15 de janeiro de 2019

Opinião – “Debaixo do Céu” de Nicholas Oulman


Sinopse

Nicholas Oulman é de origem judaica e em Debaixo do Céu dá voz a vários sobreviventes (hoje com cerca de oitenta anos), que aquando da ascensão de Hitler e da perseguição aos judeus, lograram deixar Berlim e rumaram a Sul. Para estes refugiados, Portugal foi um porto seguro, um porto de esperança a caminho de um recomeço, enquanto circulavam notícias do horror dos campos de concentração.
Debaixo do Céu é composto inteiramente por imagens de arquivo, que ilustram os testemunhos e são imagens preciosas para compreender um período negro da História.
Com esta estreia, assinalamos os 80 anos sobre o início da II Guerra e o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto (que se celebra a 27 de Janeiro).

Opinião por Artur Neves

Para que a memória não se apague este é um documentário do horror que foi a Segunda Guerra Mundial, nomeadamente no que concerne à tentativa de extermínio do povo Judeu de forma a apagá-lo da história e do mundo. Muitos outros documentos já foram feitos com o mesmo intuito, com maiores ou menores meios de cinema, com mais ou menos violência, que de alguma forma já nos mostrou, pelo menos ao nosso coletivo como humanidade as reais intenções de Hitler como o orientador máximo desse delírio de morte.
Neste filme porém, mostra-se o pormenor, o drama individual contado pelas próprias vítimas (Eva Arond, Lolita Goldstein, Fred Manasse, Pedro Kalb, Ginette Horowitz, Sylvain Bromberger, Henny Porter) sobre como foram esses dias de horror e como o medo, que ainda hoje embarga as suas vozes ao recordá-lo e lhes provoca alteração do ritmo cardíaco ao reviver a aventura da fuga, a tenacidade da esperança e, por vezes, o acaso que os protegeu de serem denunciados.
A realização socorreu-se de fragmentos de filmes da época, fotografias, por vezes dos próprios intervenientes, que ilustra de forma magistral o tempo e a época em que tudo se passou e o que sofreram até ao dia em que, com esforço, conseguem revisitar esses tempos de horror e o medo que sentiram ao vivê-lo, induzindo no espetador uma semelhança de sentimentos pelos relatos de cada descrição a que assistimos, deixando formar-se uma identificação com a vítima e revivendo com ela as suas emoções.
Representa ainda um fabuloso trabalho de pesquisa em bibliotecas e repositórios da memória em todo o mundo com particular destaque para os Estados Unidos da América, destino preferido para estes refugiados, Paris, Madrid e Lisboa onde encontraram ainda que por um breve tempo de transição, o sol, o azul do mar e a paz necessária para preparar a grande aventura das suas vidas e que por isso nos estão muito agradecidos.
A memória é determinante para a construção do futuro e nos tempos conturbados que atravessamos em que os nacionalismos pululam pela Europa mostrando de novo a sua face intransigente para princípios e credos que julgávamos eliminados da civilização que construímos nestes setenta anos de sucesso e paz social no continente Europeu, este filme é um documento importante e de divulgação urgente.

Classificação: 8 numa escala de 10

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