17 de setembro de 2018

Opinião – “A Casa do Terror” de Pascal Laugier


Sinopse

Com a morte da tia, Colleen e as filhas herdam a sua casa. Na primeira noite que lá passam, assassinos entram em casa e Colleen tem de lutar pela sobrevivência das filhas.
Devido ao trauma dessa noite, as personalidades díspares das crianças acentuam-se. Beth (Crystal Reed), a mais velha, torna-se numa famosa autora de livros de terror com uma família perfeita em Los Angeles, enquanto Vera (Anastasia Phillips) não ultrapassa os efeitos da noite fatídica e enlouquece, cedendo a uma crescente paranóia.
Dezasseis anos depois da tragédia, mãe e filhas reúnem-se novamente na casa em que Colleen e Vera têm vivido. É então que estranhos acontecimentos começam a ocorrer.

Opinião por Artur Neves

A história que nos mostram desta vez assenta em “perspectivas subjectivas” de mentes, de tal forma traumatizadas que se recusam a encarar a realidade tal como ela se apresenta. Os eventos ocorridos durante a primeira visita à casa da tia, fundamentalmente relacionado com a extrema violência com que foram submetidas as duas irmãs, deixam marcas em função do entendimento profundo que cada uma teve do que efectivamente se passou.
Para Vera, o horror continua sem alteração, atingindo uma normalidade de loucura apavorante que a submete diariamente aos mais dolorosos sacrifícios. Para Beth, a sublimação do horror transforma-a numa escritora de romances de terror que alcança a notoriedade através das minuciosas descrições de maus tratos e de violentas sevícias a que ela na realidade é sujeita, tornando o terror em arte e assumindo-o como um gesto artístico.
O ambiente criado na casa herdada da tia Coleen é do mais exuberantemente barroco que se possa imaginar, colecções de bonecas excessivamente expressivas depositadas profusamente em todos os lugares, portas fechadas, armários que comunicam com cantos esconsos e sombrios que tanto podem servir como esconderijo, ou como prisão e a hedionda cave de arrumos, recheada dos mais diversos artefactos onde as irmãs são sujeitas ao terror déspota de uma mãe protectora de um filho demente e criminoso, que procura na violência e no horror a satisfação da sua sexualidade embotada e incapaz.
Desta prisão, só há duas maneiras de escapar, enlouquecer e defender-se da realidade com a inanição dos sentidos, vegetar somente, ou criar uma realidade esdruxula que preencha o imaginário e que permita ver a realidade real como algo que acontece num mundo paralelo. Todavia, Pascal Laugier não consegue transmitir-nos com clareza essa dicotomia, com o sucesso que ele deve ter imaginado ao conceber este filme, que tem passagens que nos lembra “O Massacre do Texas” de 2003, faltando somente a motosserra, pois a demência é semelhante num corpo disforme, na loucura sexual, violência e maldade gratuita quando não consegue alcançar os seus objetivos.
Do ponto de vista do terror gore na sua forma mais tradicional o filme é completo, mas nem sempre isso é o mais importante para nos emocionar e para nos confrontar com os nossos próprios medos, condimento essencial para sentirmos o “terror” que nos diverte, veja-se por exemplo; “Os Outros” de 2001, onde em todo o filme, no mais pacato dos ambientes familiares, só vemos fantasmas e só muito lentamente nos apercebemos disso.

Classificação: 5 numa escala de 10

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