8 de outubro de 2021

Opinião – “Fantasias” de David e Stéphane Foenkinos

Sinopse

Seis casais, seis variações de desejo, intimidade ... e fantasias. Dramatização, exibicionismo, excitação pelo choro ou mesmo pela abstinência ... Quer esses casais reprimam ou assumem suas fantasias, quer as compartilhem ou as silenciem, todos procuram a mesma coisa: felicidade, tanto a sua como a do seu parceiro!

Opinião por Artur Neves

Antes de analisar este filme não quero deixar de referir o excelente trabalho que estes dois irmãos argumentistas realizadores fizeram em 2017 com o filme “Ciúme”. Eles não têm um grande curriculum cinematográfico sendo este “Fantasias” a sua terceira realização no formato de longa-metragem, e posso compreender porquê, considerando a dificuldade subjacente a um projeto que se propõe ilustrar um sentimento humano de frustração e inveja como no caso do ciúme, que se centra em prejudicar ou negar o sucesso alheio que queríamos desesperadamente que fosse o nosso.

No caso presente as coisas ainda se complicam mais. São seis histórias que ilustram outros tantos fetiches humanos. “Fantasias”, de cariz sexual que ninguém se sente à-vontade para livremente exteriorizar, ou sequer comentar se por ventura formos instados para o fazer, mesmo que seja numa reunião de amigos. São seis, as parafilias ilustradas no filme, das mais de 60 taras reconhecidamente existentes, em que o prazer carnal pode acontecer sem que o comportamento sexual em causa implique penetração. Duma maneira geral vale tudo, desde que exista mútuo consentimento e gozo partilhado, podendo alguns comportamentos ser classificados como distorções da preferência sexual e serem considerados doenças do foro psíquico. Podem também incluir objetos, ou incidir sobre partes específicas do corpo que provocam particular excitação.

É pois este o tema do filme que os irmãos Foenkinos desenvolveram através de seis casais que se excitam e desfrutam o desejo através de outras tantas parafilias, apresentadas de uma forma diferente que nos divertem sem chocar, conseguindo um delicado equilíbrio nestes tempos modernos em que nem sempre se analisam conscientemente as escolhas ou as opções que tomamos na euforia da diferença que se pretende alcançar. As histórias são abordadas em tom de comédia que em certas alturas nos fazem rir com vontade e noutras, embora mais sombrias, mantêm um delicado humor em fundo, muito característico da comédia francesa inteligente que agrada, informa e diverte.

Todos os casais são pessoas absolutamente normais que desenvolvem estratégias ao sabor da sua preferência, não se destacando qualquer história relativamente às outras, donde a partilha com o espectador é absolutamente neutra não se distinguindo entre elas qualquer originalidade particular ou preferencial. Do ponto de vista formal, porém, a última história referente à antogonostofilia, prazer de ser filmado e de se ver no ato a olhar para a câmara para revisão futura, mereceria só por si uma longa-metragem desenvolvendo todas as implicações pessoais e sociais da eventual publicação daquele ato, que na história são apenas superficialmente citadas, embora se aceite a sua brevidade no conjunto global do filme.

Interessa também realçar que não são as “Fantasias” em si mesmo que nos fazem rir, mas antes a condição ridícula em que aqueles personagens caem (todos interpretados por atores e atrizes de grande talento) reféns de uma preferência sexual que não controlam e pela qual são inexoravelmente condicionados nos seus relacionamentos íntimos na busca do prazer. É um filme interessante, eventualmente não do agrado de todas as audiências, que se disfruta com gosto, humor e nos faz pensar na imensa fragilidade do ser humano.

Tem estreia em sala, prevista para dia 21 de Outubro

Classificação: 7 numa escala de 10

 

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