filme segue o seu ritmo normal.
Centrado na vida de Victor Tsoi todo filme é um devaneio sobre a vivência da época em que os cantores russos estavam fascinados pelos sons que lhes chegavam do ocidente, tais como David Bowie, T. Rex ou Iggy Pop e faziam do seu seguimento e imitação o alfa o e ómega da sua existência, na ânsia de exprimirem essas influências na sua própria linguagem de música e voz, à mistura com muito álcool e abundante fumo.
“Verão”, inclui também uma expressão do amor verdade, do amor que não sofre mas que também não mente, não engana e realiza-se na sublimação do desejo. Este conceito, algo longínquo das motivações atuais da arte cénica, transporta-nos para outra dimensão de um mundo familiar e simultaneamente novo, que se estranha, mas que se aceita como algo que poderíamos ter vivido se fossemos outra vez jovens naquele tempo. No meio de todo o devaneio de música, álcool e droga, é uma ilha de serenidade.
Deste modo estabelece-se um triângulo amoroso entre Natasha (Irina Starshenbaum, linda de morrer) mulher de Mike e mãe do seu filho e Viktor Tsoi que nutre sentimentos de submissão a Mike, pelo que este o guiou e ensinou nos meandros da censura oficial às letras das suas canções e para obter as devidas autorizações para se apresentar em público.
O realizador Kirill Serebrennikov, não pôde estar presente na estreia em Cannes em virtude de se encontrar em prisão domiciliária depois de ter sido preso em Agosto de 2018 sob acusação de corrupção que se encontra atualmente em fase de investigação. Serebrennikov, está bem integrado no mundo cultural da Rússia, tendo já sido diretor de um teatro experimental, Centro Gogol, e escrito artigos de opinião não muito elogiosos a Vladimir Putin, donde, a sua prisão, estar a ser conotada com uma alegada motivação política.
“Verão” é pois um filme interessante, que nos agarra, surpreende e faz refletir como representação de um modo de ser, num tempo e num lugar que já não existem.

Classificação: 7 numa escala de 10

18 de maio de 2019

Opinião – “Hotel Mumbai” de Anthony Maras


Sinopse

Uma comovente história verídica de humanidade e heroísmo, “Hotel Mumbai” reconta, de forma vívida, o cerco de 2008 por um grupo de terroristas ao famoso Hotel Taj, em Bombaim, na India. Entre o dedicado pessoal do hotel, tanto o afamado chef Hemant Oberoi (Anupam Kher) como Arjun, um dos mais humildes funcionários do hotel (Dev Patel, de ‘Quem Quer Ser Bilionário?’, ator já nomeado para um Óscar da Academia) optam por colocar as suas vidas em risco para proteger os seus hóspedes.
Com o mundo a testemunhar os eventos, um casal em desespero, (Armie Hammer de ‘Chama-me Pelo Teu Nome’ e Nazanin Boniadide ‘Homeland’) é forçado a sacrifícios inimagináveis para proteger o seu filho recém-nascido…

Opinião por Artur Neves

Esta história relata o tenebroso ato de terrorismo ao Taj Mahal Palace Hotel em Dezembro de 2008, durante quatro dias em que a cidade de Bombaim foi alvo de vários atentados, e que um grupo de radicais Ihadis do Paquistão entraram no hotel e provocaram a morte de 160 pessoas e mais de 300 feridos, num massacre épico sobre os auspícios de uma qualquer divindade que se soubesse da utilização do seu nome e tivesse poder para isso, creio que não teria consentido.
Os assassinos são apresentados como comandados por um líder que nunca dá a cara, mas que os incentiva em nome de Deus a matar todos os infiéis por serem impuros. Os diálogos entre toda a equipa são rudimentares mostrando a fraca inteligência dos radicais e a profundidade da sua fanatização.
Ao chegar ao hotel equipados com AK-47 disparam aleatoriamente em todas as direções assassinando indiscriminadamente quem por azar se encontrasse nesse momento à frente do cano das suas armas. No caos que se gera, sobressaem o chefe de cozinha, Hemant (Anupan Kher) e um empregado de mesa Arjun ( Dev Patel) que com o risco das suas próprias vidas promovem o salvamento possível dos hóspedes baseados no profundo conhecimento que têm da estrutura de circulação do edifício. Registe-se que o chefe de cozinha corresponde a uma pessoa real que durante o assalto teve idêntico comportamento.
Para compor a história, enquanto dramatização de um evento real, foram criados alguns personagens que o filme segue de perto, tais como; um casal recém-casado com uma criança de colo, acompanhado por uma nanny que heroicamente o protege de ser morto, um hóspede Russo e sua mulher e outros elementos menores que compõe o público em geral.
Deste documento ressalta o registo para memória futura de um ato hediondo, realizado por jovens totalmente manipulados por um líder ausente, mal preparados e mal orientados, cuja única missão era disparar indiscriminadamente sobre tudo o que se mexesse, tal como no atentado da maratona de Boston, ou no massacre na ilha de Utoya, na Noruega, igualmente já reproduzidos como espetáculo cinematográfico, para que não esqueçamos a brutalidade gratuita que existe no mundo atual. Isto não significa que o mal alheio nos divirta, mas antes que o recordemos e honremos o heroísmo e o altruísmo eventualmente demonstrados, sem explorar gratuitamente o derramamento de sangue.

