Sinopse
Neïla Salah
(Camélia Jordana) é uma jovem de ascendência argelina que cresceu nos arredores
de Paris e sonha tornar-se advogada. Matriculada na prestigiada universidade
parisiense de Assas, Neila confronta-se, desde início, com Pierre Mazard
(Daniel Auteuil), um professor conhecido pelas suas provocações e
controvérsias.
Em busca de
redenção pública, Mazard aceita preparar Neïla para uma prestigiada competição
de discursos em que a sua universidade participa.
Ao mesmo tempo cínico e exigente, o professor poderia
vir a tornar-se o mentor de que a estudante necessita, mas para isso é preciso
que os dois sejam capazes de ultrapassar os seus preconceitos.
Opinião
por Artur Neves
A primeira questão que esta
história levanta é se são as palavras que contribuem para a formulação das ideias,
ou se pelo contrário, são as ideias que se servem da palavra para se revelar. A
resposta não é fácil, nem definitiva e caberá ao leitor encontrá-la, depois de
uma reflexão sobre o conteúdo deste filme.
Neïla Salah é uma jovem com
todas as naturais reservas de pertencer a uma família de imigrantes, embora o
seu nascimento em França lhe tenha conferido um sentimento de pertença a uma
comunidade diferente da sua. Não obstante, os seus amigos, o seu namorado e as
amigas da sua mãe que frequentam a sua casa, embora franceses ou residentes em
França, demonstram idênticas peculiaridades culturais que os identificam entre
os seus.
O problema começa quando ela
enfrenta a frequência do primeiro ano de um curso superior numa universidade
clássica cheia de tradições e muito particularmente, um determinado professor,
Pierre Mazard, francês genuíno por nascimento e herança familiar, que tanto
pela cadeira que ministra, como por sentimento e cultura, utiliza uma
sobranceria e um autoritarismo exacerbado nas relações com os outros, muito
particularmente os alunos, que precisam dos seus conhecimentos. Particularmente
os não franceses são os que sofrem mais de perto com o seu chauvinismo e a sua arrogância
cultural que choca de frente com Neïla Salah.
Destas duas personalidades
opostas, vai nascer uma ligação profissional improvável que fará deste filme
uma demonstração do “Poder da Palavra” no diálogo professor aluna, enumerando
as sucessivas e vastas referências literárias em que se baseiam os pressupostos
da utilidade da palavra como veículo de convencimento da razão, da argumentação
necessária para levarmos os outros a ouvir-nos e a seguir-nos nas suas
opiniões.
Yvan Attal é o realizador
israelita que consegue a proeza de tornar muito interessante um argumento com
muitas palavras, muito dialogado sobre a forma e os conteúdos da dicção, em que
a primeira é preponderante relativamente à segunda. Como Pierre Mazard afirma e
ensina nas suas aulas, a verdade não interessa, o importante é o modo, a forma
como se apresentam as razões.
Filme interessante, com a
ação focada na palavra, nas palavras, produzidas por uma representação de
personagens consistentes, particularmente no que concerne a Neïla Salah
(Camélia Jordana) que recebeu o Prémio de Melhor Atriz Revelação no festival de
Cannes 2017. Duma maneira geral sentimos alguma resistência aos filmes
franceses, mas este, quer pelo assunto como pela representação merece ser
visto. Recomendo.
Classificação: 7 numa escala
de 10