Sinopse
O filme retrata a viagem do
lugre bacalhoeiro Terra Nova, que após um mau ano de pesca nas águas do
Labrador, o Capitão decide arriscar numa travessia até à Gronelândia. Devido à
rota que nunca antes tinha sido navegada e às lutas contra tempestades e o frio
do Atlântico Norte, o medo e o conflito intensifica-se entre a tripulação
Opinião
por Artur Neves
Este filme é baseado no romance
de Bernardo Santareno “O Lugre” que conta a história do lugre bacalhoeiro “Terra
Nova” na sua faina de pesca nos mares do Labrador, na década de 1930 e num mau
ano piscatório em que o Capitão decide arriscar uma aventura “por mares nunca
dantes navegados” para providenciar o seu sustento e o de toda a tripulação que
não aceita de bom grado a sua decisão e promove uma rebelião a bordo com consequências
imprevisíveis, não só pela atitude tomada, como também pelo estado do mar
naquela latitude.
A rudeza da vida da pesca ao
bacalhau está bem representada através de personagens que não só caracterizam a
diversidade da personalidade humana dos pescadores da época, com seus medos,
crenças e ódios de estimação gerados pelo confinamento forçado no interior do
limitado espaço do lugre. É o caso de Albino (Pedro Lacerda), o pescador
sinalizado pelo seu comportamento num naufrágio anterior, sendo agora conotado
com a presença da “má sorte” em todos os navios onde estiver. O caso da
integração dos mais novos na tripulação também é abordado com Miguel (Miguel
Partidário) órfão e ainda sem família constituída, que procura o conforto e a
proteção de Albino a quem chama “tio”, apesar das críticas de alguns membros da
tripulação, ou o médico de bordo, Bernardo (Vítor D’Andrade) igualmente sem
experiencia da dureza daquela vida e se sente motivado a partilhar alguma
simpatia com a tripulação que o aceita, embora discriminando-o com a
desconfiança de pertencer ao grupo do Capitão Silva (Virgílio Teixeira) que
lidera o navio com pulso de ferro e impõe o respeito da tripulação pela
imposição das suas decisões, apoiado pelo contramestre (Vitor Norte) que
personifica a autoridade pela indiscutível experiência da faina. Todos estão
muito bem e mostra-se credívelmente o drama da pesca, da vida a bordo e dos
pescadores.
As diferenças começam na
envolvente. Todo o filme é passado no interior do navio e os efeitos especiais
para a dureza do mar não reproduzem o que estamos habituados a ver em “Piratas
das Caraíbas” ou noutras grandes produções passadas no mar. Quando o Capitão do
lugre decidiu rumar à Gronelândia, eu “receei” que a viagem se fizesse com as
velas amarradas ao mastro, considerando que é o seu estado durante toda a
história… felizmente não… vê-se algumas vezes uma fotografia distante do
navio com velas desfraldadas e reconhece-se com isso os fracos recursos do
cinema português para competir internacionalmente num filme que até tem
história para ser mais ambicioso.
Para celebrar em 2020 o centenário
do nascimento de Bernardo Santareno, foi concebido pela produtora Ana Costa e o
realizador que também escreveu o argumento; Artur Ribeiro, este projeto cinematográfico
que além do filme, inclui a série “Terra Nova” de 13 episódios já exibida em
2020 pela RTP e atualmente disponível na plataforma de streaming HBO. Enquanto o filme é completamente rodado no mar, a
bordo do lugre, a série desenvolve a vida em terra dos personagens do filme, o que
dá suporte às suas frequentes quezílias e conversas cruzadas, que no filme se
desconhecem as razões, bem como, o desenvolvimento das dificuldades da vida em
terra, motivadas pelos magros recursos auferidos e os conflitos familiares
antes e depois da viagem sempre agravados com as ausências prolongadas a que a
faina obriga.
A pesca do bacalhau nos
mares da Terra Nova pode ser encarada como a última epopeia trágico-marítima
dos portugueses e mereceria um orçamento maior para a celebrar. Na sua ausência
fica-nos este filme sobre a faina maior, e a dramatização das suas gentes, na
série.
Estreia nas salas em 28 de
Outubro
Classificação: 5 numa escala
de 10
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