11 de setembro de 2018

Opinião – “Pronta para Tudo” de Michèle Laroque


Sinopse

Ângela (Michèle Laroque) pensa que tem uma vida ideal. Vive em Nice, num belo apartamento, com um marido atraente e uma charmosa filha adolescente.
Contudo, na noite de Natal, a filha deixa-a para ir ter com o namorado, o marido anuncia que quer a separação e a sua melhor amiga toma soporíferos ao invés de passar a noite com Angela.
Face a tudo isto, Angela não tem outra escolha senão reinventar-se. Isso não é fácil, tendo em conta que tem de lidar com uma mãe tirana, uma melhor amiga histérica e um psiquiatra com métodos muito experimentais.

Opinião por Artur Neves

Ângela, segundo os padrões normais da Europa ocidental tem de facto uma vida ideal e completa do ponto de vista mundano convencional. Casada, com uma filha moderna e emancipada que em conjunto com o companheiro possuem uma banda, com uma boa casa em Nice e uma vida desafogada do ponto de vista financeiro não se pode queixar de instabilidade ou de receios quanto ao futuro. Aparentemente tudo corre bem na vida de Ângela.
O pior é sempre a realidade por detrás da aparência e Ângela é “tramada” pela realidade que ela não vê, não sente, na euforia dos seus dias. A realidade entra-lhe literalmente pela porta nas vésperas de Natal, através da revelação de divórcio do marido, da preferência da filha relativamente ao companheiro e da depressiva amiga Charline (Rossy de Palma, a atriz fetiche de Pedro Almodovar) que prefere ficar a dormir a acompanhá-la na noite de Natal.
É neste carrocel de emoções que Michèle Laroque, atriz principal e realizadora decide aceitar como bom este argumento menor, entre o drama e a tragicomédia, em que as situações estão mal caraterizadas e os personagens não aparentam a espessura que o drama impunha nem são tão ligeiras (exceto a protagonista) que criem situações que nos façam verdadeiramente rir. A situação é de facto complexa e para complicar ainda mais a mãe de Ângela, supercrítica da filha e da neta, sempre mal-humorada não se coíbe de a confrontar entre amigas e por fim, morre-lhe nos braços na sequência de sufocação por engasgamento num jantar a três num restaurante.
O psiquiatra tem um papel ridículo, apesar de nutrir por ela um amor secreto e de apresentar comportamentos que em nada dignificam a classe. No final de contas a única personagem razoável de que ela se socorre e que a apoia nos momentos mais críticos é de um vendedor de fruta numa banca de bairro, onde ela, prolongando a sanha de chique, procura elevar o nível da atividade utilizando as pratas do serviço como escaparate de fruta. Mas nada daquilo faz verdadeiramente sentido, o motivo é frouxo para comédia e o argumento tão depressa explora a real tristeza do vazio da sua vida, como faz dele motivo de chacota tentando fazer rir.
Salva-se a interpretação conformada e lutadora de Ângela (Michèle Laroque) que faz das fraquezas forças para seguir em frente no meio do desatino em que se transformou a sua “rica” vida, logo na véspera de Natal e depois de ter organizado a consoada. Sabe a pouco.

Classificação: 5 numa escala de 10

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