Sinopse
Ângela (Michèle Laroque) pensa que tem uma vida ideal.
Vive em Nice, num belo apartamento, com um marido atraente e uma charmosa filha
adolescente.
Contudo, na noite de Natal, a filha deixa-a para ir
ter com o namorado, o marido anuncia que quer a separação e a sua melhor amiga
toma soporíferos ao invés de passar a noite com Angela.
Face a tudo isto, Angela não tem outra escolha senão
reinventar-se. Isso não é fácil, tendo em conta que tem de lidar com uma mãe
tirana, uma melhor amiga histérica e um psiquiatra com métodos muito
experimentais.
Opinião
por Artur Neves
Ângela, segundo os padrões
normais da Europa ocidental tem de facto uma vida ideal e completa do ponto de
vista mundano convencional. Casada, com uma filha moderna e emancipada que em
conjunto com o companheiro possuem uma banda, com uma boa casa em Nice e uma
vida desafogada do ponto de vista financeiro não se pode queixar de
instabilidade ou de receios quanto ao futuro. Aparentemente tudo corre bem na
vida de Ângela.
O pior é sempre a realidade
por detrás da aparência e Ângela é “tramada” pela realidade que ela não vê, não
sente, na euforia dos seus dias. A realidade entra-lhe literalmente pela porta
nas vésperas de Natal, através da revelação de divórcio do marido, da
preferência da filha relativamente ao companheiro e da depressiva amiga
Charline (Rossy de Palma, a atriz fetiche de Pedro Almodovar) que prefere ficar
a dormir a acompanhá-la na noite de Natal.
É neste carrocel de emoções
que Michèle Laroque, atriz principal e realizadora decide aceitar como bom este
argumento menor, entre o drama e a tragicomédia, em que as situações estão mal
caraterizadas e os personagens não aparentam a espessura que o drama impunha
nem são tão ligeiras (exceto a protagonista) que criem situações que nos façam
verdadeiramente rir. A situação é de facto complexa e para complicar ainda mais
a mãe de Ângela, supercrítica da filha e da neta, sempre mal-humorada não se
coíbe de a confrontar entre amigas e por fim, morre-lhe nos braços na sequência
de sufocação por engasgamento num jantar a três num restaurante.
O psiquiatra tem um papel
ridículo, apesar de nutrir por ela um amor secreto e de apresentar
comportamentos que em nada dignificam a classe. No final de contas a única
personagem razoável de que ela se socorre e que a apoia nos momentos mais
críticos é de um vendedor de fruta numa banca de bairro, onde ela, prolongando
a sanha de chique, procura elevar o nível da atividade utilizando as pratas do
serviço como escaparate de fruta. Mas nada daquilo faz verdadeiramente sentido,
o motivo é frouxo para comédia e o argumento tão depressa explora a real
tristeza do vazio da sua vida, como faz dele motivo de chacota tentando fazer
rir.
Salva-se a interpretação conformada
e lutadora de Ângela (Michèle Laroque) que faz das fraquezas forças para seguir
em frente no meio do desatino em que se transformou a sua “rica” vida, logo na
véspera de Natal e depois de ter organizado a consoada. Sabe a pouco.
Classificação: 5 numa escala
de 10
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