11 de maio de 2019

Opinião – “Extremamente perverso, Escandalosamente cruel e Vil” de Joe Berlinger


Sinopse

Crónica da vida criminosa de Ted Bundy a partir da perspectiva de Elizabeth Kloepfer, a sua namorada de longa data. Ted (Zac Efron) é atraente, inteligente, carismático e carinhoso. Liz (Lily Collins) não consegue resistir aos seus encantos. Para ela, Ted é o homem perfeito.
Até ao dia em que a felicidade e a vida perfeita do casal são quebradas para sempre.
Ted é preso e acusado de uma série de terríveis assassinatos.
A preocupação depressa dá lugar à paranóia e, à medida que as provas se acumulam, Liz é obrigada a enfrentar a verdade: o homem com quem partilha a vida pode realmente ser um psicopata.

Opinião por Artur Neves

A história contada neste filme é um thriller biográfico sobre Ted Bundy, baseado num livro publicado em 1981, de autoria da sua namorada Elizabeth Kloepfer sob o pseudónimo de Elizabeth Kendall e com o nome de: The Phanton Prince: “My Life with Ted Bundy”. No filme este personagem é representado por Liz Kendall (Lily Collins) na qualidade de mãe solteira quando conhece Ted e sucumbe aos seus encantos desde o primeiro encontro.
O realizador e produtor deste filme Joe Berlinger, que tem desenvolvido a sua carreira, mais como documentarista do que ficcionista, é também o autor de uma série documental de quatro episódios sobre este mesmo assunto, emitida pela Netflix em Janeiro de 2019, designada por: “Conversas com um Assassino: As gravações de Ted Bundy”.
Talvez devido a isso todo o relato assume um papel documental dos factos ocorridos mas que realmente não se conhecem, porque além dos cadáveres e dos corpos decepados, bem como das provas circunstanciais carreadas pela acusação, nada há que prove insofismavelmente a autoria dos assassinatos. Só depois de condenado e já no corredor da morte é que ele confessa a autoria de trinta dos crimes de que é acusado.
Aliás, a suspeita que dá origem à incriminação de Ted Bundy (Zac Efron) parte de uma denúncia da própria namorada, quando ao ver na televisão um retrato robot feito com a ajuda de uma vítima do presumível autor do atentado a que foi sujeita, reconhece nele o amor da sua vida e denuncia-o como compensação para a sua profunda desilusão.
Quanto á personalidade de Ted, nada nos é apresentado. Ele é um homem bem-parecido, bem-falante, com argumentos elaborados que frequentemente chocam de frente com a postura dos seus advogados e motivam a rotura com estes, exerce influência em todas as mulheres com quem contacta, enche a sala de audiências do tribunal com mulheres jovens que vêm assistir ao julgamento, eventualmente para sentirem a presença do perigo a que não foram sujeitas, mas não há no filme uma única palavra, ou justificação, para as suas motivações profundas.
Por outro lado, ao apresentar apenas o lado factual dos atos de um assassino em série, apresentando-o como perseverante e sonhador, para lá de sua cativante boa-aparência só serve para relevar de alguma forma, a sordidez dos seus crimes e o carácter desequilibrado do espírito que lhe deu origem. Adicionalmente, este julgamento foi transmitido em direto na televisão da época, o que transformou em espectáculo um monstruoso assassinato de mulheres.
Sublinha-se ainda a montagem exemplar das cenas que ao mostrar em paralelo a actualidade com o passado, introduz uma dinâmica no relato que a apresentação seca dos factos não poderia conferir. Interessante.

Classificação: 6 numa escala de 10

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