19 de setembro de 2018

Opinião – “McQueen” de Ian Bonhôte e Peter Ettedgui


Sinopse

MCQUEEN é uma visão pessoal da extraordinária vida, carreira e arte de Alexander McQueen.
Através de entrevistas exclusivas com os amigos e familiares do designer, de arquivos recuperados, imagens e música de extrema beleza, MCQUEEN é uma celebração autêntica e um emocionante retrato de um visionário inspirado, e torturado, do mundo da moda.
O documentário foi realizado por Ian Bonhôte e escrito e corealizado por Peter Ettedgui.

Opinião por Artur Neves

Se tivéssemos dúvidas quanto à origem e objectivos que compõem um desfile de moda de alta-costura, este documentário da vida e obra de Lee Alexander McQueen dissipa-as e ilustra os fundamentos da criatividade humana, nem sempre inspirada nos motivos mais prosaicos que a mente humana pode conceber.
Esta é uma obra autobiográfica de um estilista de sucesso, executada com base em testemunhos, fotografias e filmes, feitos pelo próprio e por pessoas do seu círculo restrito que o amaram, idolatraram e odiaram, pela sua impulsividade, determinismo e perseguição de um objectivo, cuja pulsão nem ele mesmo soube de onde vinha, mas que se afirmava sobre a sua extrovertida personalidade subjugando todos na concretização das suas visões.
De origem modesta e desde muito cedo com tendência para actividades de costura e fabricação de roupas, este filme traça o seu percurso através da edição de documentos reais que embora desconexos e intercalados no seu tempo de vida, relativamente curto, morreu a 11 de fevereiro de 2010 com 40 anos, imprimiu na moda um cunho pessoal impregnado das suas frustrações, medos e preferências (ele criava falcões, razão pela qual os fatos que criou continham penas, nas mais variadas aplicações que se destacavam em todos os desfiles) de uma vida sofrida entre um pai que não o compreendia e detestava a sua assumida homossexualidade e uma mãe afectuosa e protectora, cujo insustentável sofrimento pela sua perda contribuiu decisivamente para o seu suicídio no dia do funeral da sua mãe.
É toda esta vida trágica que o documentário nos transmite, com base em relatos dos seus companheiros, colegas de trabalho e modelos, sujeitos à vontade dos seus delírios criativos tornando um desfile de moda num espectáculo de criatividade que o aproximava de uma feira de horrores, tal era a impregnação dos seus defeitos e da “escuridão” depressiva e suja em que navegava diariamente o seu espírito, transmitindo a todas as obras que criava com os mais variados materiais, uma exceção de expressão visual, apenas usados para vestir durante aquele desfile específico.
Apesar de ser um documentário, as revelações nele contidas são ousadas e apresentadas de modo interessante e motivador que nos prende a atenção e estimula emoções sobre aquele ser tão controverso e único. Com música de Michael Nyman que McQueen ouvia compulsivamente, este filme vê-se com agrado e por motivos culturais, sobre um génio da nossa época.

Classificação: 8 numa escala de 10

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