31 de janeiro de 2019

Opinião – “A Favorita” de Yorgos Lanthimos


Sinopse

Início do século XVIII, Inglaterra está em guerra com França. No entanto as corridas de patos continuam a prosperar e comem-se ananases ostensivamente. Uma frágil rainha Anne (Olivia Colman) ocupa o trono e a sua amiga mais próxima, Lady Sarah (Rachel Weisz), governa o país por ela e ao mesmo tempo cuida da saúde precária de Anne e gere o seu temperamento imprevisível. Quando a nova criada Abigail (Emma Stone) chega, o seu charme conquista Sarah que leva Abigail sob a sua asa e Abigail vê aqui uma oportunidade de voltar às suas raízes aristocráticas. Como a guerra acaba por consumir bastante o tempo de Sarah, Abigail entra em cena subtilmente para assumir o papel de dama de companhia da rainha. Esta ascendente amizade dá-lhe assim a hipótese de cumprir as suas ambições, não deixando nenhuma mulher, homem, político ou coelho ficar no seu caminho.

Opinião por Artur Neves

Durante muitos anos quiseram divulgar a ideia do comportamento impoluto das monarquias e dos seus representantes, reis ou rainhas, que governaram a Europa até aos nossos dias, publicitando uma imagem incorreta de lisura, perfeição e sabedoria em todos os seus atos de governo e pessoais. Os livros da escola pintaram as monarquias com cores de luxo e de circunstância e condicionaram a nossa imagem desses tempos a um conjunto de datas e de factos descontextualizados da verdade vivida.
Felizmente isso hoje já é passado e o realizador grego que vive em Londres; Yorgos Lanthimos, que tem no seu curriculum “Canino” (2009) e “A Lagosta” (2015), sobre deficiências humanas, apresenta-nos uma versão da realidade dos factos históricos neste excelente filme; “A Favorita”, sobre o reinado de Anna Stuart da Grã-Bretanha que foi rainha de Inglaterra, Escócia e Irlanda entre 8 de Março de 1702 e 1 de Agosto de 1714 e responsável pela união entre a Inglaterra e a Escócia.
De acordo com a história resumida na sinopse anterior, Lanthimos mostra-nos o interior da monarquia, as suas grandezas e misérias, (mais das segundas e menos das primeiras) pintando-nos um fresco de uma época que perdurará largo tempo na nossa memória e nos conduzirá e reflexões sobre o que foi e o que é, a organização social em que nos inserimos, para lá dos escandalosos desmandos da política atual em que podemos concluir que o mal já vem de longe, de muito longe mesmo...
O ambiente da ação criado no interior do palácio real, é filmado com lentes de deformação e iluminação por velas, de forma a criar os recônditos escuros e sombrios em ângulos surpreendentes. A decoração é barroca e pesada de forma a ocultar o triângulo amoroso de cariz sexual entre a rainha, Sarah e Abigail que se esforça entre a intriga, a denúncia e o mexerico, a expulsar Sarah para ocupar o seu lugar. Para atingir esse objetivo ela faz tudo, até tentativa de homicídio.
A rainha, auto piedosa, particularmente doente com variadas maleitas que lhe motivam a mobilidade no interior do palácio em cadeira de rodas, é excêntrica, neurótica e patética, incapaz para os assuntos de estado, precisa do amparo de Sarah, embora no seu espírito exista capacidade pensante. Neste personagem Olivia Colman está verdadeiramente sublime.
A vida na corte de Anna é povoada por exemplares excêntricos, vaidosos, demasiadamente pintados, com cabeleiras irreais executando passatempos frívolos, tais como, corridas de patos e atirando frutas podres a comparsas nus. Todas as suas atividades incluem conotações sexuais viciosas. A política de estado resume-se á obtenção de vantagens. Recomendo vivamente, é um filme imperdível, não é admiração ganhar o oscar.

Classificação: 9,5 numa escala de 10

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