Sinopse
Da 20th Century Studios e do
visionário cineasta Ridley Scott, chega “O Último Duelo”, um emocionante conto
de traição e vingança contra a brutalidade e a opressão feminina da França do
século XIV. O filme é um épico histórico baseado em eventos reais retratados em
“O Último Duelo: Uma História Verdadeira de Crime, Escândalo e Julgamento por
Combate na França Medieval”, é protagonizado pelo vencedor do ÓSCAR® Matt Damon
e o duas vezes nomeado ao ÓSCAR® Adam Driver, como dois nobres em disputa,
cujos problemas deverão ser resolvidas num duelo até à morte.
Opinião
por Artur Neves
A história em que se
fundamenta este filme data do século XIV, em França, na região da Normandia mas
tem sido vivamente discutida até à atualidade por muitos eruditos donde
resultaram até agora, muitos pareceres e opiniões e até um livro de não ficção
escrito em 2005 por Eric Jager, professor de história medieval na UCLA (Universidade
da Califórnia em Los Angeles) que se interessou pelo assunto depois de ler as
crónicas da época e sentir que o tema deveria ser mais investigado para
preencher as lacunas que os textos deixavam em aberto, entre os relatos
factuais e os boatos da época, eivados pelo obscurantismo dos seus
propaladores. Toda essa investigação resultou no livro que foi publicado em
2005, cujos direitos foram comprados em 2019 pela 20th Century Studios e Jager
contratado como consultor, considerando que o acórdão do julgamento real e religioso
que lhe está subjacente, assenta na subtileza da decisão de uma mulher, dar, ou
não, o seu íntimo consentimento em consumar um ato sexual.
A história em questão
assenta na confissão de Marguerite de Carrouges (Jodie Comer), ao seu marido, Sir
Jean de Carrouges (Matt Damon) de ter sido violada por Jacques Le Gris (Adam
Driver) um nobre amigo do casal e companheiro de armas, depois de forçar a
entrada em casa dela durante a ausência do marido numa viagem a Paris. Na altura,
a sogra que com eles coabitava tinha também viajado por motivo de assuntos
pessoais, acompanhada pela aia de Marguerite, pelo que ela se encontrava
sozinha no castelo e embora rechaçasse as investidas de Le Gris não teve força
suficiente para o impedir de consumar os seus intentos. É importante referir
aqui que na época as mulheres eram consideradas uma propriedade legal dos seus
maridos, pelo que o ato de Le Gris foi um crime cometido contra a casa Carrouges,
contra a nobreza do título e não contra ela, embora tenha sido ela a ser submetida
a um extenso e pormenorizado julgamento, cujo registo é ainda hoje objeto de
estudo e investigação.
O resultado do julgamento,
proferido por um imberbe rei Carlos VI, de riso nervoso e decisão inconsequente,
determinou a realização de um duelo até à morte entre os dois contendores,
considerando que, Deus conhecia a verdade e não permitiria que o inocente
morresse e o culpado saísse ileso da contenda. O nome do filme assenta no facto
de ter sido este o último combate em forma de duelo, sancionado pelo estado na
história da França, a que curiosamente o filme não se refere.
Como pode concluir-se, tanto
no século XIV como na atualidade o tema continua na ordem do dia e Ridley Scott
construiu um filme portentoso, competente na representação da idade média francesa,
repleto de ação em lutas e batalhas muito bem conseguidas com todos os
pormenores de vestuário, armas e ambiente, bem como, os exuberantes banquetes e
orgias em que culminavam as reuniões dos nobres depois do fragor da luta.
O objetivo do filme é contar
a verdade sobre este caso, que devido à inconsistência dos relatos chegados até
aos dias de hoje, o realizador apresenta a história da violação sob o ponto de
vista de cada um dos intervenientes. Primeiro a descrição segundo Carrouge, que
foi a contada pela mulher, depois a descrição de Le Gris e finalmente Marguerite
que o desfecho do argumento parece querer indicar-nos ser a correta. Isto significa
que vemos duas vezes a cena da violação contada à vez por ambos os intervenientes,
sendo constante como é de esperar, a cena da violação em si mesma o que mostra
ao espectador que ambos experienciaram a mesma realidade, todavia, o ângulo e a
proximidade da câmara de filmar sobre o rosto de Marguerite é ligeiramente diferente
em cada um dos relatos, mostrando-nos subtilmente as alterações de postura do
rosto e das mãos em cada uma das cenas, e considero relevante citar essa
diferença nesta crónica, porque é o filme a pedir ao espectador que faça o seu juízo
em face do que lhe está a ser apresentado, considerando que através dos relatos
e crónicas anteriores nunca se chegou a uma conclusão fechada sobre a verdade dos
acontecimentos e nem o realizador, nem Eric Jager, têm certezas absolutas sobre a
história.
De acordo com o olhar da
ética do século XXI e depois de movimentos como o #MeToo, é óbvio que o relato
de Marguerite é verdadeiro e nós vemo-la a resistir tanto quanto pode aos avanços
de Le Gris, contudo, anteriormente também vimos uma “chispa” entre os seus
olhares quando são apresentados e um início de flirt fugaz, embora sem continuação. É nesta dicotomia que o filme
magistralmente nos apresenta que reside a sua importância social, deixando tudo
em aberto e passando a responsabilidade para o espectador à luz das suas convicções
e experiências, decidir se são as mulheres que exageram nas queixas, ou são os
homens que são os brutos, sem prejuízo da consideração de que sexo sem
consentimento é crime. Muito bom, para ser visto com atenção pois constitui um
bom espetáculo em todas as vertentes da história. Recomendo vivamente.
Tem estreia prevista nas
salas em 28 de Outubro
Classificação: 9 numa escala
de 10
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