19 de fevereiro de 2019

Opinião – “Ervas Daninhas” de Kheiron


Sinopse

Waël (Kheiron), um antigo menino da rua, vive nos subúrbios parisienses, subsistindo através  de pequenas vigarices que comete com a ajuda de Monique (Catherine Deneuve), uma mulher  reformada que depende muito dele. Um dia, a vida de Waël sofre grande reviravolta, quando um amigo de Monique lhe oferece, por insistência dela, um trabalho no seu centro de crianças excluídas do sistema escolar. Pouco a pouco, Waël fica responsável por um grupo de seis adolescentes expulsos devido à falta de assiduidade, insolência e porte de armas. Do encontro explosivo com estas “ervas daninhas” vai florescer um verdadeiro milagre.

Opinião por Artur Neves

Kheiron é um ator, escritor e realizador que nos apresentou em 2015 “Ou Todos ou Nenhum” sobre a fuga de uma família iraniana após o Irão se ter transformado num estado religioso após a tomada do poder pelos ayatollahs, que teve a virtude de transformar um problema emergente e preocupante, o endurecimento da política Iraniana, numa história ligeira embora séria, com laivos de comédia, que abordava com sobriedade os novos problemas da sociedade iraniana.
Neste segundo filme de 2018 a expectativa era justificada, considerando que se tratava do problema da marginalidade juvenil num contexto de desacompanhamento familiar, justificado pela incerteza dos tempos que vivemos em que os objectivos a atingir, ou não existem, ou são de muito curto prazo, ou pura e simplesmente não se projectam no futuro de forma a constituírem uma forma de vida possível.
A história começa com a apresentação de um expediente levado a cabo por Waël (Kheiron) com a ajuda de Monique (Catherine Deneuve) para obterem o seu sustento, mas que são apanhados por um antigo amigo desta, quando o tentavam enganar; Victor (André Dussollier) que os convida para o seu projecto de recuperação de menores, no qual Waël a muito custo adere, embora posteriormente se venha a revelar uma boa solução e um bom trabalho.
Só que o desenvolvimento da acção é pouco credível, os rapazes e raparigas ao seu cuidado não são tão maus assim, nem tão pouco estão tão abandonados que necessitem da sua intervenção, exctuando um deles que por ser imigrado não fala a língua e gera maiores dificuldades de comunicação. Todavia, os protegidos são rostos sem história, nada se sabe acerca deles, exceto de uma das raparigas que por “artes mágicas” é irmã da rapariga, advogada de profissão, por quem Waël se enamora, embora com pouca expressão.
Depois, Catherine Deneuve, apresenta-se como uma sombra de si mesma, muito distante de Séverine Serizy de “Belle de Jour” (1967) de Luis Bunuel, representando uma reformada, convidada por Victor para secretária da organização e que posteriormente acaba “juntando os trapinhos” com ele mas sem qualquer relação com o objecto principal da história que se desenvolve penosamente. Para animar, ainda temos a denúncia e a armadilha de Waël a um malandreco que explorava um dos moços à sua guarda, mas resulta tudo muito chocho, muito simplista, algo piegas, que desvanece todas as expectativas iniciais. Não convence.

Classificação: 4 numa escala de 10

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