Sinopse
Recy Taylor, é uma mãe de 24 anos negra, que é violada
por seis homens brancos, em 1944, no Alabama. Nestas situações, poucas mulheres
falavam, temendo pelas suas vidas. Mas Recy Taylor identificou os seus
violadores. Rosa Parks investigou o caso e apoiou-a na sua tentativa de
conseguir justiça. O filme expõe um legado de abuso físico das mulheres negras
e revela o papel de Rosa Parks no caso de Recy Taylor.
Opinião
por Artur Neves
Este documentário serve-se
de imagens e filmes da ápoca para reconstituir um caso de violação sexual
abusiva perpetrado por jovens adolescentes americanos brancos, na cidade de
Abeville, Alabama, imbuídos do espírito vigente de impunidade legal e posse do
corpo dos negros, que durante o período da escravatura nem de direitos sobre o
seu próprio corpo desfrutavam, considerando que pertenciam por inteiro ao fazendeiro
para quem trabalhavam.
O filme começa por narrar
como os acontecimentos ocorreram, através de relatos do irmão e da irmã de Recy
Taylor, que por serem órfãos de mãe recebiam os cuidados da sua irmã mais velha
e teriam ficado em casa naquele dia, enquanto esta participou no serviço
religiosa da comunidade rural onde residia.
Ninguém que teve
conhecimento do caso, teve dúvidas da autoria do atentado, ou que o mesmo
tivesse ocorrido da forma como foi relatado por Recy, todavia o xerife Gamble, amigo
das famílias dos criminosos e parente de um deles, nada fez para sancionar o
ato, muito pelo contrário recomendava, como ameaça velada, sobre o seu
silenciamento aos familiares mais próximos da vítima, marido e pai desta.
A intervenção de Rosa Parks (a
negra que em Dezembro de 1955 recusou ceder o seu lugar num autocarro a um
branco, apenas por ser negra) no assunto foi feita através da NAACP (Associação
Nacional para o Avanço de Pessoas de Cor) em virtude da inexistência de ação por
parte das autoridades locais, tendo conseguido com isso um primeiro julgamento,
embora sem qualquer efeito prático por ter sido constituído por pessoas
influentes na cidade.
Com a persistência de Rosa
Parks e o apoio de Recy, entretanto devastada pelo divórcio e pela censura
social que a acusou de prostituição, foi aberta uma investigação estadual que
recomeçou o inquérito com todos os intervenientes, vítima, os seis violadores,
o xerife Gamble e todas as testemunhas do caso, donde resultou um segundo julgamento
mas com resultado idêntico ao primeiro.
Todavia, a mensagem mais
importante desta triste história é a ideia de impunidade, de conluio, de
racismo e de injustiça social em função da cor da pele que todo o filme
transmite com imagens da época e depoimentos atuais de familiares dos
envolvidos, onde transparece uma certa consciência ainda aderente ao velho
ideal esclavagista que justificou a guerra da secessão entre 1861 e 1865 que
opôs os estados do norte aos estados do sul a que o Alabama pertence.
Considerando este evento,
menos estranho se torna a recente aprovação no senado estadual do Alabama, por
25 votos contra 6, da legislação que institui a proibição do aborto em quase
todas as situações. Estas e outras posições antiaborto nos USA de Donald Trump
já forçaram a ONU a alterar a resolução de combate às violações e outros crimes
sexuais em cenários de guerra. O futuro foi ontem!… é importante conhecer.
Classificação: 7 numa escala
de 10
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