Classificação: 7 numa escala de 10

17 de maio de 2019

Opinião – “A Violação de Recy Taylor” de Nancy Buirski


Sinopse

Recy Taylor, é uma mãe de 24 anos negra, que é violada por seis homens brancos, em 1944, no Alabama. Nestas situações, poucas mulheres falavam, temendo pelas suas vidas. Mas Recy Taylor identificou os seus violadores. Rosa Parks investigou o caso e apoiou-a na sua tentativa de conseguir justiça. O filme expõe um legado de abuso físico das mulheres negras e revela o papel de Rosa Parks no caso de Recy Taylor.

Opinião por Artur Neves

Este documentário serve-se de imagens e filmes da ápoca para reconstituir um caso de violação sexual abusiva perpetrado por jovens adolescentes americanos brancos, na cidade de Abeville, Alabama, imbuídos do espírito vigente de impunidade legal e posse do corpo dos negros, que durante o período da escravatura nem de direitos sobre o seu próprio corpo desfrutavam, considerando que pertenciam por inteiro ao fazendeiro para quem trabalhavam.
O filme começa por narrar como os acontecimentos ocorreram, através de relatos do irmão e da irmã de Recy Taylor, que por serem órfãos de mãe recebiam os cuidados da sua irmã mais velha e teriam ficado em casa naquele dia, enquanto esta participou no serviço religiosa da comunidade rural onde residia.
Ninguém que teve conhecimento do caso, teve dúvidas da autoria do atentado, ou que o mesmo tivesse ocorrido da forma como foi relatado por Recy, todavia o xerife Gamble, amigo das famílias dos criminosos e parente de um deles, nada fez para sancionar o ato, muito pelo contrário recomendava, como ameaça velada, sobre o seu silenciamento aos familiares mais próximos da vítima, marido e pai desta.
A intervenção de Rosa Parks (a negra que em Dezembro de 1955 recusou ceder o seu lugar num autocarro a um branco, apenas por ser negra) no assunto foi feita através da NAACP (Associação Nacional para o Avanço de Pessoas de Cor) em virtude da inexistência de ação por parte das autoridades locais, tendo conseguido com isso um primeiro julgamento, embora sem qualquer efeito prático por ter sido constituído por pessoas influentes na cidade.
Com a persistência de Rosa Parks e o apoio de Recy, entretanto devastada pelo divórcio e pela censura social que a acusou de prostituição, foi aberta uma investigação estadual que recomeçou o inquérito com todos os intervenientes, vítima, os seis violadores, o xerife Gamble e todas as testemunhas do caso, donde resultou um segundo julgamento mas com resultado idêntico ao primeiro.
Todavia, a mensagem mais importante desta triste história é a ideia de impunidade, de conluio, de racismo e de injustiça social em função da cor da pele que todo o filme transmite com imagens da época e depoimentos atuais de familiares dos envolvidos, onde transparece uma certa consciência ainda aderente ao velho ideal esclavagista que justificou a guerra da secessão entre 1861 e 1865 que opôs os estados do norte aos estados do sul a que o Alabama pertence.
Considerando este evento, menos estranho se torna a recente aprovação no senado estadual do Alabama, por 25 votos contra 6, da legislação que institui a proibição do aborto em quase todas as situações. Estas e outras posições antiaborto nos USA de Donald Trump já forçaram a ONU a alterar a resolução de combate às violações e outros crimes sexuais em cenários de guerra. O futuro foi ontem!… é importante conhecer.

