17 de maio de 2019

Opinião – “A Violação de Recy Taylor” de Nancy Buirski


Sinopse

Recy Taylor, é uma mãe de 24 anos negra, que é violada por seis homens brancos, em 1944, no Alabama. Nestas situações, poucas mulheres falavam, temendo pelas suas vidas. Mas Recy Taylor identificou os seus violadores. Rosa Parks investigou o caso e apoiou-a na sua tentativa de conseguir justiça. O filme expõe um legado de abuso físico das mulheres negras e revela o papel de Rosa Parks no caso de Recy Taylor.

Opinião por Artur Neves

Este documentário serve-se de imagens e filmes da ápoca para reconstituir um caso de violação sexual abusiva perpetrado por jovens adolescentes americanos brancos, na cidade de Abeville, Alabama, imbuídos do espírito vigente de impunidade legal e posse do corpo dos negros, que durante o período da escravatura nem de direitos sobre o seu próprio corpo desfrutavam, considerando que pertenciam por inteiro ao fazendeiro para quem trabalhavam.
O filme começa por narrar como os acontecimentos ocorreram, através de relatos do irmão e da irmã de Recy Taylor, que por serem órfãos de mãe recebiam os cuidados da sua irmã mais velha e teriam ficado em casa naquele dia, enquanto esta participou no serviço religiosa da comunidade rural onde residia.
Ninguém que teve conhecimento do caso, teve dúvidas da autoria do atentado, ou que o mesmo tivesse ocorrido da forma como foi relatado por Recy, todavia o xerife Gamble, amigo das famílias dos criminosos e parente de um deles, nada fez para sancionar o ato, muito pelo contrário recomendava, como ameaça velada, sobre o seu silenciamento aos familiares mais próximos da vítima, marido e pai desta.
A intervenção de Rosa Parks (a negra que em Dezembro de 1955 recusou ceder o seu lugar num autocarro a um branco, apenas por ser negra) no assunto foi feita através da NAACP (Associação Nacional para o Avanço de Pessoas de Cor) em virtude da inexistência de ação por parte das autoridades locais, tendo conseguido com isso um primeiro julgamento, embora sem qualquer efeito prático por ter sido constituído por pessoas influentes na cidade.
Com a persistência de Rosa Parks e o apoio de Recy, entretanto devastada pelo divórcio e pela censura social que a acusou de prostituição, foi aberta uma investigação estadual que recomeçou o inquérito com todos os intervenientes, vítima, os seis violadores, o xerife Gamble e todas as testemunhas do caso, donde resultou um segundo julgamento mas com resultado idêntico ao primeiro.
Todavia, a mensagem mais importante desta triste história é a ideia de impunidade, de conluio, de racismo e de injustiça social em função da cor da pele que todo o filme transmite com imagens da época e depoimentos atuais de familiares dos envolvidos, onde transparece uma certa consciência ainda aderente ao velho ideal esclavagista que justificou a guerra da secessão entre 1861 e 1865 que opôs os estados do norte aos estados do sul a que o Alabama pertence.
Considerando este evento, menos estranho se torna a recente aprovação no senado estadual do Alabama, por 25 votos contra 6, da legislação que institui a proibição do aborto em quase todas as situações. Estas e outras posições antiaborto nos USA de Donald Trump já forçaram a ONU a alterar a resolução de combate às violações e outros crimes sexuais em cenários de guerra. O futuro foi ontem!… é importante conhecer.

Classificação: 7 numa escala de 10

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