Sinopse
Seis casais, seis variações
de desejo, intimidade ... e fantasias. Dramatização, exibicionismo, excitação
pelo choro ou mesmo pela abstinência ... Quer esses casais reprimam ou assumem
suas fantasias, quer as compartilhem ou as silenciem, todos procuram a mesma
coisa: felicidade, tanto a sua como a do seu parceiro!
Opinião
por Artur Neves
Antes de analisar este filme
não quero deixar de referir o excelente trabalho que estes dois irmãos
argumentistas realizadores fizeram em 2017 com o filme “Ciúme”. Eles não têm um
grande curriculum cinematográfico sendo este “Fantasias” a sua terceira
realização no formato de longa-metragem, e posso compreender porquê,
considerando a dificuldade subjacente a um projeto que se propõe ilustrar um
sentimento humano de frustração e inveja como no caso do ciúme, que se centra
em prejudicar ou negar o sucesso alheio que queríamos desesperadamente que
fosse o nosso.
No caso presente as coisas
ainda se complicam mais. São seis histórias que ilustram outros tantos fetiches
humanos. “Fantasias”, de cariz sexual que ninguém se sente à-vontade para livremente
exteriorizar, ou sequer comentar se por ventura formos instados para o fazer,
mesmo que seja numa reunião de amigos. São seis, as parafilias ilustradas no
filme, das mais de 60 taras reconhecidamente existentes, em que o prazer carnal
pode acontecer sem que o comportamento sexual em causa implique penetração. Duma
maneira geral vale tudo, desde que exista mútuo consentimento e gozo
partilhado, podendo alguns comportamentos ser classificados como distorções da preferência
sexual e serem considerados doenças do foro psíquico. Podem também incluir
objetos, ou incidir sobre partes específicas do corpo que provocam particular
excitação.
É pois este o tema do filme
que os irmãos Foenkinos desenvolveram através de seis casais que se excitam e desfrutam
o desejo através de outras tantas parafilias, apresentadas de uma forma diferente
que nos divertem sem chocar, conseguindo um delicado equilíbrio nestes tempos
modernos em que nem sempre se analisam conscientemente as escolhas ou as opções
que tomamos na euforia da diferença que se pretende alcançar. As histórias são
abordadas em tom de comédia que em certas alturas nos fazem rir com vontade e
noutras, embora mais sombrias, mantêm um delicado humor em fundo, muito
característico da comédia francesa inteligente que agrada, informa e diverte.
Todos os casais são pessoas
absolutamente normais que desenvolvem estratégias ao sabor da sua preferência,
não se destacando qualquer história relativamente às outras, donde a partilha
com o espectador é absolutamente neutra não se distinguindo entre elas qualquer
originalidade particular ou preferencial. Do ponto de vista formal, porém, a última
história referente à antogonostofilia, prazer de ser filmado e de se ver no ato
a olhar para a câmara para revisão futura, mereceria só por si uma longa-metragem
desenvolvendo todas as implicações pessoais e sociais da eventual publicação
daquele ato, que na história são apenas superficialmente citadas, embora se
aceite a sua brevidade no conjunto global do filme.
Interessa também realçar que
não são as “Fantasias” em si mesmo que nos fazem rir, mas antes a condição
ridícula em que aqueles personagens caem (todos interpretados por atores e
atrizes de grande talento) reféns de uma preferência sexual que não controlam e
pela qual são inexoravelmente condicionados nos seus relacionamentos íntimos na
busca do prazer. É um filme interessante, eventualmente não do agrado de todas
as audiências, que se disfruta com gosto, humor e nos faz pensar na imensa
fragilidade do ser humano.
Tem estreia em sala,
prevista para dia 21 de Outubro
Classificação: 7 numa escala
de 10
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