Sinopse
Rodado a preto e branco, "Verão" conta a
vida da lenda do rock soviético Viktor Tsoi e como, no início da sua carreira,
foi abraçado por outro músico da cena cultural de Leninegrado, Mike Naumenko, e
a sua mulher, Natalya. "VERÃO" usa o rock'n'roll e a música popular,
tanto da Rússia como dos Estados Unidos da América, para contar a história de
dois "rockstars" russos dos anos 80, Viktor Tsoi da banda Kino e Mike
Naumenko dos Zoopark. Baseado em factos reais e no pouco que se conhece sobre a
vida de Viktor Tsoi, o filme decorre por alturas da gravação do primeiro álbum
do músico e da importante inauguração do Leninegrad Rock Club (LRC), a primeira
sala legal de concertos de rock da cidade (fortemente vigiada pelos serviços
secretos de Moscovo), que pela sua proximidade à Finlândia e ao Ocidente,
tornou-se no centro da cultura underground da ex-URSS, reunindo bandas como os
Televizor, Kino, Alisa, Aquarium, Zoopark, Piknik ou Automatic Satisfiers.
Opinião
por Artur Neves
Este filme foi estreado no
71º Festival de Cannes em 11 de Maio p.p. e conta-nos de forma dramatizada,
embora com referências reais à vida de dois cantores de Rock; Viktor Tsoi (Teo
Yoo) e Mike Naumenko (Roman Bilyk) que na década de 80 iniciaram na Rússia
soviética um movimento de divulgação musical do tipo do Rock de garagem
praticado no mundo ocidental, sob o olhar atento do regime e da polícia
política.
Sem ser uma história
marcadamente política ou anti regime, são nos apresentados factos e situações
que documentam as razões isolacionistas da Rússia dos sovietes, representadas por
pessoas comuns que interagem com os atores. O filme é a preto e branco,
contendo todavia, cenas coloridas à posteriori
e animações em desenho sobre o filme em forma de emulsão riscada, que representam
sonhos, os desejos dos protagonistas, ou a forma como a vida deveria ser vivida
no contexto a que se reportam. Não há espaço para confusão porque em todas elas,
um “arauto” vem expressamente avisar-nos que “aquilo não aconteceu assim” e o
filme segue o seu ritmo normal.
Centrado na vida de Victor Tsoi
todo filme é um devaneio sobre a vivência da época em que os cantores russos
estavam fascinados pelos sons que lhes chegavam do ocidente, tais como David
Bowie, T. Rex ou Iggy Pop e faziam do seu seguimento e imitação o alfa o e
ómega da sua existência, na ânsia de exprimirem essas influências na sua
própria linguagem de música e voz, à mistura com muito álcool e abundante fumo.
“Verão”, inclui também uma
expressão do amor verdade, do amor que não sofre mas que também não mente, não
engana e realiza-se na sublimação do desejo. Este conceito, algo longínquo das
motivações atuais da arte cénica, transporta-nos para outra dimensão de um
mundo familiar e simultaneamente novo, que se estranha, mas que se aceita como
algo que poderíamos ter vivido se fossemos outra vez jovens naquele tempo. No meio
de todo o devaneio de música, álcool e droga, é uma ilha de serenidade.
Deste modo estabelece-se um triângulo
amoroso entre Natasha (Irina Starshenbaum, linda de morrer) mulher de Mike e
mãe do seu filho e Viktor Tsoi que nutre sentimentos de submissão a Mike, pelo
que este o guiou e ensinou nos meandros da censura oficial às letras das suas
canções e para obter as devidas autorizações para se apresentar em público.
O realizador Kirill Serebrennikov,
não pôde estar presente na estreia em Cannes em virtude de se encontrar em
prisão domiciliária depois de ter sido preso em Agosto de 2018 sob acusação de
corrupção que se encontra atualmente em fase de investigação. Serebrennikov,
está bem integrado no mundo cultural da Rússia, tendo já sido diretor de um
teatro experimental, Centro Gogol, e escrito artigos de opinião não muito
elogiosos a Vladimir Putin, donde, a sua prisão, estar a ser conotada com uma alegada
motivação política.
“Verão” é pois um filme
interessante, que nos agarra, surpreende e faz refletir como representação de
um modo de ser, num tempo e num lugar que já não existem.
Classificação: 7 numa escala
de 10
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