Sinopse
Nicholas Oulman é de origem judaica e em Debaixo do
Céu dá voz a vários sobreviventes (hoje com cerca de oitenta anos), que aquando
da ascensão de Hitler e da perseguição aos judeus, lograram deixar Berlim e
rumaram a Sul. Para estes refugiados, Portugal foi um porto seguro, um porto de
esperança a caminho de um recomeço, enquanto circulavam notícias do horror dos
campos de concentração.
Debaixo do Céu é composto inteiramente por imagens de
arquivo, que ilustram os testemunhos e são imagens preciosas para compreender
um período negro da História.
Com esta estreia, assinalamos os 80 anos sobre o
início da II Guerra e o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto
(que se celebra a 27 de Janeiro).
Opinião
por Artur Neves
Para que a memória não se
apague este é um documentário do horror que foi a Segunda Guerra Mundial,
nomeadamente no que concerne à tentativa de extermínio do povo Judeu de forma a
apagá-lo da história e do mundo. Muitos outros documentos já foram feitos com o
mesmo intuito, com maiores ou menores meios de cinema, com mais ou menos violência,
que de alguma forma já nos mostrou, pelo menos ao nosso coletivo como humanidade
as reais intenções de Hitler como o orientador máximo desse delírio de morte.
Neste filme porém, mostra-se
o pormenor, o drama individual contado pelas próprias vítimas (Eva Arond,
Lolita Goldstein, Fred Manasse, Pedro Kalb, Ginette Horowitz, Sylvain
Bromberger, Henny Porter) sobre como foram esses dias de horror e como o medo,
que ainda hoje embarga as suas vozes ao recordá-lo e lhes provoca alteração do
ritmo cardíaco ao reviver a aventura da fuga, a tenacidade da esperança e, por
vezes, o acaso que os protegeu de serem denunciados.
A realização socorreu-se de
fragmentos de filmes da época, fotografias, por vezes dos próprios intervenientes,
que ilustra de forma magistral o tempo e a época em que tudo se passou e o que
sofreram até ao dia em que, com esforço, conseguem revisitar esses tempos de
horror e o medo que sentiram ao vivê-lo, induzindo no espetador uma semelhança
de sentimentos pelos relatos de cada descrição a que assistimos, deixando formar-se
uma identificação com a vítima e revivendo com ela as suas emoções.
Representa ainda um fabuloso
trabalho de pesquisa em bibliotecas e repositórios da memória em todo o mundo
com particular destaque para os Estados Unidos da América, destino preferido
para estes refugiados, Paris, Madrid e Lisboa onde encontraram ainda que por um
breve tempo de transição, o sol, o azul do mar e a paz necessária para preparar
a grande aventura das suas vidas e que por isso nos estão muito agradecidos.
A memória é determinante
para a construção do futuro e nos tempos conturbados que atravessamos em que os
nacionalismos pululam pela Europa mostrando de novo a sua face intransigente
para princípios e credos que julgávamos eliminados da civilização que construímos
nestes setenta anos de sucesso e paz social no continente Europeu, este filme é
um documento importante e de divulgação urgente.
Classificação: 8 numa escala
de 10
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