Classificação: 7 numa escala de 10

11 de maio de 2019

Opinião – “Extremamente perverso, Escandalosamente cruel e Vil” de Joe Berlinger


Sinopse

Crónica da vida criminosa de Ted Bundy a partir da perspectiva de Elizabeth Kloepfer, a sua namorada de longa data. Ted (Zac Efron) é atraente, inteligente, carismático e carinhoso. Liz (Lily Collins) não consegue resistir aos seus encantos. Para ela, Ted é o homem perfeito.
Até ao dia em que a felicidade e a vida perfeita do casal são quebradas para sempre.
Ted é preso e acusado de uma série de terríveis assassinatos.
A preocupação depressa dá lugar à paranóia e, à medida que as provas se acumulam, Liz é obrigada a enfrentar a verdade: o homem com quem partilha a vida pode realmente ser um psicopata.

Opinião por Artur Neves

A história contada neste filme é um thriller biográfico sobre Ted Bundy, baseado num livro publicado em 1981, de autoria da sua namorada Elizabeth Kloepfer sob o pseudónimo de Elizabeth Kendall e com o nome de: The Phanton Prince: “My Life with Ted Bundy”. No filme este personagem é representado por Liz Kendall (Lily Collins) na qualidade de mãe solteira quando conhece Ted e sucumbe aos seus encantos desde o primeiro encontro.
O realizador e produtor deste filme Joe Berlinger, que tem desenvolvido a sua carreira, mais como documentarista do que ficcionista, é também o autor de uma série documental de quatro episódios sobre este mesmo assunto, emitida pela Netflix em Janeiro de 2019, designada por: “Conversas com um Assassino: As gravações de Ted Bundy”.
Talvez devido a isso todo o relato assume um papel documental dos factos ocorridos mas que realmente não se conhecem, porque além dos cadáveres e dos corpos decepados, bem como das provas circunstanciais carreadas pela acusação, nada há que prove insofismavelmente a autoria dos assassinatos. Só depois de condenado e já no corredor da morte é que ele confessa a autoria de trinta dos crimes de que é acusado.
Aliás, a suspeita que dá origem à incriminação de Ted Bundy (Zac Efron) parte de uma denúncia da própria namorada, quando ao ver na televisão um retrato robot feito com a ajuda de uma vítima do presumível autor do atentado a que foi sujeita, reconhece nele o amor da sua vida e denuncia-o como compensação para a sua profunda desilusão.
Quanto á personalidade de Ted, nada nos é apresentado. Ele é um homem bem-parecido, bem-falante, com argumentos elaborados que frequentemente chocam de frente com a postura dos seus advogados e motivam a rotura com estes, exerce influência em todas as mulheres com quem contacta, enche a sala de audiências do tribunal com mulheres jovens que vêm assistir ao julgamento, eventualmente para sentirem a presença do perigo a que não foram sujeitas, mas não há no filme uma única palavra, ou justificação, para as suas motivações profundas.
Por outro lado, ao apresentar apenas o lado factual dos atos de um assassino em série, apresentando-o como perseverante e sonhador, para lá de sua cativante boa-aparência só serve para relevar de alguma forma, a sordidez dos seus crimes e o carácter desequilibrado do espírito que lhe deu origem. Adicionalmente, este julgamento foi transmitido em direto na televisão da época, o que transformou em espectáculo um monstruoso assassinato de mulheres.
Sublinha-se ainda a montagem exemplar das cenas que ao mostrar em paralelo a actualidade com o passado, introduz uma dinâmica no relato que a apresentação seca dos factos não poderia conferir. Interessante.

Classificação: 6 numa escala de 10

10 de maio de 2019

Opinião – “Um ato de Fé” de Roxann Dowson


Sinopse

“Um ato de Fé” baseia-se na história real do amor inabalável de uma mãe confrontada com probabilidades impossíveis. Quando o filho adotivo de Joyce Smith, John, cai num lago gelado do Missouri, toda a esperança parece perdida. Mas, enquanto John permanece no hospital em como profundo, Joyce recusa-se a desistir.
Inspiradas pela convicção inabalável de Joyce, todas as pessoas à sua volta continuam a rezar pela recuperação de John, apesar dos prognósticos adversos e historiais clínicos.
Do produtor DeVon Franklin (“O Nosso Milagre”) e adaptado ao cinema por Grant Nieporte (“Sete Vidas”) a partir do próprio livro de Joyce Smith, “Um ato de Fé” é um filme cativante que nos vem relembrar que a fé e o amor podem erguer uma montanha de esperança e, às vezes, até mesmo um milagre.

