Sinopse
Desconsiderado e desprezado pelos seus colegas
artistas e todos quantos o rodeiam, mas sempre crente que pintar é a sua vida,
Vincent parte de Paris, cidade cinzenta, rumo a sul (Arles), onde o sol dita as
paisagens. Através da sua pintura acredita conseguir criar uma nova visão,
mostrar o mundo como o vê. A amizade com Paul Gaugin, o também pintor e seu
amigo próximo, e o amor incondicional de Theo, o seu irmão e maior apoiante,
encorajam-no a continuar contra tudo e todos. Mas quando Gaugin se afasta de Vincent
por o achar avassalador e incompatível consigo, ele perde o chão e entra numa
espiral de loucura. Uma viagem pelos últimos meses de vida do Van Gogh, pelo
reconhecido realizador Julian Schnabel, também ele, pintor e artista.
Opinião
por Artur Neves
Não é preciso muito tempo de
visionamento, nem muita atenção para nos encantarmos com mais um filme sobre
Vincent Van Gogh, magistralmente interpretado por Willem Dafoe, no corpo de um
personagem particularmente adaptado ao corpo e à figura do seu intérprete, não
sendo estranho portanto a sua nomeação para o Oscar com base neste filme.
Julian Schnabel, realizador
americano de origem Alemã, mostra-nos assim, em demorados close-ups dos olhos
do ator, a profundidade da visão do pintor sobre os assuntos que ele pinta,
sentindo o que pinta para lá do que vê e simultaneamente, convidando-nos a
tentar “ver” pelos olhos do pintor o que ele sente e que posteriormente põe na
tela, acrescentando cor ao que sentiu e assim nos mostrar uma realidade
transformada pela emoção dos seus sentidos.
O elemento mais distintivo
deste filme relativamente aos seus antecessores, tais como; “A Vida Apaixonada
de Van Gogh” de 1956, “Vincente and Theo” de 1990, bem como o mais recente; “A Paixão
de Van Gogh de 2017 é a intensidade dos sentimentos expostos, do pintor perante
a natureza, a eternidade, a sua intimidade e o amor fraterno com seu dedicado
irmão Theo (Rupert Friend) transmitindo simultaneamente dor e afeição, bem como
a sua ligação de amizade a Paul Gaugin (Oscar Isaac), filmada com uma minucia
fotográfica, como se através da câmara e da fotografia de Benoit Delhorm fosse
possível investigar as suas ideias.
Como todos os génios, Van
Gogh não é reconhecido em vida pelo que não será estranha a frase premonitória em
que ele responde ao padre que o questiona; “Talvez Deus me tenha feito pintor
para gente que ainda não nasceu”. Num bar da sua cidade um taberneiro rasga um
conjunto de obras expostas numa parede, que hoje são preciosidades do autor
muito apreciadas por todo o mundo.
A abordagem sobre a vida de
Van Gogh que nos traz este filme, inclui também a ambiência caraterística da
terra onde viveu, Arles, sul de França, através da profusão de lugares e de
situações quotidianas usadas como modelo pelo pintor e que foram eternamente
fixadas nas suas obras atualmente expostas em museus do mundo, dando-nos a
sensação, entre o nosso reconhecimento e a indiferença da época, que plantou
sementes de cujos frutos nunca beneficiou numa obra que lança um feitiço
magnético em todos os que se detêm a apreciá-la. Muito interessante, recomendo
como sendo 112 minutos de bálsamo para o espírito.
Classificação: 8 numa escala
de 10
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