Sinopse
Com a morte da tia, Colleen e as filhas herdam a sua
casa. Na primeira noite que lá passam, assassinos entram em casa e Colleen tem
de lutar pela sobrevivência das filhas.
Devido ao trauma dessa noite, as personalidades
díspares das crianças acentuam-se. Beth (Crystal Reed), a mais velha, torna-se
numa famosa autora de livros de terror com uma família perfeita em Los Angeles,
enquanto Vera (Anastasia Phillips) não ultrapassa os efeitos da noite fatídica
e enlouquece, cedendo a uma crescente paranóia.
Dezasseis anos depois da tragédia, mãe e filhas
reúnem-se novamente na casa em que Colleen e Vera têm vivido. É então que
estranhos acontecimentos começam a ocorrer.
Opinião
por Artur Neves
A história que nos mostram
desta vez assenta em “perspectivas subjectivas” de mentes, de tal forma
traumatizadas que se recusam a encarar a realidade tal como ela se apresenta. Os
eventos ocorridos durante a primeira visita à casa da tia, fundamentalmente
relacionado com a extrema violência com que foram submetidas as duas irmãs,
deixam marcas em função do entendimento profundo que cada uma teve do que efectivamente
se passou.
Para Vera, o horror continua
sem alteração, atingindo uma normalidade de loucura apavorante que a submete
diariamente aos mais dolorosos sacrifícios. Para Beth, a sublimação do horror
transforma-a numa escritora de romances de terror que alcança a notoriedade através
das minuciosas descrições de maus tratos e de violentas sevícias a que ela na
realidade é sujeita, tornando o terror em arte e assumindo-o como um gesto
artístico.
O ambiente criado na casa
herdada da tia Coleen é do mais exuberantemente barroco que se possa imaginar, colecções
de bonecas excessivamente expressivas depositadas profusamente em todos os
lugares, portas fechadas, armários que comunicam com cantos esconsos e sombrios
que tanto podem servir como esconderijo, ou como prisão e a hedionda cave de
arrumos, recheada dos mais diversos artefactos onde as irmãs são sujeitas ao
terror déspota de uma mãe protectora de um filho demente e criminoso, que
procura na violência e no horror a satisfação da sua sexualidade embotada e
incapaz.
Desta prisão, só há duas
maneiras de escapar, enlouquecer e defender-se da realidade com a inanição dos
sentidos, vegetar somente, ou criar uma realidade esdruxula que preencha o
imaginário e que permita ver a realidade real como algo que acontece num mundo
paralelo. Todavia, Pascal Laugier não consegue transmitir-nos com clareza essa
dicotomia, com o sucesso que ele deve ter imaginado ao conceber este filme, que
tem passagens que nos lembra “O Massacre do Texas” de 2003, faltando somente a
motosserra, pois a demência é semelhante num corpo disforme, na loucura sexual,
violência e maldade gratuita quando não consegue alcançar os seus objetivos.
Do ponto de vista do terror gore
na sua forma mais tradicional o filme é completo, mas nem sempre isso é o mais
importante para nos emocionar e para nos confrontar com os nossos próprios
medos, condimento essencial para sentirmos o “terror” que nos diverte, veja-se
por exemplo; “Os Outros” de 2001, onde em todo o filme, no mais pacato dos
ambientes familiares, só vemos fantasmas e só muito lentamente nos apercebemos
disso.
Classificação: 5 numa escala
de 10