Opinião por Artur Neves

Consultando diversos relatos científicos sobre o efeito da privação de oxigénio ao cérebro encontra-se que; um tempo de 3 a 6 minutos é o máximo suportável sem danos físicos permanentes. Depois de 10 minutos é inevitável a ocorrência de danos neurológicos graves. Mais de 15 minutos não há registo de sobrevivência do ser humano à privação da normal oxigenação cerebral.
Todavia, este filme conta a história de John Smith, um adolescente guatemalteco adotado por uma família do Missouri, que em 2015 sofreu um acidente de queda num lago gelado, depois da imprevista quebra da superfície gelada. O evento foi noticiado por jornais da época, mencionando que o rapaz terá ficado submerso 15 minutos antes de ser removido, inanimado, pela equipa de resgate. Foi assistido no local e ao fim de 45 minutos sem pulsação cardíaca, a equipa médica que o assistiu no hospital estava preparada para declarar o óbito. Isso não aconteceu porque entretanto o rapaz recuperou, ficou em coma 28 dias e depois acordou, não tendo evidenciado quaisquer sequelas físicas ou mentais.
Creio poder concluir-se estar em presença de um caso extraordinário para o qual não temos qualquer explicação racional, que foi aproveitado pelo “Evangelho segundo S. Hollywood” para construir um filme evocativo da fé espiritual e da intervenção divina para cativar os crentes que generosamente deixarão o “ouro” na bilheteira. É uma forma simples e direta de colocar a fé contra a ciência médica e com isso “provar” a existência de Deus ou de qualquer transcendência mística, tenha ela o nome que tiver.
Claro que ninguém questiona porque é que Deus só interveio ao fim daquele tempo de sofrimentos para a mãe e de consternação para toda a comunidade solidária. Ou então porque é que Deus não evitou a quebra do gelo? Ou porque é que, depois de ele ter caído, saiu da vista da equipa de resgate e só foi salvo em último lugar? Será que estamos em presença de um Deus castigador que faz sofrer os que o veneram para justificar uma maior submissão à sua arbitrariedade?...
Reconheço que isto já são considerações que extravasam o motivo desta crónica, mas não posso deixar de as mencionar como apreciação deste tipo de filmes cristãos, baseados em casos reais, que sobrevalorizam o poder da oração e nos querem impressionar com a persistência de uma mãe “feroz”, cheia de fé, que se mostra inamovível no seu desejo para que o filho volte à vida a todo o custo.
Do ponto de vista cinematográfico o filme até está bem conseguido, com boas performances, por atores com qualidade que geram um ambiente dramático e credível mas simultaneamente pergunto-me qual será o público-alvo desta história. Para os cristãos fieis, acreditar em milagres é já um lugar-comum e não lhes mostra nada que eles não estejam convencidos que sabem. Para os outros só lhes deve causar perplexidade, tal como para mim, que me escuso a classificar uma obra que pretende transformar um evento extraordinário e desconhecido num milagre declarado.

Classificação: _ numa escala de 10

8 de maio de 2019

Opinião – “Uma Família no Ringue” de Stephen Merchant


Sinopse

“Uma Família no Ringue” é uma comédia inspiradora baseada na incrível história verídica de Paige (Florence Pugh), uma superestrela da WWE. Nascida no seio de uma unida família britânica de lutadores, Paige e o seu irmão Zak (Jack Lowden) ficam empolgados quando obtêm a oportunidade única de dar provas para a WWE. Mas quando Paige conquista um lugar no competitivo programa de treinos, tem de deixar a família e enfrentar este mundo novo e implacável sozinha. O caminho de Paige obriga-a a esforçar-se, a lutar pela família e em última análise a provar ao mundo que as suas diferenças são aquilo que fará dela uma estrela.
Uma história cativante, cómica e autêntica, “Uma Família no Ringue” reúne os talentos invulgares do produtor e ator Dwayne ”The Rock” Johnson e do realizador, argumentista e produtor Stephen Merchant. O elenco inclui ainda Nick Frost, Vince Vaughn e Lena Headey (“Game of Thrones”).

