Sinopse
O casamento da Princesa
Diana e do Príncipe Carlos há muito se transformou numa relação gélida. Entre
abundantes rumores de casos extraconjugais e divórcio, a paz é encomendada para
celebrar as festividades de Natal na propriedade real de Sandringham House. Há
comida e bebida, tiro ao alvo e caça. Diana conhece o jogo. Mas desta vez, as
coisas vão ser muito diferentes. Spencer, uma ficção do que se poderá ter
passado nesses fatídicos dias.
Opinião
por Artur Neves
Pablo Larrain avisa logo no
início do filme que este é; “Uma fábula de uma verdadeira tragédia” para nos
preparar para o que vamos assistir como sendo uma ficção do que pode ter
acontecido nessa longínqua semana de 1991 em que a família real inglesa se
reuniu no palácio de Sandringham em Norfolk, para festejar o Natal, cumprindo
assim uma velha tradição da casa real que Isabel II faz questão de continuar,
numa altura em que o casamento de Diana com Carlos já se encontra em ruínas,
ela sente-se constrangida pela presença de Camila entre os convidados, e os
sussurros existentes na corte e por todo o lado sobre a existência de
infidelidades no casal já não podem mais ser omitidos porque a realidade é bem
evidente, pelo menos da parte de Carlos.
Aqui não posso deixar de
referir o curiosíssimo facto que nos é apresentado à chegada dos convivas ao
palácio. A primeira regra para cumprir a tradição é serem pesados numa báscula
decimal, a ninguém é permitido excluir-se dessa prática e o seu peso é
meticulosamente registado no livro dos convidados. À saída, após os três dias
de duração do Natal real, todos são novamente pesados na mesma balança. A
diferença entre as duas pesagens traduz oficialmente o grau de felicidade e
divertimento que o convidado usufruiu. Isto é para mim um exemplo acabado da
“atualidade” da tradição monárquica no seu melhor.
Diana está muito bem
representada por Kristen Stewart que desempenha uma perturbada princesa pelos
pesadelos que assombram a sua mente, não cumprindo regras nem horários para
confrontar a rigidez da praxis real, alucinando ao jantar em que se vê a ela
própria comendo as pérolas do colar que lhe foi oferecido e de seguida
vomitando-as no WC, sonhando acordada com Ana Bolena, que se cruza com ela nos
corredores do palácio, e a avisa de ter sido decapitada pelo rei Henrique VIII
para poder desposar uma nova rainha. Diana está todo o tempo como uma sonâmbula
num ambiente que é hostil onde só encontra compreensão num aliado, a sua
camareira Maggie (Sally Hawkins), que posteriormente será afastada. Diana não
goza de qualquer privacidade, quer no palácio, ou fora dele nas terras vizinhas
de uma propriedade que pertenceu à sua família. Diana sofre a opressão do
palácio e perde o controlo da realidade na sua ansia de fugir dali.
Acho aqui que existirá algum
exagero da parte do escritor e autor do argumento, Steven Knight, na encenação
da demência e do colapso mental de Diana que nesta altura apenas luta pela sua
libertação daquele casamento falhado, concentrando toda a sua atenção no
cuidado e no amor aos filhos Williams (Jack Nielen) e Harry (Freddie Spry). A
visão e Steven sobre Diana, embora numa história de ficção biográfica, mostra
um sentido de humor perverso que em certa medida serve para branquear o papel
da família real inglesa em todo o drama conjugal da casa real inglesa numa
altura em que já se conhece a conclusão da relação de Carlos com Camila. A relação
de Diana com Harry e a personalidade deste, embora ainda em formação em 1991,
pode indicar o que veio a verificar-se em 2019 com a sua rutura com estrondo,
com o pai e com a monarquia inglesa a que pertence.
A escolha de Kristen Stewart
de 31 anos, com toda a sua experiência da série “Crepúsculo”, conferiu-lhe a
massa crítica necessária para desempenhar o ícone Diana com uma visão
estranhamente precisa e convincente do personagem que não me admiro se for
indicada para o Oscar. Kristen consegue mostrar-nos os maneirismos da princesa,
que podemos inferir das imagens reais que conhecemos, com uma precisão que nos
convence, ao mesmo tempo que nos diverte com piadas que poderiam ter sido ditas
por Diana naquele contexto, bem como o seu sotaque do norte de Inglaterra e o arregalar
dos olhos que nos mostra o absurdo da vida infernal que Diana deve ter sofrido.
A própria kristen deve ter sofrido o abuso insistente dos média durante o êxito
adolescente de “Crepúsculo” pelo que sabe representar com propriedade o
sofrimento de Diana com os paparazzi e os tabloides que a perseguiam. É uma
biografia ficcionada, muito bem interpretada por Kristen Stewart que enche toda
a cena com a sua excelente performance, coadjuvada por um elenco de secundários
de primeiríssima água que merece ser visto, recomendo.
Estreia nas salas em 5 de
Novembro
Classificação: 7 numa escala
de 10