Sinopse
Início do século XVIII, Inglaterra está em guerra com
França. No entanto as corridas de patos continuam a prosperar e comem-se ananases
ostensivamente. Uma frágil rainha Anne (Olivia Colman) ocupa o trono e a sua
amiga mais próxima, Lady Sarah (Rachel Weisz), governa o país por ela e ao
mesmo tempo cuida da saúde precária de Anne e gere o seu temperamento
imprevisível. Quando a nova criada Abigail (Emma Stone) chega, o seu charme
conquista Sarah que leva Abigail sob a sua asa e Abigail vê aqui uma
oportunidade de voltar às suas raízes aristocráticas. Como a guerra acaba por
consumir bastante o tempo de Sarah, Abigail entra em cena subtilmente para
assumir o papel de dama de companhia da rainha. Esta ascendente amizade dá-lhe
assim a hipótese de cumprir as suas ambições, não deixando nenhuma mulher,
homem, político ou coelho ficar no seu caminho.
Opinião
por Artur Neves
Durante muitos anos quiseram
divulgar a ideia do comportamento impoluto das monarquias e dos seus
representantes, reis ou rainhas, que governaram a Europa até aos nossos dias,
publicitando uma imagem incorreta de lisura, perfeição e sabedoria em todos os
seus atos de governo e pessoais. Os livros da escola pintaram as monarquias com
cores de luxo e de circunstância e condicionaram a nossa imagem desses tempos a
um conjunto de datas e de factos descontextualizados da verdade vivida.
Felizmente isso hoje já é
passado e o realizador grego que vive em Londres; Yorgos Lanthimos, que tem no
seu curriculum “Canino” (2009) e “A Lagosta” (2015), sobre deficiências humanas,
apresenta-nos uma versão da realidade dos factos históricos neste excelente filme;
“A Favorita”, sobre o reinado de Anna Stuart da Grã-Bretanha que foi rainha de
Inglaterra, Escócia e Irlanda entre 8 de Março de 1702 e 1 de Agosto de 1714 e
responsável pela união entre a Inglaterra e a Escócia.
De acordo com a história
resumida na sinopse anterior, Lanthimos mostra-nos o interior da monarquia, as
suas grandezas e misérias, (mais das segundas e menos das primeiras) pintando-nos
um fresco de uma época que perdurará largo tempo na nossa memória e nos
conduzirá e reflexões sobre o que foi e o que é, a organização social em que
nos inserimos, para lá dos escandalosos desmandos da política atual em que podemos
concluir que o mal já vem de longe, de muito longe mesmo...
O ambiente da ação criado no
interior do palácio real, é filmado com lentes de deformação e iluminação por
velas, de forma a criar os recônditos escuros e sombrios em ângulos
surpreendentes. A decoração é barroca e pesada de forma a ocultar o triângulo
amoroso de cariz sexual entre a rainha, Sarah e Abigail que se esforça entre a
intriga, a denúncia e o mexerico, a expulsar Sarah para ocupar o seu lugar. Para
atingir esse objetivo ela faz tudo, até tentativa de homicídio.
A rainha, auto piedosa, particularmente
doente com variadas maleitas que lhe motivam a mobilidade no interior do
palácio em cadeira de rodas, é excêntrica, neurótica e patética, incapaz para
os assuntos de estado, precisa do amparo de Sarah, embora no seu espírito
exista capacidade pensante. Neste personagem Olivia Colman está verdadeiramente
sublime.
A vida na corte de Anna é
povoada por exemplares excêntricos, vaidosos, demasiadamente pintados, com
cabeleiras irreais executando passatempos frívolos, tais como, corridas de
patos e atirando frutas podres a comparsas nus. Todas as suas atividades
incluem conotações sexuais viciosas. A política de estado resume-se á obtenção de
vantagens. Recomendo vivamente, é um filme imperdível, não é admiração ganhar o
oscar.
Classificação: 9,5 numa
escala de 10