Opinião por Artur Neves

O Wrestling, ou a luta livre, profissionalizada ou não, como é designada na Europa, é um desporto originário dos USA, no século XIX em festividades carnavalescas, pelo que, por estes lados do Atlântico possui apenas um nicho de admiradores e poucos praticantes. Na sua essência é uma mistura de desporto e artes cénicas, sendo generalizadamente reconhecido como um entretenimento desportivo o que não invalida todavia, que os seus praticantes necessitem e cultivem uma sólida compleição atlética para o praticar.
Os combates, (matches) não envolvem competição real, sendo praticados entre atletas que desenvolvem movimentos coreografados e pré ensaiados, de acordo com o resultado pré combinado entre as equipas e a organização em função das empresas envolvidas ou dos motivos, maioritariamente comerciais, que justificaram os combates. A WWE, americana (World Wrestling Entertainment Inc.) é a maior empresa de luta do mundo e nós por cá também possuímos uma APW (Associação Portuguesa de Wrestling).
Esta introdução pretende assim contextualizar uma atividade que presumo ser estranha para a maioria dos leitores e que serve de inspiração a esta história baseada em factos verídicos, nomeadamente constituindo uma biografia sumária de Paige que há mais tempo detém o trofeu de campeã do maior evento da modalidade nos USA, designado por WrestleMania. Como em todas as situações da vida, ser o melhor exige esforço, tenacidade, espírito de sacrifício e vontade de perseguir o objetivo a que nos propusemos.
Sem ser lamecha, o filme ultrapassa o cliché fácil da menina que vai sozinha para a grande cidade e deixa a família em Norwich na Inglaterra, mostrando o caminho de uma atleta que após as naturais fragilidades da sua condição, afirma-se através de uma potente junção de energia e encenação comprometida com o meio, galvaniza o público do espetáculo com a sua prestação e vence.
Todo o filme é bem conseguido, mostrando a sua origem numa família modesta de lutadores amadores e trapaceiros, com as suas dificuldades e inconsistências, duma forma ligeira, agradável e cómica, tirando partido dos constrangimentos inerentes às lutas corpo a corpo com cenas e diálogos que motivam verdadeiras gargalhadas. O atual ator Dwayne Johnson que anteriormente foi lutador de wrestling (The Rock) aparece agora como mentor e impulsionador de uma atividade que abandonou. A realização é escorreita e no final poderemos conhecer as pessoas representadas nos personagens desta história. Interessante.

Classificação: 7 numa escala de 10

6 de maio de 2019

Opinião – “O Intruso” de Deon Taylor


Sinopse

Quando um jovem casal (Michael Ealy e Meagan Good) compra a casa dos seus sonhos em Napa Valley, pensa que encontrou o lar perfeito para dar os próximos passos em família. Mas quando o ex-proprietário (Dennis Quaid) permanece estranhamente ligado à casa e continua a infiltrar-se nas suas vidas, eles começam a suspeitar que ele esconde outras intenções para além de uma venda rápida.

Opinião por Artur Neves

O que temos neste filme é um thriller de suspense em crescendo, bem apanhado, onde o ex-proprietário Charlie Peck (Dennis Quaid) que vendeu a casa ao casal, não quer, nem pretende deixar a propriedade de que tomou posse, através de uma manobra que mais tarde viremos a conhecer.
Dennis Quaid tem um bom desempenho neste papel de louco obcecado, sem reservas de comportamento, que embora exprimindo uma loucura desequilibrada, consegue com uma simpatia fictícia manter-se próximo da propriedade que já não lhe pertence, embora ele não a queira largar. As expressões faciais de Charlie nas diferentes situações, alternando entre largos sorrisos e uma contrariedade mal contida, são a chave deste suspense em que se espera uma explosão a cada momento que ele aparece em cena, seja por que motivo for, sempre dissimulado de entreajuda e colaboração.
O primeiro contacto entre os comparadores e o vendedor não é o mais auspicioso, pois Scott e Annie (Michael Ealy e Meagan Good, respetivamente) encontram Charlie em plena atividade de caça no terreno circundante da casa. Considerando que sendo eles citadinos, modernos e cultos, a atividade da caça é algo que lhes é estranho e de certo modo incompreensível para a sua vivência noutra dimensão diferente do mundo selvagem. Eles é que escolheram a casa, mas o seu modo de vida é diferente, do que ela e o seu meio envolvente lhes pode oferecer.
Como bom thriller que se preza, temos em Annie a pessoa bem-intencionada, compreensiva, aberta aos novos relacionamentos de vizinhança com o antigo dono da propriedade, sem suspeitar de que as suas intenções não sejam as melhores e as mais apreciáveis, indiferente ao mais elementar cuidado de reserva sobre a sua própria segurança. Esta postura não será muito verosímil na vida real, mas que sem dúvida contém o cerne do suspense e provoca sobressaltos no espectador, que foi ao cinema, mesmo para os sentir.
O verso desta moeda é “O Intruso” na pele de Dennis Quaid que tem um desempenho completamente surpreendente pelo desequilíbrio que aparenta em todas as situações em que entra. O seu personagem contém elementos de um Joker tão louco como o criado pelo malogrado Heath Ledger em “O Cavaleiro das Trevas” ou Jack Nicholson em “The Shining” exibindo expressões assustadoramente convincentes e ferozes, com sorrisos maníacos, olhos esbugalhados e trejeitos faciais numa cara de plasticina que quando filmados em close-up, projetam imagens de verdadeira e assustadora loucura.
Assim sendo, temos neste filme um thriller doméstico com pontos fortes ao nível da interpretação e do argumento, realizado por quem sabe o que pretende e eficaz no aspeto do suspense transmitido ao espectador.

