Sinopse
Destroyer: Ajuste de Contas, narra a odisseia moral e
existencialista do detetive da polícia de Los Angeles Erin Bell (Nicole Kidman)
que, enquanto jovem polícia, foi infiltrada num gangue no deserto da
Califórnia, um caso que resultou em trágicas consequências. Quando o líder
desse gangue reaparece muitos anos depois, Erin vai ter de lidar com a história
que tem com os remanescentes membros do gangue, para poder finalmente acertar
contas com os demónios que lhe destruíram o passado.
Opinião
por Artur Neves
É impressionante a
transformação operada em Nicole Kidman para o desempenho do personagem sombriamente
fascinante desta história. A atriz possui um corpo naturalmente magro, mas aqui
foi submetida a uma transformação de tal ordem radical, que associado ao
desempenho inerente do personagem, o que vemos é um perfeito fantasma, de andar
trôpego e porte andrajoso que se arrasta num penoso sacrifício físico em todas
as cenas no presente atual da história.
Trata-se de um mulher profundamente
destruída e corroída pelo arrependimento das opções anteriormente tomadas que
agora procura a redenção a qualquer custo sem qualquer cuidado consigo própria
e somente focada no castigo de quem lhe causou tanto mal, todavia, não a move somente
a vingança, mas também um profundo sentimento de justiça para que outros não
sofram como ela e de alguma maneira possa obter a expiação de culpas que ela
não enjeita.
Como se pode inferir pela
leitura da sinopse anterior trata-se de uma história de polícias infiltrados
numa quadrilha de ladrões, para arranjar provas que os incriminem dos assaltos,
se possível em flagrante delito. Não se pode dizer que se trata de um tema
inédito, mas a apresentação dos factos e a montagem realizada pelo editor do
filme, transformam uma história simples num enredo que nos prende durante toda
a ação.
Não se trata somente da inserção
de flashback dos eventos para se
compreender a trama, mas sim de uma montagem que liga o presente aos factos
passados em que eles ocorreram de forma dar-lhes consistência e justificação,
para que o espetador menos versado nas diatribes do espetáculo cinematográfico
não perca qualquer facto importante da história, transformando assim um
argumento banal, (se os factos fosse apresentados sequencialmente no tempo) num
thriller de suspense que nos agarra à
ação desde a primeira imagem.
A realizadora Karyn Kusama
de origem Japonesa nascida nos USA não apresenta no seu curriculum algo que nos fique particularmente na memória. Talvez, “The
Invitation”, 2015, não estreado em Portugal, seja a sua referência mais
significativa, mas com esta realização apresenta potencial para voos mais
amplos no género em que esta história se insere.
Mais uma vez, como já tenho
referido nestas crónicas, este é mais um filme em que o herói é uma mulher que
utiliza o estoicismo, a angústia e a capacidade de sofrimento anteriormente
confiada a personagens masculinos. Não é que isso contenha qualquer mal, apenas
assinalo aqui o sublinhado de mais uma demonstração da crescente tendência do
cinema internacional.
Classificação: 7 numa escala
de 10
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