10 de maio de 2019

Opinião – “Um ato de Fé” de Roxann Dowson


Sinopse

“Um ato de Fé” baseia-se na história real do amor inabalável de uma mãe confrontada com probabilidades impossíveis. Quando o filho adotivo de Joyce Smith, John, cai num lago gelado do Missouri, toda a esperança parece perdida. Mas, enquanto John permanece no hospital em como profundo, Joyce recusa-se a desistir.
Inspiradas pela convicção inabalável de Joyce, todas as pessoas à sua volta continuam a rezar pela recuperação de John, apesar dos prognósticos adversos e historiais clínicos.
Do produtor DeVon Franklin (“O Nosso Milagre”) e adaptado ao cinema por Grant Nieporte (“Sete Vidas”) a partir do próprio livro de Joyce Smith, “Um ato de Fé” é um filme cativante que nos vem relembrar que a fé e o amor podem erguer uma montanha de esperança e, às vezes, até mesmo um milagre.

Opinião por Artur Neves

Consultando diversos relatos científicos sobre o efeito da privação de oxigénio ao cérebro encontra-se que; um tempo de 3 a 6 minutos é o máximo suportável sem danos físicos permanentes. Depois de 10 minutos é inevitável a ocorrência de danos neurológicos graves. Mais de 15 minutos não há registo de sobrevivência do ser humano à privação da normal oxigenação cerebral.
Todavia, este filme conta a história de John Smith, um adolescente guatemalteco adotado por uma família do Missouri, que em 2015 sofreu um acidente de queda num lago gelado, depois da imprevista quebra da superfície gelada. O evento foi noticiado por jornais da época, mencionando que o rapaz terá ficado submerso 15 minutos antes de ser removido, inanimado, pela equipa de resgate. Foi assistido no local e ao fim de 45 minutos sem pulsação cardíaca, a equipa médica que o assistiu no hospital estava preparada para declarar o óbito. Isso não aconteceu porque entretanto o rapaz recuperou, ficou em coma 28 dias e depois acordou, não tendo evidenciado quaisquer sequelas físicas ou mentais.
Creio poder concluir-se estar em presença de um caso extraordinário para o qual não temos qualquer explicação racional, que foi aproveitado pelo “Evangelho segundo S. Hollywood” para construir um filme evocativo da fé espiritual e da intervenção divina para cativar os crentes que generosamente deixarão o “ouro” na bilheteira. É uma forma simples e direta de colocar a fé contra a ciência médica e com isso “provar” a existência de Deus ou de qualquer transcendência mística, tenha ela o nome que tiver.
Claro que ninguém questiona porque é que Deus só interveio ao fim daquele tempo de sofrimentos para a mãe e de consternação para toda a comunidade solidária. Ou então porque é que Deus não evitou a quebra do gelo? Ou porque é que, depois de ele ter caído, saiu da vista da equipa de resgate e só foi salvo em último lugar? Será que estamos em presença de um Deus castigador que faz sofrer os que o veneram para justificar uma maior submissão à sua arbitrariedade?...
Reconheço que isto já são considerações que extravasam o motivo desta crónica, mas não posso deixar de as mencionar como apreciação deste tipo de filmes cristãos, baseados em casos reais, que sobrevalorizam o poder da oração e nos querem impressionar com a persistência de uma mãe “feroz”, cheia de fé, que se mostra inamovível no seu desejo para que o filho volte à vida a todo o custo.
Do ponto de vista cinematográfico o filme até está bem conseguido, com boas performances, por atores com qualidade que geram um ambiente dramático e credível mas simultaneamente pergunto-me qual será o público-alvo desta história. Para os cristãos fieis, acreditar em milagres é já um lugar-comum e não lhes mostra nada que eles não estejam convencidos que sabem. Para os outros só lhes deve causar perplexidade, tal como para mim, que me escuso a classificar uma obra que pretende transformar um evento extraordinário e desconhecido num milagre declarado.

Classificação: _ numa escala de 10

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