Classificação: 6 numa escala de 10

3 de maio de 2019

Opinião – “Guerra sem Quartel” de Lior Geller


Sinopse

Cidade de Washington. Símbolo da liberdade e do poder aos olhos dos EUA e do resto do mundo. Mas nas sombras dos monumentos e dos edifícios governamentais reside um submundo muito diferente das conhecidas imagens da capital americana – um mundo governado por gangues violentos e traficantes de droga implacáveis. Desenrolado ao longo de 24 horas no brutal meio da droga de Washington, um jovem hispânico sonha descobrir uma vida nova para si e para o seu irmão mais novo. Quando um veterano americano traumatizado chega ao bairro à procura de drogas para fugir à sua realidade, surge uma oportunidade invulgar que mudará a vida dos dois para sempre.

Opinião por Artur Neves

Jean-Claude Van Damme é um ator Belga nascido em 1960 especialista em Karate, e outras artes marciais que iniciou a sua carreira como bailarino aos 11 anos de idade e aos 18 anos teve de escolher entre as duas aptidões nas quais se revelou bom executante. A técnica de bailado adicionada às artes marciais permitiu-lhe conferir inovação aos filmes de ação, particularmente com um golpe de pernas de sua autoria em que atingia a cabeça dos adversários com uma rotação completa sobre si próprio.
Porém, 59 anos depois, este homem que não pode ser considerado velho, vale apenas pelo seu nome e pelo prestígio que esse nome empresta ao cinema, como neste filme, em que a sua presença, num papel modesto e apagado, serve somente para assinalar a presença de um mito criado no passado e que pelos vistos, ainda vende.
A história gira em torno do mundo da droga e dos gangs que a traficam, mostrando os rígidos códigos hierárquicos entre os seus membros, através de uma brutalidade no relacionamento com quem falha uma missão ou não cumpre as regras instituídas pelo líder, coração de pedra, como refere Rincon, (David Castanheda) quando confia a Lucas, (Elijah Rodriguez) uma missão complicada que inclui uma transação som um grupo rival.
Lucas, um jovem passador do gang de Rincon, que sonha com uma vida mais promissora para si e para seu irmão, entrega analgésicos e droga a Daniel (J.C. Van Damme) enquanto este, sem capacidade de falar e prestando serviço numa oficina de reparação de automóveis, onde flerta despreocupadamente Anna (Joana Metrass), afunda-se nas suas memórias traumáticas na guerra no Afeganistão e na sua dificuldade respiratória que o tolhe e limita os movimentos, mas que não o impede de constituir a ultima esperança de Lucas e de lhe prestar um apoio trágico.
Aqui reside a novidade deste filme, vermos van Damme a desempenhar um papel incomum na sua carreira, não necessariamente mau, entenda-se, mas estranho, considerando que nas suas expressões de dor, introspeção ou sofrimento, pretender convencer-nos de um certo grau de qualidade de representação que Van Damme sempre tentou demonstrar, sem todavia ser capaz de sustentar e de se tornar credível nessa vertente.
Todo o filme enfatiza o estereótipo da violência masculina dos membros “macho” do gang, com corpos literalmente cobertos de tatuagens gore, mostrando-os em modo de camara na mão, com movimentos bruscos entre o close-up dos rostos tatuados e a mão que empunha a pistola ou a faca, enfatizando as caraterísticas mais berrantes dos personagens, sem contudo mostrar outros aspetos do contexto.
É pois um filme de ação com enredo declarado, mas que prende o espetador pela truculência das cenas e pelos relacionamentos que nos são mostrados naquele submundo de atividades ilícitas.

Classificação: 5,5 numa escala de 10